sábado, dezembro 24, 2005

Minhas micro-histórias de Natal

Que música poderia ser mais adequada para tocar em meio a um über-engarrafamento (para os padrões brasilienses, é bom ressaltar) em plena semana antes do Natal, logo em um dos estacionamentos do Conjunto Nacional? Estou presa em um estacionamento lotado, sem nenhum espacinhozinho, em meio de semana, em um horário em que normalmente o shopping nem ia estar tão cheio assim.

Eu vejo tias gordas e calorentas carregando o próprio peso em sacolas. Mães e filhos crianças e adolescentes que – é quase certo – que vão enfrentar o dilema entre gastar pouco e comprar aquilo que é legal porque é de grife. Namoradinhos que escondem entre beijos uma certa cara de preocupação em acertar o presente. Eu me vejo enlouquecida porque está quente, porque não tem nenhum lugar para eu parar o carro (até os flanelinhas fazem uma cara de impotência) e porque quero achar rápido o que Erasmo pediu.

Os parentes, até então, haviam pedido somente "paz mundial", um "forte abraço" e outras coisas mais simples de conseguir. E eu sei que virei adulta porque também não quero muito mais do que isso. Quero um forte abraço, quero paz e quero sair logo dali. Quero que parem com esses jingles do Fujioka e do Espírito de Natal da Brasil Telecom.

Para quem conhece o clipe de Everybody hurts, do REM, este bem que poderia ser o cenário para um remake, né não?
Mas algo bem mais alegrinho toca no carro lá da frente:

Uuuuuuuuuuuuuuuuuuuu... Don't worry, be happy

Inacreditável. Eu poderia jurar que esse é um mantra que o dono do carro colocou no toca-CDs para já poder sair de casa numa boa. Lista de afazeres: comprar o presente dos parentes, o cartão do amigo oculto do trabalho e levar o CD com Don't worry be happy tocando em loop para não enlouquecer no engarrafamento.

Em uma hora como essas, a canção não é um alento, nem uma obra de arte que traz esperança às nossas almas natalinas. É só uma música bacana, com um groove legal, tocando em um congestionamento de shopping. Foi exatamente o que pensei quando o Voyage velho da frente (com um adesivo escrito "coração boiadeiro" ou algo assim) começou a andar e eu consegui sair dali para um lugar menos cheio.

E levou menos do que o tempo necessário para a música terminar.
Com sorte, eu achei uma vaga entre os carros que se espremiam no coração de Brasília.
Don't worry, be happy. Merry Xmas. Feliz Natal.

2 comentários:

Quemel disse...

Pô, menina! Tu não para? Em plena nespera, digo véspera de Natal blogando...

Acho que tô conseguindo um presentão para os leitores da InfoAjuda.

Anônimo disse...

Sensacional!!!!