sábado, fevereiro 06, 2010

Uni-burqa

Então, meu, eu estava em São Paulo, no hotel, vendo tevê à noite quando foi exibido o comercial da Uniban.

Uniban, vamos lembrar, é aquela faculdade paulistana onde uma estudante foi hostilizada pelos colegas e quase agredida fisicamente porque ousou ir à aula de microvestido rosa-choque. Depois, pelo mesmo motivo, foi expulsa da instituição (que, posteriormente, voltou atrás e a readmitiu).

Absurdos de um país onde o curto, o justo e o decotado são regra na moda, né?

Eu não sabia que o comercial era da Uniban até o filme da propaganda acabar e exibir a logomarca da faculdade. Antes disso, estava meio pasmada com as condições de ensino do lugar: resumidamente, em dois anos, pode-se conseguir um diploma de graduação (a mensalidade é baratinha, fica a partir de R$ 199). Em um ano, vira-se especialista.

E, assim, uma tonelada de profissionais é atirada ao mercado de trabalho -- quase da mesma forma que uma criancinha é jogada na água por um pai que acredita que, assim, ela aprenderá a nadar mais rápido!

A modelo que explicava o funcionamento do curso era uma gracinha. Morena, mignon, pele impecável. O incrível é que seu figurino fez o maior sentido para mim quando a logo da Uniban apareceu na tela.

Seus cabelos escovados dividiam-se ao meio, naquele estilo que costumamos chamar de Maria Madalena arrependida. A roupa fazia um degradê de cinza: claro na camisa para dentro da saia; escuro na saia-lápis de comprimento na altura dos joelhos.

Num comercial de qualquer outra instituição de ensino, a roupa estaria perfeita: é o look de uma profissional correta, competente e disputada pelo mercado de trabalho.

Na propaganda da Uniban, porém, não deixou de me parecer meio sintomático do tipo de gente que a faculdade está disposta a receber. Quem é diferente não interessa.

Quer assistir ao vídeo? Então, clique aqui.

6 comentários:

Helga disse...

Olha.. minha opinião sobre este assunto não mudou: acho que agressores e agredida estavam errados. Um ato errado não justifica o outro. Minha pergunta continua sem resposta: pra que vai à uma faculdade? Qual o objetivo de alguém ir à uma faculdade? Digo: a roupa escolhida pela moça foi proposital (todas dela eram nesse estilo). Mas se ela fosse jantar pela primeira vez com a família do namorado dela, escolheria essa roupa? Ou numa entrevista de emprego?

A moça já faz o gênero de quem escolhe tal roupa pra ir à faculdade e no dia em questão continuou as provocações puxando mais o vestido pra cima como quem diz "vcs acham q isso é curto? Não, ISSO aqui é que é curto. Vão fazer o que?". Novamente: atitudes dos dois lados são igualmente condenáveis.

Vendo o vídeo: Uaaaaaaaaaaaaaaau. Estou com medo dessa faculdade! hahahah em três anos uma pós!?!!?!? Como assim, Bial?? Ok, nem entrarei no mérito do tempo do estudo nessa faculdade. Então, não vi outras propagandas da Uniban pra comparar se eles agiram querendo dar recado subliminar aos acontecimentos recentes ou não. Achei a propaganda regular, sem mais nem menos mesmo.

Mari Ceratti disse...

Oi, Helga!

A verdade é que acho essa história da Geisy uma sucessão de despropósitos. Despropositada foi a reação dos colegas, assim como a da faculdade e a da mídia -- que acabou dando à moça (hoje lipada, siliconada e bem-cuidada) uma celebridade totalmente sem medida. Tem noção do que é essa história? Menina vai para a faculdade de vestido rosa e, três meses depois, vira rainha de bateria e faz sessão de fotos imitando Lady Gaga, entre mil outras coisas amplamente cobertas pelos jornais. Ela não fez nada e não produziu nada. Só foi pra aula de microvestido. É demais pra mim. rs.

O comercial me chamou a atenção por ir ao ar tão pouco tempo depois do episódio e apresentar a Uniban de um jeito totalmente diferente do que vimos no caso Geisy. De faculdade bizarra a instituição que ajuda a democratizar o ensino superior e o acesso ao mercado de trabalho. Difícil comprar essa história, né? E o figurino me chamou demais a atenção. A modelo é o total oposto da moça que, no fim das contas, tornou a faculdade famosa.

Quanto ao vestido... eu não usaria, mas me seguro para não tentar julgar quem curte o estilo. Já conheci muita gente bacana, apesar de aparentemente vulgar, e muito mau-caráter escondido atrás de roupinhas style.

Beijo! Mari

Helga disse...

Sim, são muitos 15 minutos de fama pra uma coisa tão desimportante.

Bom, o comercial é uma maneira da faculdade tentar recuperar seu eixo. Ou encontrar um. :P

O vestido: por que reação tão quente pra somente um vestido? Por que chegou a este ponto? dizer que foi SÓ o vestido é recortar tudo num episódio isolado, o que de fato não é. Ir com o tal vestido pra festinha? Blz. Pra show? Blz. Pra balada? Blz. Pra batizado? Não. Pra igreja? Não. Pra entrevista de emprego? Não. Pra faculdade? Também não.

Pra faculdade o ideal é usar uma roupa bonita mas confortável e tal. Afinal.. qual é o objetivo de se ir a uma faculdade?!

Mari Ceratti disse...

Concordo com o que você disse lá em cima: a reação dos colegas de faculdade da moça foi a de quem lida de forma medíocre (pra não dizer condenável) com o próprio desejo. Ao mesmo tempo, microvestido rosa não está na lista de roupas que eu escolheria para ir à faculdade (aliás, não escolheria microvestido rosa para ir a lugar algum, rsrsrsrs).

Pô, faculdade e trabalho são lugares onde se vai pra estudar e labutar, ora! Se eu tiver que ficar me preocupando com a saia que está levantando, com o cabelo caindo na cara ou com o sapato altíssimo que não me deixa correr, não faço mais nada direito.

O que me chama mais atenção nesse caso da Geisy é o seguinte: como discutir dress code é complexo no Brasil! Há muito tempo se criou aqui uma cultura de que a brasileira gosta de mostrar o corpo (é um negócio que se retroalimenta nas lojas, nas revistas e na aceitação de certas peças) e de fato se conhece um monte de mulheres que vivem numa boa alternando o curto, o justo e o decotado. Que se sentem confortáveis indo assim à faculdade
e a outros lugares.

Não estou dizendo que acho legal ou certo exibir o corpitcho em qualquer lugar, mas sim que, no Brasil, existem vários fatores capazes de tornar os limites da moda e do vestir muuuuuuito flexíveis. Eventualmente, essa flexibilidade dá pano para manga, como na história da moça Geisy.

Helga disse...

Pra mim essa questão da Geisi é uma só: Pra que alguém vai à faculdade/uni?? E só.

Nós duas concordamos então, fortemente, :D que ir com saltão, decote, roupa curta etc mais atrapalha do que ajuda/favorece. Com certeza a menina que usa tais roupas quer causar um certo efeito e buscar olhares etc.

Dress code no Brasil é complexo, realmente. Não creio que exista só aqui. Na Europa/EUA/Japão as mulheres querem igualdade e por isso mesmo precisam cobrir o que as torna diferentes, OU ficar mais sóbrias/neutras. Lá elas escolheram negar suas curvas. O desejo não combina com a razão, lá eles dão prioridade pra razão, aqui damos prioridade pro desejo.

Sobre o olhar que as mulheres tem sobre elas mesmas (e os homens tem delas) é mencionado neste post . O tanto que devemos usar um decote, uma transparência, uma saia curta pra causar um efeito.

O melhor afrodisíaco não é a inteligência? Então não é exatamente esperto usar roupas que valorizem as curvas, e sim ler, estudar e caçar cultura e estimular o melhor de si e dos outros. Né?

Acompanho, agora cada vez menos, o Manual do cafajeste, do tal do Cafa de São Paulo. Ele fica besta com as atitudes das mulheres/meninas que parecem ter tão pouco discernimento (ou querem brincar sem saber direito as regras do jogo). Ultimamente ele tem indicado às tais meninas (que não querem mais pegar e ficar) ler, estudar etc. Menos corpo e mais cabeça.

Quando botam a tal menina do vestido como rainha de bateria e aplaudem ela (e pior: param pra assistir isso na tv) no fundo concordam que a beleza/desejo/forma arredondada etc etc deve ser mais importante que estudo/discussões/trabalho. É o mesmo motivo pelo qual temos novelas no horário que há mais pessoas vendo tv, e não programas instrutivos. O foco cultural é que está todo errado mesmo.

Há pouco que posso fazer, minha opinião parece não fazer muito sucesso mesmo entre a maioria das pessoas. :P

Mari Ceratti disse...

A história como aconteceu é toda muito absurda, com um detalhe: ela ensina que, sim, é possível obter atenção e sucesso usando-se apenas uma peça de roupa ou apostando-se num detalhe de corpo. E enquanto houver quem faça sucesso desse jeito, sempre haverá quem queira imitar. Enfim...

Ainda falando nisso, tô com uma revista aqui em casa em que uma das manchetes fala das trapalhadas da Uniban no gerenciamento da crise. Algo do gênero "quem mandou não deixar a tarefa na mão de comunicadores?". Não li o texto todo ainda, mas comento assim que puder.