domingo, janeiro 01, 2012

O chinês de Veneza

O restaurante Giardino di Giada, em Veneza, parece um filme digno de festival.

Não um filme italiano barulhento e dramático, desses do neo-realismo, mas um chinês tipo Wong Kar-Wai: lento, contemplativo, com fotografia vermelha e delicada e um elenco formado por finíssimas moças de coque, todas de vestidinhos típicos.

Essas moças circulam de modo silencioso pelo salão, dando sorrisinhos e se comunicando com os clientes numa língua que não é nem italiano nem inglês nem #$%¨&¨%$# nenhuma. Mas, curiosamente, ninguém se desentende e nenhum pedido vem errado. Um espetáculo.

É engraçado encher o bucho com pratos chineses quando se está na terra da pizza, do gnocchi, dos raviólis e das receitas que apenas as nonnas preparam com perfeição. Mas o Giada é absurdamente barato -- não só para os padrões venezianos --, bem-servido e sem frescuras, e tem dias em que o indivíduo precisa disso e nada mais, né não?

Se a gente pudesse se comunicar em alguma língua formalmente estabelecida, eu adoraria perguntar às meninas quem, afinal, são elas e como foram parar ali. Fiquei torcendo para que a moradia delas NÃO fosse o depósito do prédio em frente, onde o gerente ia de tempos em tempos para abrir uma porta minúscula e sair com mercadorias.

O que essas meninas fazem quando o turno acaba? Será que elas já querem ir embora da cidade? Será que também elas não aguentam mais os turistas? Depois de dominar o mundo, será que os chineses também têm planos de conquistar Veneza?

Saí de lá com a cabeça cheia de perguntas (e a barriga, de dim sums).

Antes que eu me esqueça: ele fica na Calle del Botteri, 1659, San Polo. Se você conseguir encontrar o lugar -- é fácil se perder na cidade, porque as ruas são labirínticas, podem ter mais de um nome e nenhum mapa pequeno consegue reproduzir cada uma delas --, vá sem medo.

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A Ostaria Antico Dolo (Ruga Rialto, 778) foi um superachado num dia em que, Deus!, achei que não conseguiria jantar, porque fui esnobada em dois lugares (já falei da má-vontade local com os turistas?). Tomei o melhor barolo da face da Terra por ridículos 5 euros a taça e comi um spaghetti com lula na própria tinta (com um gosto de mar que vou lembrar pra sempre). Saí tão feliz que até passou a minha vontade de mandar a turma dos dois outros restaurantes pastar na PQP.

O Frulalà é muito divertido. Durante o dia, os meninos -- estudantes estrangeiros animadíssimos, com um inglês perfeito -- servem suquinhos, bons para quem estiver em hotel que não sirva café da manhã. À noite, o lugar vira uma balada, e as receitas saudáveis dão lugar aos ótimos drink (assim mesmo, com a concordância errada, rsrsrs). Tem dois endereços em Veneza: Cannaregio, nos números 5620 e 2227.

O ProntoPesce, na Pescheria Rialto San Polo, 319, começou como rotisseria e, com o tempo, adaptou-se para receber (bem) também aqueles que queriam comer no local. Os pratos, como o próprio nome do lugar diz, têm um peixinho ou algo vindo do mar. Tudo muito gostoso. Se você der sorte, ainda pode experimentar o prato do dia no momento em que ele sai da cozinha -- eu não pude porque tinha de pegar o trem para ir embora. Mas quero voltar lá.

O La Bottega del Caffè, fundado em 1750, tem um torrone que me fez perder a linha. E mais não direi! Fica no número 4819 da San Marco.

Finalmente, o melhor pedaço de pizza do Universo (ok, é só o melhor de Veneza) é servido na SanSovino, na Calle Zaguri (ou San Marco 2628). Elas saem do forno a toda hora e são supercheirosas. Se você não achar... bom, fica numa rua estreita e lotada, perto de uma pontezinha... e de um pequeno canal com umas gôndolas também. HAHAHAHAHA.

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Gente, juro que volto a postar regularmente quando tiver um tempo razoável para escrever de forma descompromissada. Agora não estou conseguindo de jeito nenhum (no máximo, um post tamanho micro no Facebook). Foi muito legal escrever, interagir e aprender aqui.

Feliz 2012 para todo mundo! Beijos.

3 comentários:

RC disse...

Me identifiquei com esse post... haha

Anônimo disse...

Boa tarde Mariana, gostaria de enviá-la uma mensagem da Associação Slow Food Brasil. Por favor, me indique o canal para contatá-la em privado. Obrigado.

Prof. José Rogerio Vargens disse...

Mariana, sua crônica sobre este restaurante chinês em Veneza me fez lembra o caminho inverso da China. Em 1269, Marco Polo saiu de Veneza para uma longa jornada até a China, então um império grande e poderoso, porém fechado e conservador. Retornou a Veneza 24 anos depois e se tornou rico comerciante. Posteriormente, os comerciantes italianos expandiram o comércio pela Europa, fortaleceram as cidades-estados italianas e criaram as bases para a expansão europeia para no mundo inteiro. No século XV, como afirma Paul Kennedy no livro “Ascensão e queda das grandes potências”, a China poderia ter cruzado o Cabo da Boa Esperança, pois tinha tecnologia e recursos superiores para isso, mas o conservadorismo do império chinês não permitiu, e quem o fez foi uma nação europeia pequena e periférica, Portugal. Agora, estamos vendo a China fazer o caminho contrário, da expansão. Consolidou larga base produtiva e industrial no final do Século XX e vem expandindo a oferta de serviços e investimentos no Século XXI.