sábado, agosto 14, 2010

Solene

Até semanas atrás, meu repertório de hebraico se limitava a uma palavra e meia. A primeira é utilizada para perguntar "E aí?" -- cuja pronúncia, numa quase coincidência, é algo como arrí.

A segunda, traduzida para o português, quer dizer xorume (aquele líquido nojento que sai do lixo). Parece que é muito usada pelos meninos no dia a dia, como um vocativo mesmo. Mais ou menos do mesmo jeito que alguns amigos chamam uns aos outros de "sua bicha", ou como alguns jornalistas veteranos denominam o outro de "velho atrasador de jornal". Coisa de brother, sabe? O pior é que me lembro do sentido, mas não da palavra original.

Menos mal que agora aprendi mais uma: psagot. Significa cúpula e batiza um vinho israelense que encontrei no e-x-c-e-l-e-n-t-e Aeroporto de Miami antes de voltar das férias.

Psagot também denomina a cidadezinha onde é produzido esse vinho kosher. Fica perto de Ramallah (Cisjordânia), a uns 900m acima do nível do mar.

Pois em 1998, nesse lugar meio extremamente tenso, uma família judia começou a produzir castas capazes de dar origem a bons vinhos, como a cabernet sauvignon.

O que comprei e tomei, fabricado em 2007, é mais ou menos como os outros feitos dessa uva: chega ao paladar dando um pé na porta (ou um golpe de krav magá, como queiram). Mas isso não quer dizer que ele seja ruim ou que eu desgoste dele.

Só estou dizendo que ele é forte e encorpado. E não serve para, sei lá, beber sem compromisso e com as amigas enquanto se assiste a uma temporada completa de Sex and the City. Para isso, existem champagne, cosmopolitan e ice tea (para as que não bebem). Incluam o Psagot fora dessa (rsrs).

Em geral, tenho preguiça desses adjetivos meio viajantes usados para descrever vinhos ("corajoso", por exemplo), mas vou apelar para um deles -- solene -- porque sinceramente acredito que ele seja assim.

Talvez essa característica seja culpa do cheiro e do gosto marcantes de carvalho. Até por isso, é preciso deixar a bebida respirando por algum tempo antes de começar a degustação.

Com essa ressalva feita, devo dizer que adorei o Psagot. Além de ter um gosto interessante, nada parecido com qualquer vinho que já tenha provado até hoje, não ofende o bolso. A garrafa saiu por uns US$ 20, se não me engano.

Ele não é vendido no Brasil, só nos EUA e em alguns outros (poucos) países. Se você estiver de passagem pelo Aeroporto de Miami e tiver coragem de caminhar feito uma mula no deserto, vale a pena ir até o free shop mais próximo e tentar encontrar o seu. Beijos.

Um comentário:

Gera disse...

Oi, Mari
Você tem certeza de que não vende no Brasil? Moro em Higienópolis, que é uma verdadeira colônia judaica, com muitas lojas de comida e bebida kosher. Vou dar uma olhada, pois fiquei curioso. Mas é cabernet sauvignon? Se for, é sempre mais encorpado, mas ótimo de se beber.
Outra coisa: mandei um email para você na sexta. Chegou a receber?
abs,
Geraldo