O bloco onde cheguei é em uma das quadras mais antigas da cidade – se não me engano, divide espaço com alguns daqueles prédios baixinhos com apartamentos no andar térreo. Apesar da fachada bem tratada, da grama verdinha no jardim, é impossível não reparar no jeito ultra-retrô da arquitetura, do chão de mármore, das portas de vidro no pilotis. E ali que pessoas recém-saídas da adolescência (e dali pra diante) se reúnem como devem ter feito seus pais, ou como fizeram centenas de jovens nos tempos em que Brasília se tornava um colosso de concreto aparente em meio a poeira vermelha do cerrado.
As portas de vidro tremem ao som da musica que vem de lá de cima. E preciso subir as escadas – o prédio não tem elevador – para que aquela pulsação se sinta na pele e nos ouvidos. Todos os apartamentos de uma das prumadas foram transformados em festa, como as que Brasília devia ter para aquela turma meio entediada que procurava o que fazer em uma cidade ainda em construção. O único lugar mais vazio, e ainda não é nem meia noite, é a salinha que recebera uma bateria, uma guitarra, um baixo, uma banda. E quase uma centena (presumo) de gente. «Aqui é maior do que o UK Brasil», ironiza o dono do apartamento, em um cartaz feito no computador e impresso em folha A4.
Quando a banda se apresentou, alguém já havia tratado de providenciar uma iluminação como as das boates. Como as das boates de mocas, bem entendido: vermelho. E como avo ficando os rostos, pescoços, barcos e pernas daqueles que entram sem nenhuma organização, só para ver a banda. Qualquer um ali pode saber o que ela vai tocar.
Tem Pearl Jam, U2, Cake, Led Zeppelin. Mas também tem Paralamas, Legião Urbana, Capital Inicial, Plebe Rude. É de propósito que a gente lê que tem hits clássicos de todos eles. E não é só porque – como dizem – ah, a festa é em Brasília, então tem que tocar as bandas daqui.A banda sabe, na verdade, que quando cantar os primeiros versos, algo vai tomar conta de quem estiver ali. Uma sensação estranha de que, naquele bloco, naquele momento, tudo é uma noite no final dos anos 70. Num tempo em que, em volta daquele prédio retro da Asa Sul, não havia muito mais do que areia vermelha. E uma profunda falta do que fazer.
No ar que circula difícil na salinha, não é só o suor das pessoas que esta em suspensão. Eu quase posso ver uma fumacinha de rock and roll (eu disse rock and roll, e não maconha) pairando sobre o ambiente. Em volta, os que se esgoelam como se fosse a nossa ultima noite.Em que ano estamos mesmo?
Um comentário:
Eu fui nessa festa....a primeira edição dela saiu até na Folha de S. Paulo...
:o)
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