quinta-feira, janeiro 13, 2011

De artistas e pulgas


Quem não viu no jornal pode ler aqui; eu que fiz. As fotos são todas minhas, menos essa de cima, com crédito para Artists and Fleas/Divulgação. Beijos.


Nova York guarda mil boas surpresas para quem se anima a pegar o metrô e sair de Manhattan. Uma delas fica em Williamsburg, no Brooklyn, onde há sete anos a dupla de empreendedores Amy Abrams & Ronen Glimer fundou o Artists and Fleas — Artist, Designer & Vintage Market. Ou, na tradução para o português, Artistas e Pulgas — Mercado de Artistas, Designers e Produtos Antigos.

Expressões como “pulgas” e “antiguidades” dão preguiça? Pois vale a pena deixá-la de lado para descobrir que, entre as peças de segunda mão, existe muita coisa sem cheiro de guardado e com charme capaz de despertar desejos consumistas.

O encanto se repete quando se observam as criações de artesãos, estilistas e designers em começo de carreira: há camisetas não encontradas em nenhum outro lugar, bijuterias dos materiais mais diversos (munições antigas, por exemplo), tops e vestidos para sair à noite, bolsas, cadernos e o que mais a imaginação da turma local permitir, tudo vendido a preços variados.

Em média, há 50 expositores por fim de semana, o suficiente para lotar o galpão onde a feira é realizada hoje, na North 7th Street, 70. “Esse número permite uma experiência de compra diversa e ao mesmo tempo intimista, acolhedora”, avalia Glimer, sem informar o total de dinheiro movimentado pela feira. “Não recolhemos as informações de venda entre os participantes”, justifica.

Outro detalhe bacana é que dificilmente o mercado tem a mesma cara em duas edições diferentes, porque os participantes quase sempre mudam. No entanto, quem precisa encontrar algum expositor — seja por arrependimento de não ter feito uma compra, seja por necessidade de trocar algum produto — que não esteja mais lá pode sempre achar os contatos no site.


Esse pequeno (mas agitado) encontro entre artistas, colecionadores de artigos vintage e consumidores começou em meio ao frio de dezembro de 2003, num barracão da North 6th Street, de onde o mercado já se mudou duas vezes.

À época, Williamsburg já tinha pinta de descolada, criativa e independente. Porém, ainda não era alvo da cobiça dos investidores imobiliários de Nova York. “Nosso antigo galpão foi transformado em um condomínio de luxo”, lembra Glimer. Foi nesse ambiente que a dupla de fundadores pensou em reunir artistas sem experiência em vendas e colecionadores com espírito empreendedor.

“Muito da nossa inspiração para começar foi tirada das nossas viagens pelo mundo e das visitas pelos mercados. Amy e eu sempre fomos fascinados pela cultura de mercados, tanto pela energia e vitalidade que existe neles quanto pelo fato de que, neles, você pode entrar em contato diretamente com outras pessoas. Não existem intermediários”, conta Glimer.

“Mercados são a melhor experiência democrática porque levam à interação entre pessoas que não poderiam se encontrar de outra forma.” Haja interação, aliás: a cada fim de semana, cerca de 2 mil visitantes passam pelo Artists & Fleas.

O feedback instantâneo desse público é um dos motivos que mais empolgam expositores como a estilista Nanako Miller, dona do próprio negócio há cinco anos e participante do mercado há um ano e dois meses. Ex-bailarina, a designer japonesa descobriu entre sapatilhas e figurinos de dança a vocação para criar uma moda delicada, repleta de tops e vestidos com fitinhas e rendas.

“Estar num mercado como esse permite que outras pessoas vejam nossas criações e deem retorno sobre vários elementos, como estampas ou cores. É importante saber o que encanta os consumidores, e o lugar atrai muita gente que ama moda, o que ajuda nas minhas criações futuras”, avalia. “O melhor é que não preciso gastar milhões de dólares para exibir meu trabalho”, completa.


Nanako refere-se a um aspecto crítico para qualquer um que queira empreender numa cidade como Nova York: o preço dos pontos no comércio. “A não ser que tenha uma grande reserva de dinheiro, você precisa dar conta sozinha dos impostos e de toda a despesa de manutenção. E, além disso, criar”, enumera a estilista, que vende entre 30 e 40 peças por fim de semana no Brooklyn.

Na região em volta do Upper East Side ou do Upper West Side, em Manhattan, por exemplo, o aluguel de uma loja pequena pode ficar em torno dos US$ 20 mil. “É uma soma irreal para uma artista em começo de carreira.”

No mercado, em compensação, cada expositor paga entre US$ 80 (o estande com 1,5m por 2,1m) e US$ 100 (o com 1,8m por 1,8m) por dia. Para participar, os interessados devem preencher uma ficha no site do mercado e devem obedecer a alguns critérios.

Ronen Glimer explica: “Procuramos expositores que façam o próprio trabalho ou tenham um olhar único como colecionadores de arte ou antiguidades. Não aceitamos artigos produzidos em série ou importados; nesse caso, recomendamos outros mercados que possam ser mais adequados a esses comerciantes”.

Mas casos de inadequação, segundo ele, são raros. “Acreditamos que o mercado em si sentencia definitivamente o que devemos ou não vender. Essa é a forma como os estabelecimentos funcionam no mundo todo e aqui também.

Aonde ir

Artists and Fleas
North 7th Street (entre a Wythe e a Kent), Williamsburg, Brooklyn
www.artistsandfleas.com
Abre aos sábados e domingos, das 12h às 20h.

Para chegar lá de metrô, pegue a linha L até Bedford Avenue (a primeira parada depois da saída de Manhattan), a G até a Metropolitan Avenue ou as linhas J/M/Z até a Broadway (no Brooklyn, também há uma avenida com esse nome). E-mail: info@artistsandfleas.com.



Veja também

“Williamsburg ainda tem muito do que apresentava nos anos 1990; há energia e intensidade. Não importa se são 15h de uma quinta-feira ou 3h de sábado, há pessoas nas ruas e coisas acontecendo”, define Ronen Glimer, fundador do Artists & Fleas. “A região tem de tudo para todo mundo: ótima gastronomia, bons bares, lojas e gente para observar”, prossegue ele, com conhecimento de causa. Conheça a seguir outros lugares para visitar antes ou depois de conhecer o mercado.



Bedford Cheese Shop
229 Bedford Avenue, Brooklyn; 718-599-7588 e 718-599-8644
www.bedfordcheeseshop.com

De segunda a sábado, das 11h às 21h; domingo, das 10h às 20h. Apaixonados por queijo hão de babar nesta loja, que reúne delícias feitas por produtores do mundo todo com leites de vaca, cabra e ovelha. No site, é possível conhecer cada um dos queijos e descobrir até o grau de “fedor” (stinkiness) de cada um.

Egg Restaurant
135 North 5th Street, Brooklyn; 718-302-5151
www.pigandegg.com

De segunda a quarta, das 7h às 18h; quinta, das 7h às 22h; sábado, das 9h às 23h; domingo, das 9h às 21h. A casa serve um brunch disputado no domingo; por isso, é bom chegar cedo. As receitas não têm mistério: muitas delas são feitas com ovos e carne de porco (como bacon). O segredo está na qualidade dos ingredientes, produzidos em fazenda própria.

McCarren Park
Entre a Avenida Nassau e as ruas Bayard, Leonard e North 12th
www.nycgovparks.org/parks/mccarrenpark

Com 144,5 mil hectares, o parque conta com gramados amplos; campos de basquete, handebol, futebol e tênis; pistas de corrida e espaço exclusivo para os cães brincarem sem coleira. Entre maio e julho, o McCarren também abriga uma edição especial, de verão, do Artists & Fleas.

Scandinavian Design House
167 North 9th Street, Brooklyn; 917-501-9190
www.scandinavianhouse.com

De terça a sábado, das 12h às 20h; domingo, das 12h às 18h; fecha às segundas. Os escandinavos estão na vanguarda mundial do design, e a loja dá uma boa amostra dessa produção. Utensílios domésticos e objetos de decoração compõem a maior parte do estoque.

8 comentários:

Luciana disse...

Mari!!!!!!!!!!!! Amei!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Puxa, mal conheço Williamsburg!!! Bem bacana mesmo!!!! Quando puder, vou tirar um dia pra explorar o bairro!!!! Bjos!!! Lu

Mari Ceratti disse...

Vá sim, Lu! O legal é que todas as lojas que citei no texto ficam abertas nos fins de semana, e a área tem a maior vida aos domingos. Só não explorei mais porque começou a chover torrencialmente.

Nhé!

O jeito foi voltar de metrô pra Manhattan e fazer compras até me afogar. Rs.

Beijo!

Alex Azevedo Dias disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alex Azevedo Dias disse...

Não é um "pulgueiro" qualquer, embora até as pulgas divirtam sob lonas circenses, adestradas por ágeis domadores desses minúsculos e saltitantes leões.Mas enfim... essas peças nada tem de pulguentas e empoeiradas, muito pelo contrário, pois são assinadas pela originalidade e talento de artistas que tiveram essa oportunidade ímpar, arrojada e lucrativa para exporem seus materiais. Do ateliê particular e anônimo, diretamente para os desejos vendidos em bandejas. Desse jeito, todos somos "sommelier" e o vinho, servido em taças especiais - substituindo o conteúdo etílico por sofisticadas e exclusivas peças artística que embriagam a alma e não somente o corpo. Congratulações!!

m.Jo. disse...

Adorei!! Outras dicas de NY serão igualmente arquivadas nos meus "favoritos". :D

Mari Ceratti disse...

m.Jo., me avise se você estiver de viagem marcada. Tenho uma lista excelente, com um milhão de dicas!
Beijos.

m.Jo. disse...

Ainda não tenho nada marcado. :( Por enquanto só o visto e a vontade.

Ana Fabre disse...

Texto excelente, como sempre. Fotos perfeitas e dicas preciosíssimas!