sexta-feira, janeiro 30, 2009

Pedaços de apuração

No Pedaços de Apuração, pretendo mostrar as histórias que não saíram na reportagem por total falta de espaço. Hoje, apresento o depoimento de Acácio Costa Calil, mineiro, professor de geografia da rede pública do Distrito Federal e sócio – junto com a irmã, Lucimar – do Pamonhão Kalú (assim mesmo, com acento). O misto de restaurante e lanchonete, que nasceu para ser especializado em produtos de milho, é um dos poucos de Brasília que conseguem se manter há mais de 30 anos. Detalhe para quem não veio aqui ainda: fundada há 48 anos e nove meses, a cidade tem um mercado gastronômico volátil, em que muitos lugares abrem e fecham em pouco tempo.

Descobri a coxinha de milho produzida lá durante a pesquisa para uma reportagem publicada nesta sexta-feira. Custa R$ 2,50 e vem quentinha. Tem recheio farto, com milho comum (e não o de lata, que tem sabor totalmente diferente), um pouco de frango desfiado e cebolinha numa quantidade mínima (nem precisei catá-la, hehe). O sabor surpreende porque o tempero é feito para valorizar o grão. Sei, no entanto, que muita gente vai resistir a experimentar por conta da atmosfera da casa. Digamos que o Kalú não é exatamente um lugar para levar um gato ou uma gata num primeiro encontro. Digo mais: a dupla de irmãos se beneficiaria tremendamente se pusesse tudo abaixo e fizesse um lugar moderninho e descolex especializado em coxinhas de milho.

A história contada pelo Acácio é bacana porque revela um pouco o que era viver em Brasília e no Brasil nos anos 1970, época de fundação do restaurante.
Se o Edilson me mandar fotos do salgado, eu ponho no ar mais tarde.

“A coxinha de milho é uma receita que minha mãe, Luzia - que infelizmente não vive mais - criou em fevereiro de 1973. Naquele tempo, Brasília quase não tinha opções de lazer. Primeiro, havia o Conjunto Nacional, que era exclusivamente para fazer compras. Aliás, o Conjunto, que hoje é enorme, teve três fases de expansão. Além dele, havia o Gilberto Salomão, o Beirute, o Pamonhão, o Food’s - também na 110 Sul – e só.

Nosso cardápio tinha pamonha, curau e milho cozido. Depois, minha mãe pensou em fazer coxinha, um petisco servido em todos os bares. E pensou: ‘Minha especialidade não é milho? Então, vou botar milho na coxinha’. No primeiro dia, ela não vendeu nenhuma. Meu pai, libanês criado em Minas, brigou tanto com ela... Dizia: ‘Desde quando milho tem coxa?’.
Mas dona Luzia, que era goiana e conheceu meu pai em Minas, era persistente. No segundo dia, ela fritou um monte e resolveu que ia distribuir para quem fosse lá comprar outras coisas. As pessoas começaram a achar gostoso e a comprar.

A massa é a tradicional de coxinha, não muito grossa, e o recheio tem milho, frango e cebolinha. Nunca mexemos na receita. Quem comeu há 20, 30 anos, e experimentar hoje vai sentir o mesmo sabor. E o preço sempre variou entre US$ 1 e US$ 1,20. Cotamos assim, em dólar, porque quando meus pais montaram a loja a inflação era muito alta e a moeda mudava a toda hora.

O milho vem de Nerópolis, em Goiás, de uma fazenda de produção irrigada que fornece só para nós durante o ano inteiro, inclusive na entressafra. O curioso é que, quando o Pamonhão começou, era difícil ter milho o ano inteiro, porque a produção irrigada só se popularizou lá pelo fim dos anos 70 e nos anos 80. Antes disso, quando chegava junho, julho ou agosto, a gente tinha de fechar por pura falta de milho e dar férias coletivas. Uma vez, em 1974, ficamos 30 ou 40 dias sem. Foi por isso que resolvemos diversificar o cardápio.

Na época, o Pamonhão ficava na 110 Sul, em frente ao Beirute, e era um point de fim de noite. Só fechava junto com o Beirute – se ele quisesse fechar às seis da manhã, a gente agüentava até lá. E muita gente da música de Brasília passou por aqui. O Digão, dos Raimundos, adorava a coxinha; os meninos do Capital Inicial vinham também, assim como o Oswaldo Montenegro. Aliás, há muitos anos que o Montenegro me deve uma conta”.

PAMONHÃO KALÚ
105 Norte, Bloco D, Loja 3; 3273-7967. De terça a domingo, das 11h30 às 23h.

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Homework: Obama

A Jill, que está me ensinando a escrever melhor em inglês, me convenceu de que seria legal publicar esse artigo, originalmente um dever de casa, no blog. Como eu gostei pra caramba de como ficou o texto, mostro-o aqui hoje, com as datas atualizadas. Fiz na última segunda-feira, sem consultar muita coisa e antes de ler notícias tipo esta. A foto é de Jack Gruber, do jornal USA Today. Como diriam os norte-americanos, enjoy... :-)


Inauguration Day 2009: Obama on the reviewing stand

The nearly-messianic inauguration speech delivered by the 44th president of the United States, Barack Obama, in Washington D.C. in January 20th dazzled hundreds of millions of people all over the world, including countless Brazilians who stood by TV screens in every possible place: at work, at stores that sell electronic devices, at cafes, just to mention a few. At the United States Capitol, Barack Obama presented a speech that was clearly inspired by the ideals of Abraham Lincoln and in the braveness of all the anonymous American citizens throughout history.

Written by 27-year-old Jon Favreau, known as Obama's mind reader, the words of new United States president were absolutely comprehensive. Both the author and the former senator tackled each and every issue that currently matter for the American population: economic crisis, homeland security, health care and education systems, environment and infrastructure, among many others. Meanwhile, in Brazil, many journalists were thrilled; friends celebrated; people paid close attention, and some Brazilians even shed a few tears provoked by a unique combination of words that expressed Obama’s will to lead a new era of peace, prosperity, and racial reconciliation.

Although it was fascinating to see Obama’s statements in Washington, unfortunately one of the reasons for such tremendous joy among Brazilians is the fact that not everyone understands one critical thing: the economic policy discreetly advocated by the new American president in his speech may not benefit the South American country. Obama’s State-oriented, protectionist approach to economy is extremely likely to have a negative effect in the Brazilian energy sector. The sentence “We will harness the sun and the winds and the soil to fuel our cars” suggests that, with a little help in the shape of subsidies, American ethanol producers can become more aggressive, whereas the Brazilian government will have to continue their uphill struggle to commercialize sugarcane ethanol in the United States.

Articles in the press describe the alleged empathy that the new secretary of agriculture, Tom Wilsack, has for the Brazilian biofuel. That is rather suspicious, since he is from Iowa, the greatest corn ethanol producer in the US. Also, the presidential concern regarding the search of environmentally correct energy sources is something to be applauded. But I will only believe in Wilsack’s empathy and in Obama’s concern only when I see the United States government lower the subsidies given to the local ethanol producers, who are much less efficient than the Brazilian ones. I have a feeling that I’ll have to be patient about it.

The government, parts of the media and the people of Brazil should not be blinded by Obama’s speeches and promises and pay more attention to their ethanol commercialization, which is extremely important for the country. Thousands of job openings may be created and millions of dollars can be earned if that market is strenghtened. Brazil’s government must be better prepared to defend its claim in the World Trade Organization (WTO). In a phone call with president Luiz Inácio Lula da Silva last Monday, Barack Obama affirmed his interest in increasing cooperation with Brazil in the energy sector. Further meetings scheduled between representatives from both countries will reveal whether the new US president is sincere or if his words are mere lip service.

quarta-feira, janeiro 28, 2009

Fontanarrosa, el Negro

Hoje, quarta-feira, dia mais punk de toda a semana, vou de post curtinho só para não ficar longe demais do blog.

Se não tivesse voltado a estudar espanhol (para escrever melhor nessa língua), não sei se algum dia eu teria ouvido falar do argentino Roberto "El Negro" Fontanarrosa (1944-2007), nascido em Rosario, escritor, quadrinista, humorista e um fã incontrolável de futebol. Desde que fui apresentada à obra do homem por meio de um vídeo no Youtube mandado pela prof., achei tudo muito bacana.

Neste site, dá para conhecer melhor a vida e a galeria de personagens do Fontanarrosa, que inclui figuras bizarras como o matador de aluguel Boogie, o Oleoso, o qual lembra demais alguns dos papéis do Schwarzenegger.

Aqui, você pode assistir a uma dramatização ótima do conto Viejo con Árbol, exibida no Canal 7 da Argentina. O som não está assim, uma Brastemp, mas dá para entender a conversa facilmente.

E, finalmente, neste link, está a primeira parte de uma palestra de que ele participou num congresso sobre a língua espanhola. O tema escolhido pelo humorista -- anistia aos palavrões -- provocou muitas risadas e algum desconforto, já que havia presidentes e tudo no auditório. Vou aproveitar que estou indicando o vídeo a vocês e assistir também. :-)

Amanhã eu escrevo mais. Beijos!

terça-feira, janeiro 27, 2009

Cecília

Acabou de dar na tevê: 24 graus em Brasília. Como é julho, o céu não tem uma nuvem, o vento lá fora é louco e a umidade deve estar em 25%, 30%, ou menos até do que isso. Aqui em casa, apesar de bater um sol, eu sinto um frio tão animal que vou ter de listar tudo o que estou usando. Estou tipo um mulambo. Ridículo: duas meias normais, uma meia-calça, uma calça bailarina, uma camiseta, uma blusa de moletom, uma manta de alpaca que meu pai trouxe da Bolívia e, pqp de asa!, não sei mais o que eu faço para não congelar. Vou tentar descobrir onde guardei mesmo as luvinhas da viagem para Bariloche, aquelas com forro de carneiro.

Quer dizer, eu poderia tentar fazer isso se eu também não estivesse num cansaço animal. Não consigo mais. Vou ter de ir para a cama. Ou fico aqui? Pronto: vou ficar aqui e ver tevê só mais um pouco. Ou, se eu animar, vou até a banca comprar chicletes. Podia rolar um Trident roxo para passar esse bafão que nenhuma pasta de dentes resolve. Minha dieta não proíbe.

Eu não sei se digo que esse é um dos dias mais felizes da minha vida ou um dos mais inúteis. Acordei às 9h21 com o barulho da obra lá fora e me pesei: 41,5Kg para 1,68m. Fera. Só que, como sou uma estúpida, resolvi me presentear com a caixinha de morangos que mamis trouxe do Oba ontem. Comi inteira. Não pus nem adoçante de tão bons que estavam. Morango, uma unidade de 7g: 5 calorias. Isso vezes 24 dá 120 calorias.

Aí, vim para o computador ler os blogs das meninas, escrever alguma coisa no meu, botar umas fotos no fotolog, entrar no MSN para descobrir se a Amanda, minha irmã mais velha, conseguiu a passagem para vir para cá na semana que vem, baixar o disco do Fall Out Boy e escolher um modelo de iPod para minha mãe trazer do Canadá quando ela for para lá. Quando vi, já eram quase 13h30 e fui tomada por uma mega-fome. Pensei nas 120 calorias do café-da-manhã, que deveriam me sustentar pelo dia todo, e suspirei. Eu tinha duas opções: saquinho de sopa de queijo da Herbalife (91 calorias), salada (x calorias, dependendo dos ingredientes) ou suco de limão (com adoçante, zero caloria). Como nem Marisa nem ninguém está aqui hoje para lavar folhas e tal, preferi o suquinho. Foram uns três copos para encher bem.

Resolvi esperar o sol ficar mais fraco para ir malhar, e aí fiquei fazendo uma série de coisas. Quer dizer, fiquei tentando fazê-las, porque me deu uma leseira monstra e um frio do cão. Tentei pegar uma revista, mas fiquei muito devagar para ler. Dependendo do que for, eu paro a frase e volto para o começo. Entendi a primeira palavra? Ok. Entendi a segunda? Ok. E assim vou juntando tudo até formar frases. Só que é uma droga ler assim. É tipo voltar pros meus 6 anos. Mais tarde, se eu conseguir levantar para ligar o computador, vou perguntar lá no fórum se isso é normal.

Rezei para pedir perdão por não ter visitado a minha avó ontem (ela prepara praticamente um café colonial alegando que estou muito magra), para pedir que a Amanda chegue logo e para que eu consiga perder rápido os quilos que faltam. Andei um pouquinho, parei na porta no quarto da Amanda, fiquei olhando um tempão para as 31 latinhas de cerveja na estante dela e chorei, mas quase nada, de saudade. Antes de ir para o sofá, montei o meu mulambo com todas as peças de roupa que achei no armário. Pensei que seria altamente irônico se agora, que eu estou quase podendo vestir um short, uma regata ou um biquíni sem ficar com as pelancas todas aparecendo, eu tiver que andar assim por causa do frio que sinto. Caraca, essa casa é muito gelada.

Agora são 24 graus em Brasília, quase 17h30, e eu não fiz nada a tarde inteira. Tive uma manhã fera compensada por uma tarde inútil e estou sem coragem nem para ir à banca para comprar chicletes. Preciso decidir o que fazer. Mas acho que não vai fazer mal se eu virar assim de lado, me cobrir com a manta, fechar o olho e finalmente me esquecer de tudo.

Cecília compete com Érika pelo posto de personagem mais triste da minha criação.

segunda-feira, janeiro 26, 2009

Yael Naim



Eu adoraria fazer um post gigantesco hoje (bolei umas histórias legais), mas não parei desde cedo, nem vou parar agora. Ainda há coisas trabalhosas a fazer. :-P

Deixo-os na companhia da cantora franco-israelense Yael Naïm, que descobri esses dias, não me lembro como. A moça fez com Toxic, de Britney Spears, mais ou menos o que o maranhense Zeca Baleiro fez com Proibida para Mim, do Charlie Brown Jr. Vocês vão ver os vídeos ou é melhor eu antecipar? :-)

Beijos.

domingo, janeiro 25, 2009

Léo

Meu primeiro personagem masculino. Enjoy.

Não repara não, hoje eu tô meio devagar, me deu uma dor de cabeça estranha mais cedo, e olha que eu nem estou para ficar menstruado. Huahuahauhauahuahuahuahauhauahuahauhauhauahuahuahuahuahauhauahuahuahuahauauhauhauhauhauahuaua... arf, arf, arf. Foi mal, eu tinha que fazer essa brincadeira. É nisso que dá ter três irmãs, mãe, primas, uma sobrinha, namorada, duas cunhadas, uma sogra supernova e umas 30 amigas. Já saí muito para comprar absorvente interno, externo, pequeno, médio, grande e até o hospitalar, que é gigante. Fiz tanto isso que perdi a vergonha. Fiquei mais sem-vergonha do que já era. Também conheço os efeitos colaterais do Ponstan, do Buscopan e de todos os remédios para cólica. Sei na prática o efeito de cada uma das alterações hormonais pelas quais a mulher passa num mês. Praticamente tirei um ph.D. em ginecologia.

Não virei ginecologista, mas esse negócio de viver com um monte de mulheres em todos os lugares, com todas elas chamando Léééo pra cá, Léééo pra lá, me mostrou uma série de coisas importantes, que vão muuuuito além do papo médico e daquele conselho de dar um tempo pra moça quando ela estiver com TPM.

Tenho formação de programador e desenvolvedor para a web e, curiosamente, fui parar numa empresa onde esse setor é 100% masculino e coalhado de nerds que, apesar de serem pessoas de caráter excelente, não pegam nem gripe. Num dia em que a minha namorada foi comigo a uma festa de fim de ano do povo do trabalho, deu o diagnóstico completo.

- Mô, tá explicado. Olha o visual deles! Já vi sapato social com meia esporte branca, camisa xadrez azul pra dentro da calça, com camiseta amarela por baixo, zíper aberto... Eles acham isso bonito? – ela me disse, segurando o riso.
- Você ainda não viu nada – retruquei.
- Eles sabem conversar, pelo menos?

Tive de explicar: não, não sabem. Esses aí precisavam de, sei lá, um curso de convivência com as mulheres. Primeiro, para sentir que elas não mordem. Basta saber observar, chegar, perguntar, falar, escutar, responder e não ser mala. Segundo, para aprender que usar meia esporte branca com sapato de trabalho, pagar cofrinho, ter pelos saindo pela gola da camisa e limpar o ouvido com tampinha de caneta Bic não são opções válidas. Sobre isso, qualquer uma vai saber orientar. Ninguém precisa ser metrossexual – a propósito, ô, palavrinha ridícula – para entender. Terceiro, para aprender que há mais na vida do que conversar sobre CVS, SVN, MVC, TDD, games, RPG, putaria online e outras coisas nerds bem típicas. Aliás, de putaria online esses caras entendem. De vida real, zero.

Outra coisa que o convívio com mulheres me ensinou, e na porrada, foi a diferença básica entre ser um cara maneiro, com quem tanto dá para bater papo numa boa quanto dar uns pegas, e virar um irmão ou um amiguinho gay. Porque existem diferenças entre esses dois últimos. O amigo bonzinho é aquele apaixonado que ouve todas as agruras da menina com o maior amor e só. Nunca vai ter uma chance real com ela, a não ser num momento de carência louca da moça – e olhe lá. Mané total. O outro é aquele com quem dá para falar de homem, fazer fofoca e compras no shopping, ir numa balada de electro cheia de drags, dançar até o chão e sentar no colinho porque nada acontece. Comigo não tem essa não. Sentou no colo, já era.

Mas até eu entender essas diferenças levou um tempo. É preciso saber a hora certa de falar e de ouvir, não ficar babando, fazer rir e, quando necessário, saber ter uma certa... Uma certa malandragem, não sei se essa é a palavra. Tem que saber a hora de encerrar o assunto quando ela começar a se lamuriar por causa do cara que você quer que saia de cena. Muita gente que eu conheço está acordando para essas coisas. Outros ainda nem se deram conta e estão virando irmãozinhos. Eu ainda penso que, um dia, se eu perder a paciência com o trabalho e não quiser fazer um concurso, ainda posso ganhar uma grana dando noções de sobrevivência a pessoas como aquelas lá da empresa. Posso dar umas palestras, umas aulas. Taí uma idéia. E o mais legal é que aprendi tudo isso de graça.

Enquete alhures

Originalmente, direito do consumidor não seria um tópico a ser abordado no MCDQEPD. Mas resolvi abrir um post sobre isso porque a questão é importante.

O Blog do Consumidor, da minha companheira de front Naiobe Quelem, pergunta: quem de vocês, ao tentar trocar uma mercadoria, foi surpreendido com a resposta de que seria necessário devolver o produto à loja para que ele fosse submetido a uma análise técnica?

Por meio da resposta, o Procon do DF e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios saberão o quanto a prática -- ilegal -- virou algo corriqueiro no Distrito Federal. Leitores de outras cidades e estados também estão convidados a contar suas histórias nos comentários.

Eu já passei por isso e antecipo: bater o pé nessa situação vale a pena!

sexta-feira, janeiro 23, 2009

Procedimento de sobrevivência na chuva

Ofereço, como cortesia, uma sugestão de procedimento destinada àqueles que precisam andar na rua nessa época de chuvas fortes e imprevisíveis (para quem ainda não veio a Brasília, é bom saber que temos seis meses de aguaceiro e mais seis de deserto) e, shit!, esqueceram o guarda-chuva em casa (ou nem sequer têm um). Informo que essa quase mandinga foi testada e comprovada por esta blogueira.


Você vai precisar de:

* Uma vestimenta de tecido opaco, escuro e não superleve, de preferência complementada por um casaco imponente, tipo um bom blazer.

* Um par de meias.

* Uma nota de R$ 10.

* Um leque (opcional).


Vista a roupa, coloque o par de meias carinhosamente na bolsa e confira se a nota de R$ 10 está na carteira. Quando você já estiver na rua e a chuva começar a apertar, coloque o casaco sobre a cabeça como se ele fosse um chador (se for mulher) ou um daqueles panos usados pelos xeiques árabes (se for homem). Se estiver com pressa, nada de dar uma de fracote e se esconder debaixo de uma marquise! Segure a onda e continue caminhando até avistar o primeiro vendedor de sombrinhas.

Nessa hora, retire a nota de R$ 10 da carteira e escolha a sombrinha de sua preferência (as melhores são as de cores fortes, tipo roxo ou laranja, porque essas ninguém esquece por aí). Peça ao vendedor para testá-la duas vezes e, nesse momento, eleve seu pensamento aos céus. No momento em que você abrir o guarda-chuva pela terceira vez (para usá-lo de fato) e voltar a andar na calçada molhada, você verá: a chuva parará dois segundos depois. Um sol alucinante aparecerá entre as nuvens ainda cinzentas e vai começar a fazer um calor africano. Hora de maldizer as roupas pesadas sobre o corpo e, ao mesmo tempo, lembrar que quem sai de roupa branca e levinha em época de chuva se ferra. Se você tiver um leque, abane-se!

Você também pode tirar o casaco e arregaçar as mangas da roupa, mas em hipótese nenhuma retire as meias sobressalentes da bolsa! Os deuses da chuva me disseram que os ímpios que o fazem recebem uma severa punição: no aguaceiro seguinte, molham irremediavelmente os sapatos e as meias que estão nos pés.

quinta-feira, janeiro 22, 2009

Todos querem ver Gisele

Coisas que só um dia de folga de plantão pode proporcionar: cozinhar, dormir depois do almoço e poder ver tudo o que eu quiser na tevê. Fiquei com o GNT Fashion sobre a São Paulo Fashion Week (SPFW), que está para mim como a Copa do Mundo está para os fãs de futebol. Anunciava-se, além dos desfiles, uma entrevista exclusiva com a mega-über-top-model-plus Gisele Bündchen, cada vez mais linda e magra, que desfilou três roupitchas para a Colcci (a marca é uma bobagem, na minha opinião; o desfile, idem; mas como a moça vem, todo mundo fica doido).

A maior parte das reportagens de tevê feitas com a moça é anunciada assim: primeiro, faz-se a chamada por uns quatro ou cinco blocos para segurar a audiência (todos querem ver Gisele). Depois, exibe-se o material, que normalmente é pífio, pois são tantos os assuntos proibidos que torna-se difícil elaborar uma lista decente de perguntas. Resultado: é muito difícil ver a modelo falar qualquer coisa que preste. Não é que ela seja burra (se fosse, não teria vencido como venceu) ou pouco eloquente (sei lá, não a conheço pessoalmente). Mas é uma entrevistada quase impossível, pelo que já vi até hoje. Ninguém é perfeito.

Tanto isso é verdade que a tal da exclusiva que a modelo deu para o GNT Fashion não era exatamente uma entrevista (infelizmente, não achei o vídeo no Youtube). Estava mais para um bate-papo como o de duas colegas que se encontram no banheiro do trabalho, sabe como é? Gisele não tem certeza de quem é Carmen Miranda, homenageada da SPFW ("É a das bananas?", perguntou) e também não sabe quem ela gostaria que desenhasse seu vestido de casamento (esse "não" eu até entendo, é para evitar especulações). Também revelou (uh! emoção) que tem dois iPods, um para música brasileira e outro para internacional. E que, no de repertório estrangeiro, o campeão de audiência tem sido John Mayer (pelo menos, tem bom gosto).

A entrevistadora ainda mencionou uma pesquisa que fez no Google e no Youtube para ver quantas menções havia para o nome "Gisele Bündchen¨. E quis saber se ela já havia feito o mesmo. A top garantiu que não. "Tem muita coisa? É coisa boa ou ruim?", respondeu. Fiquei especulando o que eu perguntaria se tivesse reportagem para fazer com a Gisele.

Minha reação suspirante à não-entrevista em questão foi procurar na internet coisas interessantes que já tenham sido veiculadas com a top falando. Descobri que ela se sai melhor em pautas (pautas?) bobinhas, que não exijam perguntas espinhosas e que, portanto, não a ponham em condição de vulnerabilidade. Achei um vídeo aqui e outro aqui. Também encontrei essa tentativa da revista GQ americana de fazer um trabalho mais sensual -- em termos de imagens e de texto também. A reportagem está em inglês e permite perceber como o repórter suou -- não só diante da visão da musa de underwear, mas também para transformar aquele fiapo de entrevista em um material digno de leitura. Recomendo.

Passar horas procurando por material sobre Gisele só para escrever no blog... taí outra coisa que só um dia de folga pode proporcionar. :-)

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Lálálá, estou apaixonada*

Update em 1º/5/2009: você quer saber se realmente está apaixonada? Então clique aqui para ler um post sobre o assunto.

Inacreditável, minha gente. Estou há três anos sem acompanhar nenhuma novela. Passei ao largo dos arranca-rabos de Flora e Donatela, da pegação entre Bebel e Olavo e outras histórias que prendem milhões de brasileiros (e de gente em outros países também!) em frente ao ecrã (adoro essa palavra). E aí, na última segunda-feira, parei 15 minutos para assistir à nova produção das oito na Globo: Caminho das Índias, de Glória Perez. O mais surreal é que tive enorme dificuldade de me segurar diante da tevê durante essa pequena quantidade de tempo. A cada vez que via algo horrível, me levantava para ir embora, mas algo mais forte me impedia (a vontade de sofrer, será? hehe). A novela é ruim, ruim demais, ruim pra cacete!!!!

Depois de criar núcleos que oscilavam entre Rio de Janeiro e Miami (em América) e Rio de Janeiro e Fez, no Marrocos (em O Clone), a autora teve a ideia de fazer uma história que viajasse entre Rio e Mumbai. Botou a Juliana Paes para ser atendente de telemarketing, o Márcio Garcia para ser um intocável que consegue se formar nos Estados Unidos (peraí, achei que os representantes dessa casta não tivessem sequer direito a documentos)... e os dois vão se amar sem beijos, tal qual num filme de Bollywood.

Caminho das Índias tenta imitar a estética dos filmes pop indianos, não consegue e ainda faz pior: tem texto e direção tão bizarros que corrói o trabalho de alguns dos nossos melhores atores. Eu não conseguia imaginar a Laura Cardoso, a Eliane Giardini, o Alexandre Borges ou o Lima Duarte atuando mal. Pois finalmente vi tudo isso.

Não consigo lembrar muito bem dos diálogos, mas sei que em algum momento a personagem da Juliana Paes diz: "Um amor que começa no Taj é um amor para sempre". Para depois repetir romanticamente, com uma dancinha, o nome do amado: "Bahuan, Bahuan...". Aaaaaaaaaaaaaargh!!! Ah, lembrei também que nesse mesmo episódio eles se encontraram umas cinco vezes. Em Mumbai (nem em Brasília isso acontece).

Pelo andar da carruagem (ou seria melhor do elefante?), creio que ainda vou ficar pelo menos mais uns 10 meses longe do folhetim das oito.


* Esse título é a tradução do que a mocinha do vídeo abaixo diz na primeira cena. O vídeo pertence a um episódio dos Simpsons em que a família hospeda o indiano do mercadinho em casa. Tanto o vídeo quanto o episódio completo são sensacionais. Recomendo muito.

terça-feira, janeiro 20, 2009

Tesouros da web 2


Outro serviço bacanésimo que encontrei esses dias é o site do Google onde é possível achar fotos da Life. Há imagens maravilhosas que vão desde 1750 até hoje. Na foto acima, uma exibição de modas da Maison Dior, em Paris, em 1962, quando os desfiles tinham outra cara...

Tesouros da web

Essa matéria sobre os quadros do Museu do Prado, em Madri (Espanha), que podem ser vistos em detalhes saiu hoje no caderno de cultura do Correio Braziliense e passo adiante porque a proposta do serviço é muito legal.

Quem já foi a esse museu, especialmente nos dias em que ele é gratuito, sabe o quanto ele lota e o quanto a busca por olhar algumas das pinturas mais importantes da história da arte pode ser meio enjoadinha. Observar detalhes desses quadros de perto, então, nem pensar, por causa daquela distância regulamentar básica que a segurança dos museus sempre impõe.

Para ver tudo, é preciso ter o software do Google Earth instalado na máquina. Eu ainda não baixei o programa, mas pretendo fazê-lo o quanto antes. :-)


Por dentro do Prado

Catorze obras-primas do Museu do Prado, em Madri, podem ser visitadas detalhadamente, graças a fotografia digital e a recursos de microscópio

Juliana Leão Coelho
Especial para o Correio

O Museu Nacional do Prado, em Madri, uma das maiores pinacotecas do mundo, tornou-se pioneiro em oferecer na internet imagens de seus melhores quadros em mega-alta definição. O projeto, recém-lançado no Google Earth, é fruto de acordo entre o buscador Google e o museu com objetivo de globalizar o acesso à arte. Para começar, foram escolhidas 14 obras-primas entre os 1.300 quadros expostos no Prado.

Usando a mesma tecnologia com que o Google Earth fotografa qualquer canto do planeta, foram tiradas 8.200 fotografias parciais, que depois foram montadas como num quebra-cabeças. O processo levou três meses para fotografar e outro tanto para mesclar com técnicas de microscópio e de atlas. O efeito de aproximação foi surpreendente, de uma nitidez 1.400 vezes maior que a de uma câmera digital de 10 megapixels.

Agora, podem-se ver detalhes que, antes, escapavam ao olho humano, o que é um presente para pesquisadores e amantes da arte em geral. Não somente são mostrados os pormenores secundários da tela, como também os traços e as pinceladas típicas de cada artista, além de pequenos truques. Por outro lado, os efeitos do tempo revelam-se no verniz esquartejado.

O Prado comemora, este ano, 190 anos de existência e entra de cheio no século 21 “com essa ferramenta deslumbrante, de um realismo prodigioso e que pretende universalizar a arte”, entusiasmou-se o diretor do museu, Miguel Zugaza. Os 14 quadros considerados imprescindíveis são de mestres europeus dos séculos 16 ao 19. Entre os espanhóis, destacam As Meninas, de Velásquez, em que ele retrata as princesinhas e a si próprio em segundo plano; o nobre Cavalheiro com a Mão no Peito, de El Greco; e o 3 de Maio, em que Goya mostra os horrores da invasão napoleônica.

Da escola italiana, estão a belíssima Anunciação, de Fra Angélico; o portrait de O Cardeal, de Rafaello; o imponente Imperador Carlos V, de Tiziano; além da delicada Imaculada Conceição, de Tiépolo. Da Alemanha, foi escolhido o autorretrato do belíssimo Albrecht Dürer. Os pintores holandeses e belgas da escola flamenga têm destaque especial. A Crucificação, de Juan de Flandes, e O Descendimento da Cruz, de Roger van der Weyden, são obras-primas da pintura religiosa. Nesse último, pode-se agora apreciar uma lágrima no olho de São João.

Também na tela As Três Graças, em que Rubens pinta as deusas da dança, do charme e da criatividade nuas, aparecem finos detalhes como uma abelha sobre uma rosa. Do gênio Rembrandt, está o quadro Artemisa, para o qual ele teria usado a própria mulher como modelo.

Criação do mundo
A obra mais esmiuçada será, sem dúvida, o tríptico O Jardim das Delícias Terrenas, pintado em 1505 por Hieronymus von Bosch (El Bosco). É uma das peças mais fascinantes da história da arte pelo simbolismo e genialidade e a que mais atrai os visitantes do Prado. Foi comprado pelo rei espanhol Felipe II, que o colocou em seu quarto, no palácio de El Escorial. Representa, nos laterais, a criação do mundo e o inferno. No centro, está o paraíso terrestre com todo tipo de prazeres carnais, desde o sexo livre à gula, descritos com símbolos vívidos e grande desinibição. Daí o enigma do quadro, pois contrapõe-se totalmente à sociedade cristã ultrabeata do século 16. Quando fechado, o tríptico mostra a Terra no terceiro dia da criação e a frase do salmo 33: “Ele o disse, e tudo foi feito. Ele mandou, e tudo foi criado”. Ao abri-lo, na Gênese à esquerda, aparece Deus com Adão e Eva.

O centro é a loucura total, a luxúria desenfreada, porém, bela e colorida. O gozo e o prazer são efêmeros e etéreos, como borbulhas, morangos e flores. As pessoas, todas nuas, não aparentam sentimento de culpa. Segundo vários autores, a Igreja só teria aceitado o quadro por ser uma utopia, pois mostra criaturas fantásticas, animais e plantas extraterrestres. Abundam o sarcasmo e o grotesco, além da crença medieval em bruxarias. O objetivo da obra seria moralizador, pois faz uma crítica ácida a essa humanidade pecadora, segundo a tradição medieval de deformar para dar lições de moral.

Para outros, Bosch (El Bosco em espanhol) era um gênio ultra-avançado para sua época, que conseguiu burlar a Igreja com sua fantasia. O quadro tem mil interpretações e é considerada a primeira grande obra surreal da história, cinco séculos antes de Breton, Dalí, Éluard, Ernst ou Tanguy.

MUSEU VIRTUAL
Para acessar as imagens no site www.google.es/prado, basta ativar a capa 3D dentro do Google Earth, clicar sobre o edifício do Prado e depois sobre cada quadro.

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Selma

Eu sempre fui uma fã de livros de viagens. Devorei todos os Lonely Planet que pude, todos os Frommer’s, alguns Michelin e todos os guias com aquelas crianças remelentas na capa. E sou uma colecionadora daquelas revistinhas culturais que vêm em qualquer bom jornal do mundo. Mas, por mais que se leia tudo isso, sempre existe alguma coisa que só os moradores do local conhecem, alguma oportunidade ou roubada que só eles sabem identificar. Eu falo assim porque cheguei a Brasília ontem à tarde para uma reunião hoje na universidade e me aconteceu algo interessante na noite passada. O que eu faço? Sou professora no Rio de Janeiro. Sempre tive uma enorme curiosidade de conhecer Brasília, mas o timing nunca dava certo. Agora vou vir aqui durante um bom tempo porque estou participando de um grupo de trabalho na UnB. Daqui a pouco eu te conto mais sobre isso.


Pois bem: cheguei aqui com ótimas indicações, todas lidas na internet, a respeito de um barzinho no meio da Asa Sul. Como ninguém conhecido ia poder me acompanhar, botei minha roupa social e fui sozinha. Saí do hotel, peguei um táxi e, quando cheguei, vi que o lugar era realmente um charme. Detalhe número um: estava cedo demais. Nenhum brasiliense chega nesse bar às oito e pouco da noite. Só havia um casal de garçons e um rapaz lindíssimo, nos seus 30 anos, sentado numa banqueta, afinando um violão. Escolhi uma mesa e, em determinado momento, vi que ele estava me olhando. Achei isso muito normal. Tenho 45 anos e continuo absolutamente vistosa. Sempre fui assim: morenona, altona, com peitão e bundão. Claro que, depois de uma determinada idade, a pele e os cabelos já não são mais essas coisas, mas ainda assim sinto-me muito bem. Desde que me separei, há três anos, recebo cantadas de homens de todas as idades. Repito: todas.


Cumprimentei o músico e começamos a conversar, cada um no seu canto. Ele me explicou que tinha vindo de Goiânia e estava tocando ali havia três semanas, sempre às quartas-feiras. Deu um risinho e disse que o repertório era surpresa. Pedi uma taça de espumante, um sanduíche parecido com um croque monsieur e deixei-o falando, falando, falando. Quando vi, tinha dado a hora da apresentação começar. Mesmo assim, não havia quase ninguém no lugar. O pessoal só começou a chegar umas três músicas depois. O curioso é que ninguém se sentava no interior do bar, que, por sinal, é elegantíssimo. Iam todos para uma espécie de varanda, um puxadinho ao ar livre, sabe?


O violonista era fantástico. Além de bonito, era afinado, tinha voz de cantor da Motown. E, como todas as pessoas que entravam iam direto para o tal do puxadinho, sem dar a menor bola para a tal da música ao vivo, criou-se uma situação interessante: ele cantou para mim o show inteiro. Olhava para a partitura e olhava para mim. Senti que ele começou a mandar recados por meio das canções. Cantou várias músicas românticas do Buena Vista Social Club, de Caetano Veloso, do Marvin Gaye, do Rod Stewart. E, no intervalo, veio direto para a minha mesa. Falou várias bobagens. Muito facinho esse cantor. Só me faltava essa: vir para Brasília para uma reunião e arrumar um casinho de uma noite.


A gracinha continuou na segunda metade do show. Para cada música típica de repertório de bar, ele vinha com algo absolutamente inusitado e sensual. Eu, que já estava na terceira taça de espumante, me perguntei se a lingerie estava decente e se a depilação estava em dia. As respostas foram, respectivamente, sim (nada de calcinha bege) e sim. Ah, meu Deus, e cada olhar. Comecei a contar quanto faltaria para o fim da apresentação.


Quando ele finalmente chegou, o rapazinho começou a agradecer por todos que tinham ido lá naquela noite (a verdade era que ninguém tinha dado a mínima; descobri que o pessoal vai para a varanda para não ter de pagar couvert artístico, pode? Isso, só quem é local sabe). Avisou que aquela música era a última da noite e uma de suas preferidas. E aí me dei conta de que ele não tinha cantado nada nem de Chico nem de Vinicius. Pensei que seria um final maravilhoso para um show assim, romântico. Pois lá veio ele com Chico e Vinicius.

"Tem certos dias
Em que eu penso em minha gente
E sinto assim
Todo o meu peito se apertar..."

Juro que não entendi. O homem me passa o show inteiro falando em magia, paixão e sedução e, no final, me vem com “gente humilde, que vontade de chorar”? E o que ele cantaria depois que a nossa transa acabasse? Trocando em Miúdos? Credo. Perdi a vontade na hora. No meio da música, fui ao banheiro, chamei um táxi, fechei a conta e fim. Até esperei ele terminar, mas sem ânimo algum. Inventei um mal súbito, dei-lhe um beijinho no rosto e fui embora. Ele ainda me perguntou se eu não lhe daria o meu telefone, mas desconversei. Adoro os homens, adoro namorar e não tenho nenhum preconceito contra histórias de uma noite. Sei que viver esse tipo de coisa vai ficar mais difícil daqui pra frente. Ao mesmo tempo, sei de uma coisa: o peito é meu, a bunda é minha, a pele é minha. E só dou tudo isso a quem tem um mínimo de coerência.

domingo, janeiro 18, 2009

It's raining, man




Sabor de sábado

Meu plano para este sábado incluía ter um tempinho para escrever no blog. No entanto, acabei ficando tão pouco em casa (entre o momento de acordar e agora, uma meia hora, no máximo) que só deu tempo para responder um comentário, tomar banho e sair de novo. Em compensação, vi, ouvi e experimentei várias coisas legais na rua e registrei inúmeras idéias de textos e fotos para colocar aqui. Achei que seria legal deixar uma dica ou outra para quem já está na cidade ou pretende vir a Brasília em breve.

Quem vem do Recife, de Fortaleza, Natal, Aracaju, Salvador, Teresina ou Belém pode pular essa. Quem está aqui já conhece ou precisa conhecer esse lugar. E quem ainda virá de outras cidades não pode ignorar de jeito nenhum o Boteco, na 406 Sul. Foi inaugurado no segundo semestre do ano passado e ganhou fama muito rapidamente entre os boêmios daqui por inúmeros motivos bons e dois ruins. Entre os bons, está a decoração incrível, o atendimento gentil (artigo de luxo nessa cidade) e os petiscos inacreditáveis (pense em coxinhas de camarão e caranguejo, empadinhas de queijo do reino e outras fofuras). Em compensação, o colarinho do chope ocupa meia caldereta (pelo que li, é uma espécie de regra da casa, que estava para se tornar mais flexível depois de várias reclamações feitas pelos freqüentadores).

O outro aspecto chato tem a ver com o fato de o bar ter ficado tão querido: o lugar está sempre, todos os dias, invariavelmente lotado. Ou se chega às 18h ou nunca mais se consegue mesa. Por via das dúvidas, quem vai à noite deve dar uma olhada rápida no movimento antes mesmo de estacionar o carro. Se estiver com fila, esqueça. Já dei meia-volta durante tantas noites que acabei escolhendo outro horário para matar a saudade de lá: o do almoço. Pode-se fazer isso às sextas, aos sábados e aos domingos. Na sexta, a partir das 12h. No restante do fim de semana, a partir das 11h30. De segunda a quinta, é só à noite mesmo, das 17h em diante.

Nesse horário, a freqüência não é a mesma da do período da noite. É tão tranqüilo que dá para escolher a mesa. Há muita gente com família e criança e várias mesas com uma galera nos seus 45 ou 50 anos. Como não animei de beber (medinho da lei seca), não pude comprovar se realmente tornou-se possível que o colarinho do chope venha ao gosto do freguês. O legal é que provei uma receita que estava me intrigando havia semanas: a tal da paella de cabrito. Gente, bom demais.

A preparação é como a de uma paella comum, com muito açafrão, só que sem os frutos do mar. No lugar deles, vêm vários pedaços desfiados de cabrito e de uma lingüiça ótima. Não tenho muito mais o que descrever. A paella vem fumegando numa cumbuca pequena e a porção é individual, mas bem-servida. Quem tem ou está (como eu) com estômago míni pode dividir o prato e ainda provar mais alguma coisa do cardápio. Vale a pena. E o preço, R$ 12,90, é bem acessível, outra raridade nesta capital.


BOTECO
406 Sul, Bl. D, Lj. 35; 3443-4344. De segunda a quinta, das 17h à 1h. Sexta, das 12h às 2h. Sábado, das 11h30 às 2h. Domingo, das 11h30 à 1h.

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Observação entomológica número 1


Duas fotos que tirei lá em casa num dia de bobeira me fizeram pensar (num momento de mais bobeira ainda, é claro) sobre quem teria a existência mais dramática: os insetos que voam em volta das lâmpadas ou a cigarra da fábula de La Fontaine. Não sei de quem sinto mais pena.
A cigarra, como o autor faz questão de deixar claro, é uma louca irresponsável que, depois de não guardar comida para o inverno, ainda se humilha diante da formiga e definha aos poucos, até morrer. Já os bichinhos não precisam pensar em estoque. Devem se abastecer com micróbios coletados em qualquer lugar.

Os insetos da luz passam por um processo de auto-destruição que me faz lembrar de todos os casos de pessoas que já se acabaram em raves porque o ecstasy não bateu bem. Pelo menos na minha casa, eles vivem uma noite só. Chegam, voam, voam e voam desesperadamente, da mesma forma que alguém tomado pela droga dança, dança, dança e surta de calor. Na manhã seguinte, os insetos (assim como os que sucumbem aos comprimidinhos) estão estatelados no chão, murchos da silva, completamente ferrados, com as asas ressecadas pelo sol. Ao menos, morreram fazendo o que sabiam, e não pedindo clemência — é o que gosto de pensar.

Esteticamente falando, os voadores da lâmpada não só não causam nenhum asco como são muito mais legais. Eu não tinha a menor noção disso até o dia em que encontrei o espécime da foto, com umas manchas brancas incríveis na parte de baixo. Aproveitei que ele já estava morto mesmo e fiquei horas reparando nele. Só senti falta de um microscópio.

Depois dessa observação, pensei, medi, pesei. Contra si, os insetos da lâmpada apresentam apenas o fato de não terem um nome específico para eles. Naveguei no Google usando todas as palavras-chave que pude e não encontrei um link sequer capaz de me dizer que espécie é essa. Várias pessoas que conheço chamam-nas de bruxinhas, mas eu quero um nome apropriado, científico, pô. A cigarra da ficção até tem nome, mas sua feiúra e seu lento fim são incomparavelmente trágicos. Ô, vidinha mais fdp.

Frase do dia

De Glória Kalil à reportagem do Fashion Rio, no GNT. A moça perguntava que tendências de moda horrorosas -- tipo calça skinny, sandália gladiador ou calça sarouel -- teriam ainda fôlego para mais algumas temporadas:
"A calça sarouel é uma peça realmente democrática: consegue ficar horrível em todo mundo".
Fiquei ainda mais fã da Glória Kalil.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Não

Em mil ocasiões, eu li teorias (todas opinativas e nada científicas, é bom avisar) sobre a incapacidade dos brasileiros de dizer não. Segundo os tais textos, nossa reação varia entre enrolar (falar que sim, mas depois apresentar uma desculpa qualquer para desistir), dar um perdido (por exemplo, prometer que vai ligar e, depois, nunca mais fazê-lo) ou deixar a coisa no ar (“vamos ver” é uma frase ótima para isso). Até para isso nossa famosa criatividade nos ajuda: supostamente, sabemos vetar, por limites ou manifestar nosso desinteresse sem causar mágoas imediatas ou passar por malvados.

O curioso é que, recentemente, me dei conta de que tem muita gente, cada vez mais gente, aliás, dizendo “não”. Mais estranho ainda: a palavra nunca é usada no sentido para o qual ela existe. Essa é a definição do Houaiss: “Advérbio. Expressa negação como recusa absoluta a uma pergunta ou resposta; como recusa qualificada às situações anteriores; como contestação seguida de nova versão à pergunta ou resposta”. Não para por aí. Recomendo que deem uma olhada no dicionário para ver o texto completo, com exemplos e tal.

O “não” tal qual eu tenho ouvido por aí virou uma bizarra muleta de linguagem. Uma introdução a qualquer frase. Para usar uma definição nerd, se incorporou à função fática da comunicação (vejam aqui um texto simplinho sobre o assunto). Passou a ser usado mais ou menos da forma como os americanos usam o “It’s like”, e os franceses, o “Pffffffff” (pense num francês mal-humorado bufando). Não sei se é um comportamento brasileiro ou puramente brasiliense. Quem é de outras cidades pode dar uma opinião lá nos comentários. Observem e me digam.

No último sábado, quando já estava com vontade de escrever sobre isso, achei o exemplo ideal – até para mostrar que esse uso torto do “não” pode causar sobrancelhas levantadas, mal-entendidos, etc. Estava numa sorveteria perto de casa com uma galera. Como ainda ia chegar mais uma pessoa e ela não teria onde se sentar, minha amiga pediu uma à moça da mesa ao lado. A resposta:

- Não... Pode sim, claro!

Em um milésimo de segundo, minha companheira de mesa abriu um olhão como quem estivesse tentando entender se ia ou não conseguir a tal cadeira.

Senão vejamos: a jovem do nosso lado era uma louca, esquizofrênica e contraditória? Quereria ela sacanear gratuitamente a minha amiga? A entonação da primeira palavra era completamente diferente do resto da frase para tentar comprovar alguma das questões anteriores? Negativo para as três perguntas. O “não” estava mesmo deslocado do resto da fala. A maior prova disso é que a moça nos cedeu rapidinho a cadeira.

Tenho vários outros exemplos que vou ouvindo no trabalho e em conversas outras, mas vou usar só esse mesmo para o texto não ficar muito grande (são quase 2 da madrugada e amanhã preciso acordar cedo). Acho que me fiz entender.

Seria esse um vício de linguagem dos novos tempos? Um substituto light à feiura do gerundismo (“Não vai estar dando para estar rolando”, etc.) que se infiltrou na língua nacional por meio dos manuais de telemarketing? Um novo motivo para os nossos estudiosos escreverem textos e mais textos? Por enquanto, fico com uma resposta supostamente à brasileira: veremos. Agora, preciso dormir.

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Em instantes...

...Mais um texto novo aqui. Demorei para escrever porque o trabalho hoje foi longo e puxado. Enquanto isso, divirtam-se com Feist (a música é My Moon My Man).

terça-feira, janeiro 13, 2009

Arnica

Depois da faculdade, Érika tinha exatamente uma hora para almoçar em casa. Hoje, pelo menos, não ia comer sozinha: tinha a companhia do irmão. Depois, hora de pegar o busão na parada em frente ao McDonalds e correr para o estágio na Esplanada dos Ministérios.

— Por que o seu prato tem vagem, cenoura, abóbora e frango? — perguntou ela, num muxoxo.
— Porque sou mais velho e melhor — retrucou o jovem.
— Você acha bonito ser assim, mala sem alça desse jeito? — respondeu ela, quase rindo.
— Tô de sacanagem, pô. Tá tudo na assadeira, dentro do forno — disse ele, de boca cheia.
— Ah, bom. Só tinha visto arroz, feijão e couve no fogão.

O quase riso diante da falsa canalhice do irmão mais velho não é qualquer bobagem. É o primeiro esboço de algum senso de humor depois de 11 semanas e dois dias perfeitamente riscáveis do calendário. Esse foi o intervalo de tempo entre o dia em que o (agora ex) namorado de Érika foi embora da cidade e o dia do almoço composto por arroz, feijão, couve refogada, frango e legumes assados.

Onze semanas e 48 horas antes, o moço havia ido para Salvador depois de aceitar uma proposta de trabalho. Desde então, nunca mandou uma carta, cartão-postal, e-mail, mensagem de MSN, scrap de Orkut, nada. Tampouco respondeu aos muitos apelos da garota. Atendeu a um telefonema uma vez, para dizer: “Daqui a pouco, te ligo de volta”. Nunca mais. Depois de oito meses de namoro, sem motivo aparente, transformou um coração de 21 anos em purê. Palhaço.

O desdobramento da história foi mais ou menos assim: desde então, a moça chora, chora, chora, come chocolate, chora, pergunta o que fez de errado, chora, busca respostas no I ching online, chora, demora para completar as listas de exercícios da faculdade, chora mais, tem dificuldade para dormir e para acordar (um dia sim, o outro também), chora, pede colo de mãe e chora. Desistiu de procurar o boçal, mas ainda não deixou de parar de pensar na história. Pelo menos, já conseguiu esboçar um risinho.

Uma hora depois, pegou a linha que leva da W3 Norte à Esplanada. Achou um lugar perto da janela. Encostou a cabeça no vidro e não agüentou. Capotou por sabe lá quantos minutos. Acordou num pulo, com algo vagamente parecido com um bicho caindo no seu colo. Abriu os olhos e viu que, na verdade, o tal bicho era um vegetal.

— É a arniiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiica. Cura dor de cabeça, dor na mão, dor no pé, dor nas costas, febre alta, ferida aberta. É arniiiiiiica, minha gente — gritava o homem de voz bêbada, enquanto jogava raízes da planta para os passageiros pegarem — Vocês podem levar, mas agradeço qualquer contribuição que puderem dar — continuou.
— Puta que o pariu. Enfia essa arnica no cu, meu filho— murmurou a moça (boca suja, ela, não?).

Ela olhou em volta e viu que já havia passado a hora de sair do ônibus. Devia ter descido duas paradas antes. Vejam bem: devia. Porque querer, ela não queria era nada. Nada de andar de ônibus, nada de estágio em help desk de ministério, nada de nada. Queria era sumir.

Catou a bolsa, o galho de arnica e desceu. O tempo tinha virado em questão de minutos e uma chuva grossa caía no centro da cidade. Érika pisou na calçada. Molhou os sapatos, as meias e a barra das calças. Pensou no tanto que teria que andar até o trabalho (ainda bem que não estava atrasada) e deu um suspiro. Respirou fundo de novo. O olho se encheu de lágrimas.

— Bosta de vida — pensou, enquanto abria a sombrinha guardada na bolsa.

Assim que achou a primeira lata de lixo, foi lá e jogou fora o pedaço de arnica. Pensou que, para aplacar o que sentia, não bastava só uma raiz. Nem uma planta completa. Nem um jardim inteiro.

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Lorena

Na minha lista de desejos para 2009, eu coloquei um DVD do Pedro Paulo & Matheus, uma passagem de avião para a Disney, um cabelo igual ao da Anahí, do RBD, um tocador de MP3, um gato amarelo de verdade e um caderninho que possa servir de diário, entre outras coisas que toda garota de 13 anos merece ter. Comprar um DVD do Pedro Paulo & Matheus não é difícil. Eu até poderia comprar um pirata, é a coisa mais fácil do mundo, mas não tenho o aparelho. Minha mãe já prometeu que, quando terminar de pagar a tevê nova, o tocador de DVD vai ser a próxima compra lá de casa. Já o MP3 eu posso ganhar de aniversário, acho que não é muito caro. Mas vou ter que esperar até meu aniversário, em outubro.

Conseguir a passagem para a Disney e o cabelão da Anahí é um pouco mais difícil. Minha mãe já pediu desculpas por não poder me mandar para lá neste ano, nem no ano que vem e, talvez, nem no ano que vem que vem. Mas eu sei que vou ter a vida inteira para ir. Minha vontade é de abraçar o Mickey até um enjoar da cara do outro. Até lá, sei que também vou ter quem faça meu cabelo todos os dias. A amiga da minha mãe lá do salão de beleza explicou que ninguém acorda como a Anahí, assim, perfeita. Haja baby liss. Não sei se contei que minha mãe é manicure aqui na Asa Norte. Minhas unhas estão garantidas pelo resto da vida. Ontem ela fez essas florzinhas aqui para mim, olha.

O desejo mais fácil de realizar foi o do diário. Ontem eu comprei esse daqui. Acordei cedo, peguei ônibus e fui com uma galera até a Água Mineral para nadar, pegar um sol — aliás, torrar no sol. Nossa, quente demais. Quando todo mundo começou a fritar, a gente veio a pé mesmo no Extra, que é pertinho, porque tem ar-condicionado. Vi uns DVDs que estavam passando nas tevês — um deles, com uma mulher horrorosa, um palito, com um coque ridículo, só a maquiagem salvava. Comprei meu caderno. E o povo fez uma vaquinha para comprar um potão de sorvete napolitano maravilhoso e umas colheres dessas de plástico. A gente saiu, fez uma roda e tomou o sorvete, que derreteu naquele sol. Ficou todo mundo meio lambuzado, com sorvete escorrendo até nos braços, mas eu adorei. Principalmente porque fiquei ao lado do Deco. Ai, maravilhoso.

Escolhi um caderno da Pucca porque ela tem uma coisa que parece comigo: quando está perto do menino que ela gosta, faz uma bobagem atrás da outra, tipo dar porrada nele. Putz, o Deco é perfeito, só o Kaká consegue ser mais perfeito. Mas ele só gosta de jumenta, tipo a menina que ele tá namorando agora. Nunca vi igual. Dois jumentos. Será que ele tem conserto?

Passei o resto do dia ontem me perguntando isso. Depois, anotei tudo num código que inventei para a minha mãe, a minha irmã mais nova e, principalmente, a anta da namorada do Deco, que estuda lá na sala, não ficarem sabendo. Foi um dia bom. Não precisei usar uniforme, nem esperar até a minha mãe ir embora do salão, peguei um bronze, nadei, tomei sorvete, comprei um diário e ainda olhei para o meu gatinho o tempo inteiro. Amanhã tem escola de novo. Não que eu me incomode com ela. Mas todos os dias poderiam ser assim, né não?

domingo, janeiro 11, 2009

Lua


Só para não perder o hábito! :-)



Balada

Num bar da moda em Brasília, duas amigas nos seus 20 anos bebem espumante e acompanham a movimentação em uma mesa próxima. Especulam.

- Vai rolar pegação mais tarde naquela mesa ali. O número de meninos e meninas está igual.
- Verdade... Quatro caras, quatro meninas, todo mundo mais ou menos na mesma idade, todo mundo num grau de beleza parecido...
- Isso é muuuuito importante. Às vezes tem um feiote na roda que acaba com a matemática toda.
- Se ele não tiver uma super-lábia, é claro.
- Pra onde será que eles vão depois?
- Primeiro, vão para um postinho comprar cerveja. Depois, vão para a casa de um dos meninos. Os pais viajaram e tal e eles vão se pegar ali.
- Será que eles vão ficar pelados uns na frente dos outros?
- Ahn... Não. Acho que vão todos ficar com vergonhinha.

As duas riem.
Meia hora e mais uma flûte de espumante depois, reparam na novidade.

- Chegaram mais dois meninos. Ih... A conta não vai mais fechar.
- Pensa pelo lado positivo, ó: alguma delas vai poder ficar com dois caras.
- Sei não. Nenhuma das meninas me parece com cara de inteligente o suficiente para pensar nessa possibilidade.
- Acho que a gente devia ir lá para se apresentar.
- Vai, que eu não vou. Não gostei de nenhum dos dois.
- Tadinhos dos dois, vão passar a noite sozinhos.
- Vão passar a noite sozinhos enquanto os outros se pegam.
- Vão passar a noite sozinhos enquanto os outros se pegam, comendo Cheetos e conversando sobre Wii e Xbox.
- Vão passar a noite sozinhos enquanto os outros se pegam, comendo Cheetos, conversando sobre Wii e Xbox e pensando que não seria mau se eles começassem a se pegar também.
- Ewwwwww!!! Tô fora.
- Esse lugar é derrota. Vamos embora daqui. A fila do Arun vai estar melhor.

As duas andaram até a fila da boate. Lá dentro, dançaram, beberam, encontraram outras amigas, dançaram mais, acabaram com a escova e com a maquiagem. Mas não se enturmaram com nenhum gatinho. Resolveram picar a mula. Afinal, quem fica em boate até o fim da noite corre 100% a mais de risco de ser abordada por alguém nada interessante. Antes de voltarem para casa, no entanto, passaram num postinho para lanchar. E o papo não acaba nunca.

- Bia.
- Fale.
- Não sei se foi por causa da nossa conversa lá no bar, mas me deu uma vontade de comer um Cheetos...

Dois blogs

O blog Branquela d'Angola tem título auto-explicativo: apresenta histórias de uma moça de passagem por aquele país africano. Ainda preciso ler mais, mas já gostei do que vi.

Nesse mesmo blog, descobri o quadrinista argentino Liniers, que trabalha muuuuito bem. você se diverte com as histórias de Oliverio, Madariaga e a melhor personagem de todos... Olga.

Obs.: tirei da lista alguns blogs/fotologs que estavam sem atualização há mais de seis meses. Se alguém voltar à atividade, me avise, que eu ponho o link de volta com o maior prazer.

sábado, janeiro 10, 2009

Perseguindo a lua cheia

Quando ela começou a nascer lá na linha do horizonte, não tinha como eu pegar a máquina. Mas fiz isso assim que pude. Fui encontrá-la na janela.


Mais tarde, vi que ela tinha se duplicado. Um fenômeno raro (hehe).


Depois, fechei a janela. Os bichos voadores adoram entrar por estas frestas quando a noite chega.


Música boa

O pianista franco-italiano Aldo Ciccolini toca a Gymnopédie número 1, de Erik Satie (1886-1925).
http://www.youtube.com/watch?v=Lvqoqjwfv-c
Não consegui incorporar o vídeo do Youtube ao blog porque a dona dos direitos do vídeo não deixa ninguém fazê-lo. Mas recomendo clicar no link e ouvir. Me faz pensar sobre o que era ser moderno no fim do século 19.
Bom fim de semana a todos! :-)

sexta-feira, janeiro 09, 2009

História de viagem número 3


A gente acha que vai viajar e mergulhar pura e exclusivamente na culinária local. Tipo assim: vou a Lisboa devorar bacalhau, sardinha e todos os doces de ovos e açúcar fabricados na face da terra. Aí, eu cheguei lá e vi que não fazia mal nenhum desencanar dessa ideia original. Claro que não deixei nem peixes nem docinhos lusitanos de lado. Só que tampouco resisti a experimentar outras coisas que jamais encontraria aqui no quadradinho.

O melhor foi poder me afogar em comida asiática roots, farta, bem-feita e com preços bem em conta (obs.: eu sei que temos o Naan aqui em Brasília, mas ele não é exatamente barato, principalmente levando-se em conta que os pratos são para uma pessoa). Vou deixar aqui duas dicas para quem estiver planejando viajar para lá.

O restaurante tibetano Everest Montanha da Calçada do Garcia, perto do Rossio (à direita de quem olha o Teatro D. Maria desde a praça principal), é só uma portinha. Mas despertou a curiosidade do maridão e a minha logo no primeiro dia de viagem. E não nos arrependemos quando resolvemos ver como era. Não lembro o que pedimos, mas tudo veio superbom, com vários vegetais e temperos muito equilbrados. O lugar é desses que oferecem a possibilidade de pedir a comida mais ou menos apimentada (acho que a gradação é de 1 a 5). E não sei se é a prática habitual do lugar, mas ganhamos vários brindes fofos (tipo bolinhos feitos na hora) enquanto esperávamos pelo prato. Para beber, cerveja indiana Cobra, que é levinha e dá uma aliviada no gosto de pimenta. Desnecessário dizer que, depois de tudo, saímos rolando ladeira abaixo. E olha que nem provamos as sobremesas.

O outro lugar me chamou a atenção depois que li sobre ele na Veja feita sobre a capital portuguesa: é o restaurante Cantinho da Paz. Oferece comida de Goa -- o que faz o maior sentido experimentar quando se está em Lisboa, já que os portugueses colonizaram aquela região indiana durante séculos. Lembro que todos os pratos vêm num tamanho bom para duas pessoas e que pedimos naan e uma espécie de feijoada goesa incrível, embora super-mega-apimentada-plus. Bom, mas é para acompanhar esse tipo de prato que existe cerveja Cobra.


EVEREST MONTANHA

Calçada do Garcia, nº 15 (ao Rossio - perto do Teatro D. Maria). Telefone: 21 887 64 28. A Time Out publicou também uma crítica: leia aqui.

CANTINHO DA PAZ

Rua da Paz, 4, à Rua dos Poiais de S. Bento. Telefone: 21 390 1963. Fica no bairro de Santos. Mapinha da região aqui.

quinta-feira, janeiro 08, 2009

Teste

Por que o Blogger não põe no ar meu texto novo? Blogger mala. Grrrrrrr.

Dois

Achei-os praticamente na porta de casa, na pista de entrada do bloco. Ambos cabiam em minhas mãos, que estão longe de ser grandes. Tão frágeis. Podiam ter sido brutalmente atropelados, chutados por uma criança sem-noção ou incomodados pelo focinho de um cão curioso. E, ao mesmo tempo, tão fortes. Resistiram à chuva, aos insetos do jardim próximo e à dureza do asfalto sem perder o que tinham de mais belo: as formas arredondadas, perfeitas; e a pele brilhante, suave, sem uma mancha. Desliguei o carro e fui correndo loucamente no chão liso para salvá-los. Quase fui atropelada também.

Na subida do elevador, ainda pensei: levo-os para a casa de mamãe? Lá, existe mais espaço, mais infra-estrutura. E há a mamãe, que tem uma mão boa para cuidar de seres delicados. Mas, como acordei num dia doido, decidi cuidar dos dois sozinha. Na falta de um lugar melhor, coloquei-os numa cesta linda enorme, de capim dourado, que ganhei de uma amiga no Natal de 2007. Ao que parece, ninguém achou ruim. Nem meu amor, que foi contemplar os bebezinhos quando chegou em casa do trabalho.

Ninguém me ensinou, mas logo vi que a evolução dos meus dois frágeis dependia de um bocado de observação. Do sol e do calor nas horas certas. De alguns toques. De nenhuma pressa. E de zero julgamento: eu fazia idéia de que talvez eles não crescessem como os demais, mas isso não os tornava menos adoráveis. Deliciava-me à medida que ganhavam cor e viço. Os dias passavam.

Num deles, não havia dormido quase nada. Alguém pode pensar: é normal, acontece. Mas acordei com o despertador do celular berrando, quase tão siderada quanto naquela tarde em que saí correndo no asfalto liso de chuva. Lavei os olhos, escovei os dentes e me perguntei o que era aquilo na minha cesta enorme, linda e chiquérrima de capim dourado fair trade. Ah, meu Deus. São aqueles dois.

Tirei-os do berço improvisado e fui direto para a cozinha. Não podiam falar – se pudessem, talvez implorariam para que não fizesse o que fiz. Peguei a primeira faca que achei (uma de serrinha, com cabo azul-escuro) e dividi ao meio a maciez de suas carnes. Dei adeus às peles cheias de cor. E, com os dedos já em contato com seu interior oleoso, arranquei a única parte incapaz de ser processada pelas minhas vísceras. Foi direto para o lixo. O resto conheceu em segundos as lâminas do liquidificador. Dividiu-se grotescamente, espirrando sua substância verde nas paredes da máquina.

Pobres abacatinhos. Encontrei-os ainda bebês na pista de entrada do bloco. Amadureceram. Tiveram seu destino. E o pior é que eu gostei.

quarta-feira, janeiro 07, 2009

Diário da África

Diário da África é um blog bom, muito bom, bom pra caramba, assinado pelo A., que é praticamente um Ryszard Kapuściński (essa quase não sai) dos trópicos. Há histórias sobre a vida em Angola, a guerra civil na República Democrática do Congo e, mais recentemente, sobre a Namíbia (cuja capital, segundo o Lula, nem parece a África).

Eu já tinha colocado o blog na minha lista aí da direita, mas dar aquela anunciada básica sempre vale a pena. ;-)

terça-feira, janeiro 06, 2009

Fado de jeans e blusinha



Eu tanto li sobre a fadista Carmo Rebelo de Andrade antes de ir a Lisboa que, quando vi uma notinha sobre uma apresentação marcada naquele dia (uma quarta-feira) no restaurante Mesa de Frades, nem tive dúvidas: decidi que aquele seria o meu programa daquela noite. Peguei o maridão pela mão e fui para a Alfama, o bairro mais conhecido pelas casas de fado. O lugar era pequenino, uma graça, e cobrava couvert artístico dentro da média dos bares da região (normalmente, entre 15 e 20 euros; é meio caro para nós, brazucas, mas eu prefiro gastar nisso a comprar souvenirs bobos, por exemplo). Minha pergunta era só a seguinte: sendo chiquito daquele jeito, onde o Mesa ia acomodar a cantora e o grupo instrumental que ia dividir a apresentação com ela?

A gente demorou um pouco a saber a resposta. Deu o horário marcado para a apresentação, 22h. Passaram-se um, dois, cinco, 10, 15, 20, 25 minutos, e nada do negócio começar. Meia hora depois, as portas do lugar foram fechadas e a artista saiu do fundo do restaurante — onde estava com uma galera — para cantar sem microfone em meio às mesas. Nada de coque nem do xale tradicional das fadistas das outras casas. Carminho, como é mais conhecida, chegou de cabelos soltos, calça jeans e blusinha branca. Ela me conquistou mais ou menos pelo mesmo motivo pelo qual acho que vem encantando os que prestam atenção nesse gênero musical. Apesar de nova pra caramba (tem 23 anos, acho), canta intensamente um repertório com letras que falam em paixões dramáticas, abandonos idem e muuuuuuitas lágrimas. É algo que não combina muito com essa nossa geração de afetos cada vez mais fugazes. E, ao mesmo tempo, um descompasso muito legal. :-)

Não sei se o show era meio que para amigos dos músicos (apesar de estar anunciado em jornais, revistas e tal), porque o clima de brodagem era forte. E não necessariamente isso é uma coisa boa. A fadista cantou umas três músicas, voltou para o fundo do restaurante para ficar com a galera e, aí, começou a tocar o grupo instrumental também anunciado para a noite. Desculpem, esqueci o nome. A banda tocou, tocou, tocou e nada da menina voltar. E, quando voltou, apresentou mais umas três composições e não saiu mais da mesa dos brothers! A idéia de pagar 20 euros de couvert por um show assim começou a me dar comichão.

Os instrumentistas encerraram o show. Seria injusta se não dissesse que eles também foram muito bons — mas, pelo que entendi, a atração principal era a cantora.

Acabou a apresentação, aplaudimos, terminamos o vinho (também não me lembro o nome), etc. Chega a hora de pedir a factura. :-) Abrimos a carteirinha de couro cheiroso lentamente, como que para adiar o momento de pagar por aquela mistura de momentos legais com roubadas. Ai, caceta. 20 euros por cabeça.

E… surpresa! Não sei se alguém leu o meu pensamento, se o lugar é uma bagunça, se fomos automaticamente incorporados à ação brodagem de Carminho ou o quê, mas o facto (ops, fato, hehe) é que só foi cobrado o vinho. O melhor é que nem foram muitos euros. Yes!

Deu até para me apaixonar de novo pelo Mesa, pela Carmo e pelo fado.


MESA DE FRADES
Rua dos Remédios, 139-A, Alfama. Reservas: 91-702-94-36. Como o site do lugar ainda é meio capenga (só tem endereço e telefone), recomendo conferir na Time Out Lisboa se Carminho & cia. ainda cantam por lá às segundas e quartas-feiras.

CARMINHO
Esta fã de música brasileira ainda não tem nenhum disco gravado. Mas há um monte de vídeos no YouTube para quem quiser conhecê-la melhor.

Sleepless in Lisbon


- Mari, você não vai acreditar. Um cara acabou de me oferecer haxixe – meu amor veio depressa me contar, os olhos verdes arregalados, emoldurados por lindas olheiras de quem passou a noite em claro.
- O quê? Como assim, haxixe? – respondi.
- Ele chegou do meu lado e disse: “Olá, quer haxixe?”. Eu respondi: “Não, obrigado”. E agora estou aqui para te contar.
- Caraca, isso é absolutamente surreal. É domingo, são nove da manhã, está chovendo e frio pra cacete. Tem quantas pessoas nessa praça? Umas 10?

Putz, o cara é um obstinado. Deve ter lido aquele livro O Gerente de Vendas Pit-bull -- ou qualquer um desses que ensinam que toda hora é hora, todo lugar é lugar para quem quer vender seu produto. Só assim para achar que um sorridente turista na Praça do Comércio, em Lisboa, é um consumidor em potencial do seu inocente fuminho. E que aquele turista é mala o suficiente para comprar um podruto (sic) nas barbas da polícia enquanto a namorada admira o elefante que adorna a estátua de D. José I.

Devo confessar que nosso primeiro contato com a população local foi engraçado, mas não da maneira que eu esperava. A gente acha que vai chegar do outro lado do Atlântico e se divertir imediatamente com o que eu chamo de a literalidade dos portugueses (que os brasileiros traduzem em incontáveis anedotas). O que me divertiu nessa cidade foram outras coisas. Pequenas coisas. O vocabulário. O visual de certas placas. A começar por uma que eu vi na própria Praça do Comércio. Entendi que é um lugar para comer, mas não tive coragem de ir lá perguntar o que afinal são “farturas e porras” porque imaginei que todos os brasileiros que vão ao Terreiro do Paço (outra denominação para a Praça do Comércio) devem fazer isso. O dono deve odiar.



A Praça do Comércio recebe, até março de 2009, uma feirinha livre sobre a qual eu já tinha lido na Time Out – e que, para ser honesta, me pareceu bem fraquinha (teria sido a manhã de domingo com chuva?). Também abriga um dos restaurantes mais antigos da cidade, o Martinho da Arcada (não fui, não sei se é bom). E ainda é o ponto de partida de um bondinho vermelho fake que leva os turistas a um monte de lugares.

O pior é que eu e meu amor não queríamos ir a lugar nenhum.

Tinha viajado a noite inteira de Brasília a Lisboa. Saí daqui umas 17h30 e cheguei por volta das 6h30 – o que, para o nosso corpitcho de brasileiro, deve ser interpretado como 1h30. Vi um filme, vi dois filmes, li e, dormir que é bom, nada. No máximo, uma horinha e meia. E olha que eu durmo em avião que é uma beleza. Deve ter sido a empolgação de ir tão longe.

Chegamos, passamos pela imigração (fila quilométrica e sem alternativa), compramos Lisboa Card (vale a pena), pegamos o busão e fomos pro hotel. A idéia era tomar um banho e fechar o olho só um pouquinho antes de tomar um café e ir bater perna na rua. Mas o quarto só ia ficar pronto lá pelas 14h. Fer-rou. Fomos tomar um espresso na rua. Na dúvida entre o café muvucado e o calminho, ficamos com o segundo, que é bem OK. O primeiro deles oferecia biscoitinhos incríveis chamados de língua de veado feitos na hora, mas... era muvucado. E quem tem sono tem pressa. Quer cafeína logo, sem ter de enfrentar uma horda de compradores de coisas de padaria.

No mais, o primeiro dia em terras lusas foi... normal. Ofereceram haxixe na Praça do Comércio, um pouco depois a gente vazou dali, andou até o Cais do Sodré, pegou o bonde para a Torre de Belém e fez tudo aquilo que a turistada faz num domingo. Vai à Torre, olha o Mosteiro dos Jerônimos (a visitação dos dois é grátis aos domingos), dá risada com a fila dos Pastéis de Belém, come bacalhau, essas coisas.

Desnecessário dizer que fiquei muito feliz quando vi que, depois de fazer todas essas coisas, o tempo passou rápido e dava para tentar voltar ao hotel. Já passava das 14h.

Pegamos um quarto de fundo, excelente, sem barulho nenhum da rua ou de qualquer outro lugar.

Não lembro qual foi o meu último pensamento entre o momento de tirar a lente de contato e desmaiar.

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Manual prático de baladas e afins




Trabalhar em um suplemento cultural há quase três anos me permitiu saber algo mais do que “a boa do fim de semana” (aliás, odeio essa expressão): fez-me conhecer a incrível classe dos divulgadores de baladas e sua relação com o texto escrito, que é um mundo completamente à parte.
Façam o teste: sentem-se à mesa do Beirute ou qualquer bar com muita gente, onde vocês certamente receberão uns 37 panfletos (ops, vamos usar flyers, que é uma palavra muito mais fina) de festas, shows e afins. E leiam com carinho o que está escrito. Não é sempre que eu faço isso – ainda assim, já encontrei pérolas como as que compartilho abaixo...

Mulher liberada / Mulher grátis
Uepa, uepa! Se encontrar essa informação numa filipeta (putz, esqueci! É flyer), não fique assim, animadinho, achando que chegará à festa e encontrará hordas de mulheres saindo de uma gaiola (tipo Gaiola das Popozudas) cheias de amor para dar... de graça. Eu quase estrebuchei quando vi essas palavras unidas dessa forma. Na verdade, o divulgador quer dizer que mulheres têm entrada franca (normalmente, até determinado horário).

Mulher vip
Sim, todos nós sabemos que as mulheres são pessoas muito importantes – portanto, vip. Mas essa informação, quando escrita num panfleto de festa, significa um pouco mais (quer dizer, dita assim, não significa nada). Na verdade, é mais ou menos o mesmo de “mulher liberada”: quer dizer que os seres com cromossomos XX têm entrada grátis no dito evento.

R$ XX (meia mulher)
Você conhece alguma maneira mais bizarra do que essa de dizer que mulher tem meia-entrada no festerê? Eu, não.

Open food
Caros, essa é a pior. Depois de a expressão open bar ganhar o mundo, algum ixxxpertu achou que poderia aplicar a mesma lógica de divulgação às festas em que o ingresso dá direito ao rango. E a praga pegou, pelo menos aqui em Brasília – talvez porque esse negócio de dizer que haverá “comida à vontade” seja coisa de pobre... :-O

(Se alguém lembrar de mais algum lance desses, pode deixar um comentário).

domingo, janeiro 04, 2009

First Day of My Life - Bright Eyes

Frase do dia

"C#%&*@&*!!!!! Nem para fazer papel de ninfeta direito ela serve!"

Ouvida na saída do cinema da Academia de Tênis, hoje à noite. A mocinha de boca suja em questão poderia estar falando de um universo de atrizes -- mas gosto de pensar que ela está comentando a atuação de Penélope Cruz em Fatal.

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Kaput

Dora, minha faxineira, é uma moça morena, baixa e magrinha. E de modos algo reservados. Por esse motivo, soube que algo estava estranho quando, nas primeiras semanas de casa nova, abri a porta e ela me recebeu com um sorrisão:
- Que bom que você chegou!

Eu sorri de volta, mas a vontade era mesmo de levantar uma sobrancelha (ah, se eu conseguisse...).
- Está tudo bem? – perguntei.
- Na verdade, mais ou menos. Tem um morcego no seu escritório – ela devolveu.

Ai, meu Deus. Horror. Pânico. Desmaiar ali não era uma alternativa válida. Comecei a me perguntar: que tamanho teria o bicho? Ele estaria pendurado em uma das lâmpadas, como um vampiro de filme?

E levantei o principal questionamento de todos: por que esse tipo de coisa só acontece quando o homem da casa está a quilômetros de distância? Preciso dizer que, nesse dia e em vários outros, só recebi a visita de besouros cascudos, cigarras geneticamente modificadas e de uma única barata voadora quando meu amor estava longe (acabei com quase todos eles). Deve ser uma pegadinha do mundo animal.

Respirei fundo uma vez. Duas. Três. Decidi que ainda não estava preparada para fazer a caçadora de vampiros. Não dizem que os homens têm quatro milhões de neurônios, ou 30% de conexões a mais? É para isso que elas servem, pois: caçar baratas, besouros, cigarras e morcegos. Corri para o interfone. Preciso. De. Um. Homem. Agora.
- Oi, bom dia. É o seguinte: um morcego entrou aqui em casa e sujou o escritório inteiro. Você pode mandar alguém aqui para me ajudar a tirá-lo? – pedi ao porteiro. E, juro, a parte do cocô era de verdade. Não satisfeito em entrar, o bicho fez caquinha no chão do escritório.
- Claro. Já mando um funcionário aí – respondeu o moço da guarita.

Ele chegou dois minutos depois. Um pouco maior do que eu, forte, de poucas palavras e com jeito de quem acha esse negócio de animais nojentos e voadores uma pouca bobagem. Droga, não me lembro do nome do cara.
- Onde ele está?
- No escritório.

Abri a porta e varri o ambiente com os olhos para saber onde o bicho teria se escondido. Não estava pendurado em lugar nenhum. Finalmente achei:
- Ele está deitado no meio da fiação do computador – revelei. Fui depressa buscar luvas e um saco de lixo para o funcionário do bloco recolher o bat-mala.

O homem se agachou. Afastou a fiação com uma mão e, com a outra, agarrou o morcego. Nesse momento, quase pensei em desistir de tudo. Quase ignorei a caquinha espalhada pelo chão de cerâmica branca e deixei-o completar seu sono.
O bicho esticou o pescoço e contraiu os músculos da face para fazer uma cara de sofrimento praticamente humana. Ele entreabriu os olhos e, com dificuldade, murmurou algo em alemão. Não entendi nada. Mein deutsch ist kaput.
- Ponho ele de volta? – quis saber o funcionário, diante da bizarra tentativa de comunicação.
- Não, pode levar embora – sentenciei.

Agradeci ao moço e corri à comercial. Precisava providenciar trajes espaciais, revestidos com chumbo, para que Dora pudesse limpar aquela caca toda sem nenhum risco de contaminação.

Será sempre um mistério o que aquele morcego tentou me dizer naquela manhã luminosa de abril.

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Não sei se o blog vai voltar. Não sei se terei inspiração para tocar um blog como fazia antes. O que importa é que acordei hoje com a veia e resolvi escrever. Fica o registro. Beijos.