Os camelos que a gente vê no zoológico, assim como todos os bichos de lá, são de uma tristeza infinita. Os de Genipabu (RN), então – aqueles que os turistas pagam R$ 30 para poder passear –, são piores ainda.
Em geral, são essas as representações que a gente tem dos pobres animais, né não?
É por isso que digo: esqueça os camelos como você os conhece e vá assistir (se ainda não viu) ao documentário Camelos também choram, belíssima co-produção feita entre a Mongólia e a Alemanha. Já saiu em DVD.
O filme não só mostra os camelos mais lindos que já vi na vida (saudáveis, fortes, com um pêlo brilhante, comprido, maravilhoso). Também emociona pelo roteiro, uma história simples e ao mesmo tempo grandiosa. Os personagens são os integrantes de uma família de pastores da Mongólia. Eles vivem no sul do Deserto de Gobi, no meio do nada, criando cabritos e camelos. Uma das fêmeas, após um parto complicado, dá à luz um camelo albino, que é imediatamente rejeitado.
Os pastores, que dão a impressão de criar camelos há milênios, tentam todas as técnicas possíveis para tentar aproximar a mãe do filho. Chegam a amarrar as pernas da mãe para que ela não fuja enquanto o bebê-camelo tenta alcançar as tetas. Não há jeito. Um filhote criado sem o leite e o calor da mãe tem grandes chances de morrer (de fome e de tristeza) ou de se tornar algo parecido com um bichinho de pelúcia. Mas um filhote morto ou transformado em brinquedo é algo sem nenhuma serventia para uma família que depende economicamente dos animais.
A solução é tentar um ritual conduzido por um violinista. Para isso, dois dos filhos da família seguem (de camelo) até um vilarejo para pedir que um músico os visite no local onde vivem. O resto não dá para dizer – porque quando o filme chega neste ponto é porque já está perto do fim.
Ver um filme assim é uma oportunidade de entrar em contato com algo totalmente diferente de qualquer coisa que a gente possa ver na nossa realidade ocidental, brasileira e urbana. Ali, naquele deserto, vive-se com pouco (a maior parte dos mongóis ainda é nômade), mas o cenário não parece ser de pobreza. A cabana é simples, mas aparenta ter sido construída com engenho suficiente para manter todo mundo aquecido e protegido dos ventos do deserto. A mobília, apesar de simples, revela alguns trabalhos de arte muito legais.
O cotidiano ali também não permite muitas escolhas, mas também não parece triste: é acordar, fazer rituais, cuidar das crianças, dos cabritos, dos camelos, comprar, vender e só. De vez em quando, uns lamas vão ao local e todos juntos fazem oferendas aos espíritos para que tenham saúde e tempo bom. Veja: as únicas coisas que importam ali são saúde e tempo bom, e não bobagens como aparência, status, magreza, ostentação e coisas do tipo. Imagina, eles não devem saber quem são Madonna, Tom Cruise, Ronaldinho – chega a ser comovente a cena em que os filhos se divertem assistindo a um programa soviético de 1969 na TV.
Claro que, apesar de bela, a realidade ali não é perfeita. E os pastores estão longe de serem considerados bons selvagens. Em uma cena, a mãe é tosca a ponto de amarrar a filha mais nova para que ela não se aproxime do fogão (ora, bebês e camelos não são bem a mesma coisa. hehe). Também não deve haver muito espaço para conversas superprofundas, romantismo ou carinho entre os casais do clã. Mas as coisas são assim mesmo, nada é ideal, certo?
A fotografia bacana e a presença do moleque mais figura da história dos documentários (o nome dele é Ugna) também contam pontos a favor do filme. É isso.
Em geral, são essas as representações que a gente tem dos pobres animais, né não?
É por isso que digo: esqueça os camelos como você os conhece e vá assistir (se ainda não viu) ao documentário Camelos também choram, belíssima co-produção feita entre a Mongólia e a Alemanha. Já saiu em DVD.
O filme não só mostra os camelos mais lindos que já vi na vida (saudáveis, fortes, com um pêlo brilhante, comprido, maravilhoso). Também emociona pelo roteiro, uma história simples e ao mesmo tempo grandiosa. Os personagens são os integrantes de uma família de pastores da Mongólia. Eles vivem no sul do Deserto de Gobi, no meio do nada, criando cabritos e camelos. Uma das fêmeas, após um parto complicado, dá à luz um camelo albino, que é imediatamente rejeitado.
Os pastores, que dão a impressão de criar camelos há milênios, tentam todas as técnicas possíveis para tentar aproximar a mãe do filho. Chegam a amarrar as pernas da mãe para que ela não fuja enquanto o bebê-camelo tenta alcançar as tetas. Não há jeito. Um filhote criado sem o leite e o calor da mãe tem grandes chances de morrer (de fome e de tristeza) ou de se tornar algo parecido com um bichinho de pelúcia. Mas um filhote morto ou transformado em brinquedo é algo sem nenhuma serventia para uma família que depende economicamente dos animais.
A solução é tentar um ritual conduzido por um violinista. Para isso, dois dos filhos da família seguem (de camelo) até um vilarejo para pedir que um músico os visite no local onde vivem. O resto não dá para dizer – porque quando o filme chega neste ponto é porque já está perto do fim.
Ver um filme assim é uma oportunidade de entrar em contato com algo totalmente diferente de qualquer coisa que a gente possa ver na nossa realidade ocidental, brasileira e urbana. Ali, naquele deserto, vive-se com pouco (a maior parte dos mongóis ainda é nômade), mas o cenário não parece ser de pobreza. A cabana é simples, mas aparenta ter sido construída com engenho suficiente para manter todo mundo aquecido e protegido dos ventos do deserto. A mobília, apesar de simples, revela alguns trabalhos de arte muito legais.
O cotidiano ali também não permite muitas escolhas, mas também não parece triste: é acordar, fazer rituais, cuidar das crianças, dos cabritos, dos camelos, comprar, vender e só. De vez em quando, uns lamas vão ao local e todos juntos fazem oferendas aos espíritos para que tenham saúde e tempo bom. Veja: as únicas coisas que importam ali são saúde e tempo bom, e não bobagens como aparência, status, magreza, ostentação e coisas do tipo. Imagina, eles não devem saber quem são Madonna, Tom Cruise, Ronaldinho – chega a ser comovente a cena em que os filhos se divertem assistindo a um programa soviético de 1969 na TV.
Claro que, apesar de bela, a realidade ali não é perfeita. E os pastores estão longe de serem considerados bons selvagens. Em uma cena, a mãe é tosca a ponto de amarrar a filha mais nova para que ela não se aproxime do fogão (ora, bebês e camelos não são bem a mesma coisa. hehe). Também não deve haver muito espaço para conversas superprofundas, romantismo ou carinho entre os casais do clã. Mas as coisas são assim mesmo, nada é ideal, certo?
A fotografia bacana e a presença do moleque mais figura da história dos documentários (o nome dele é Ugna) também contam pontos a favor do filme. É isso.