Cal McAffrey é o personagem de Russell Crowe em Intrigas de Estado, que estreou aqui em Brasília na última sexta-feira e reflete sobre a promiscuidade nas relações entre a imprensa e o poder. Gostei, mas não vou tecer grandes análises aqui porque elas já foram feitas por uns mil colegas.
Prefiro falar de outro tema sobre o qual sempre quis escrever aqui: a total inverossimilhança dos personagens jornalísticos na maior parte das obras de ficção. Pode ser que algum dia tenha sido normal fumar ou beber (como faz McAffley) dentro das redações, mas hoje o negócio não é bem assim.
Você vai me dizer: ora, Mari, se você quer verossimilhança, veracidade ou qualquer outra dessas coisas, assista a um documentário ou corra de volta para o trabalho. A intenção aqui, no entanto, não é execrar totalmente (hehe) as obras de ficção, mas sim apontar o quanto pode ser divertido reparar em certos absurdos. (Médicos e enfermeiros devem pensar nisso também quando assistem a programas como ER e outros.)
Por isso, vou lembrar de alguns personagens que impactaram o meu absurdômetro.
Carrie Bradshaw, de Sex and The City
Vamos lá: na primeira temporada da série, Carrie tem uns 33, 34 anos, se não me engano. E já ganha uma grana suficiente para comprar sapatos carésimos apenas escrevendo coluninhas semanais rédéculas sobre sexo no jornal The New York Star. Os textos não têm nada de pesquisa, só falam da própria vivência afetiva da moça. Nas temporadas seguintes -- não sei se algum fã andou questionando o fato dela trabalhar de menos --, os roteiristas inventaram uns frilas para a moça, inclusive na Vogue. Mas, ainda assim, nunca foi possível dizer que ela pertencesse ao rol dos jornalistas estressados. E, claro, a série nem sequer mostra como ela fez para chegar a tal nível de estrelato.
Maddie Bowen, de Diamantes de Sangue
A personagem de Jenniffer Conelly provocou, pelo menos na sessão em que assisti ao filme, uma série de gargalhadas por parte da galera. Para quem não viu, deixa eu dar uma resumida: a moça é correspondente de uma revista importante (tipo a Time) em Serra Leoa e foi para lá a fim de investigar o esquema de tráfico de diamantes que rolava no país. Mais: era uma das últimas profissionais da imprensa estrangeira a permanecer (so-zi-nha) ali depois que a situação apertou.
Quando ela conhece um gatinho oportunista (Leonardo di Caprio) e um garimpeiro, encontra os grandes personagens de sua matéria. Antes disso, ela já havia feito coisas do tipo cobrir a vida dos talibãs no Afeganistão sozinha e sem burca. "Voltou com 3 mil palavras e mais linda do que nunca", diz um cinegrafista ao personagem de Di Caprio. Aliás, os diálogos do filme são fantásticos. As tais risadas despontaram na sala depois de uma explosão nervosa da moça, que diz algo do tipo: "Eu não vou descansar enquanto souber que, toda vez que um americano compra um anel de diamante, vidas estão se perdendo. Quero nomes, números, contas bancárias!". Ah, Jennifer Connelly...
Andie Anderson, de Como Perder um Cara em 10 Dias
É até sacanagem querer alguma veracidade num filme como esse, mas tudo bem. Me pareceu um exemplo perfeito de como o jornalismo é avacalhado nos filmes de Hollywood -- e, pior, é capaz de ter gente acreditando que a profissão é assim mesmo. A mina trabalha numa revista bem mulherzinha e é especializada em elaborar listas (como deixar seu cabelo perfeito, como perder um cara em 10 dias, etc.). Claro que ela faz isso contra a vontade, porque seu desejo é se tornar uma correspondente internacional. E aí, entre uma matéria fútil e outra, ela faz uma matéria edificante sobre as dificuldades do povo do Tajiquistão... sem nunca sair da redação climatizada em Nova York, naturalmente. E espera que a editora publique. Oh, céus.
Se alguém se lembrar de mais algum caso de filmes, novelas, séries, etc., fique à vontade para comentar.
3 comentários:
eu adoro essas surrealidades. uma vez um cara escreveu num suplemento do jornal em que eu trabalhava que toda vez que entrava lá na redação ficava esperando que, no fechamento, alguém levantasse de sua cadeira com uma folha de papel na mão e gritasse "parem as máquinas!"
ã-hã.
ainda bem que ele não ficou por lá esperando acontecer.
Olá!
Tô passando só pra avisar que te linkei e que, não bastasse isso, usei um trecho de um post teu lá meu blog (no Só me Falta). Já agradeço de antemão!
Valeu!
Ah, e aproveito pra dizer que encontrei esse espaço na net só essa semana, mas que desde então passo por aqui com frequencia para dar uma lida nos teus comentários. Parabéns!
Ei Mari, é a Pati, tudo bem?
Se atiçar a curiosidade de visitar meus pseudo-blogues, por favor não os leve a sério. Bom, o fato é que este post me lembrou a personagem de Katie Holmes no filme Obrigado por fumar. Jornalista, ela seduz o protagonista e consegue informações que lhe rendem uma matéria reveladora sobre o cara. Mas aí, encontrei algumas semelhanças com a vida real. Especulações à parte sobre jornalistas famosas que cresceram às custas de algumas relações sexuais secretas, podemos citar o caso Mônica Veloso, suficientemente escandaloso para comparar. =)
Beijinho e sucesso.
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