Recebi dia desses, lá no jornal, um disquinho que me pareceu muito bacana: Contos, cantos e acalantos, da Biscoito Fino (oba!), com produção musical do Tim Rescala, vocais de José Mauro Brant e participações especiais de Bia Bedran (que eu amo), Mônica Salmaso (idem) e Soraya Ravenle (quem?). A proposta, diz a contracapa do álbum, é fazer "uma aventura musical pelo folclore brasileiro". A capa era linda, o livreto também, ou seja, tudo para ser uma graça! Pensei: "vou propor uma matéria, fazer umas entrevistas fantásticas com esse povo, etc., etc.".
Quando começo a ouvir a música, no entanto, dei um passo para trás. A primeira diz assim: "Esse menino não é meu / Me deram para criar / O consolo de quem cria / É saber acalentar". À medida que fui ouvindo, começo a ouvir histórias sobre "tangolonomangos" que vão tomando conta de menininhas até que uma geração inteira de irmãs morre; meninos que choram de frio enquanto Nossa Senhora lava roupas no riacho e por aí vai. E, daí para a frente, o que a gente tem é uma sucessão de acalantos que envolvem seres das trevas, punhais, lágrimas em profusão, etc. Não que todas as faixas sejam assim, mas são quase todas. Tipo um roteiro de filme de terror, só que com a linda voz da Mônica Salmaso a embalar tudo.
Todos os cânticos, vale observar, são retirados do folclore brasileiro e, pelo que entendi, são cantados desde os séculos dos séculos da formação da nossa sociedade.
Admito que fiquei meio apavorada (por motivos óbvios) com as letrinhas contidas no disco. Eu não sei direito em que idade a criança começa a ter o entendimento das coisas ditas ali. Ao mesmo tempo, não sei se um pai ou mãe se incomodaria de contar esse tipo de história para o filho, ainda que ela esteja embalada numa melodia suave.
No fim das contas, desisti da propor a matéria. Afinal, como é que eu vou recomendar para o leitor uma coisa que não me desce de jeito nenhum?
Alguém, então, me sugeriu que eu discutisse o teor das músicas de ninar cantadas para as crianças brasileiras – o que também não gostei. Primeiro, porque isso é assunto para uma tese sociológica, antropológica ou pedagógica. Segundo, porque o terror dos acalantos não é exclusividade dos brasileiros. Uma das minhas melhores amigas trabalhou de baby-sitter na Alemanha e me contou algo do tipo: "No escuro, moram dois carneirinhos; um branco e um negrinho; se a criança não vai dormir, eles vão lá e mordem" (eita!!). Terceiro, porque se eu sair descendo o sarrafo em um disco de cânticos populares voltado para crianças, provavelmente serei linchada pelos aguerridos defensores do folclore nacional (bom, não que eu não seja uma, mas achei o CD um absurdo, e ponto final).
De onde se tem que anda difícil criar as crianças (foi o que disse outra amiga quando mostrei a ela o álbum). Pelo que tenho visto, os pais têm tido poucas opções de entretenimento inteligente para os filhos – tipo Sítio do Picapau Amarelo, Turma da Mônica, Daniel Azulay, Castelo Rá-tim-bum, etc. No mais das vezes, é optar por isso ou por ícones que não têm muito a ver com a nossa realidade. Essa amiga me falou de uns: Teletubbies, Barney, Backyardigans, aquele pingüim, o koala, a turminha do gelo, etc., etc. Eu, hein...
P.S.: Eu sei que essa foto de cima não tem nada a ver com o texto, mas eu queria botar uma imagem aqui. A foto foi tirada em São Miguel dos Milagres (AL). Clique sobre ela para ver uma versão maior no Flickr ;-)
4 comentários:
Testando o sistema de comentários! :-)
Oi Mari
Que ótimo que está de volta ao mundo dos blogs!
E agora o retorno é com um template novo. O que achou das novas funcionalidades?
Beijo
Taís
Vou mudar o meu tb para o beta!
O seu tá lindo :)
Não desanima, Mari!
Continua a contar suas aventuras de jornalista... Fiquei curiosa para ouvir as músicas.
Cada dia me convenço que não sei nada sobre meu país, que triste.
Bjs
Fê
hehehehe.... tem coisas do folclore que são de meter medo msm... Lá na Amazônia tem um tal de Mapinguari ... esse era o que eu mais tinha medo... rs.. Mas sobre o folclore, eu prefiro as havaianas dos cartunists com esse tema..rs.. bjs. :)
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