terça-feira, julho 28, 2009

Adoramos uma reforma

Legenda: A Acrópole, na Grécia, também precisa de uma reforma. Mas ela existe há um pouco mais de tempo que a capital brasileira.

Já falei e vou repetir: tem horas que Brasília, inaugurada em 1960, dá a impressão de estar caindo aos pedaços. Não sei se falei isso, mas também tenho a sensação de que as coisas aqui não são erguidas para durar.

Tipo assim: no projeto do lugar, parece já estar prevista a decrepitude rápida, de modo que muitas e muitas pessoas possam ganhar uns reais com projetos de arquitetura, reformas, materiais de construção, etc., etc. Pelo que vejo e pelas fofocas que ouço por aí, isso acontece em todo lugar. Em prédios públicos e privados, do mesmíssimo jeito.

Nesses últimos tempos, duas histórias me chocaram particularmente. A primeira, de uma amiga que comprou apartamento numa região novinha da cidade (chamada de Sudoeste Econômico). Pouquíssimo tempo depois de se mudar, descobriu que o prédio tinha uma ultramegahiperinfiltração estrutural plus. Tudo bem maquiado no momento da venda, naturalmente.

O lugar tem uns cinco anos de inauguração. Se Brasília, aos 49 anos, está para a arquitetura assim como os bebês estão para os seres humanos, imagine o que será então o prédio onde minha amiga mora.

Vai ter de rolar uma enorme reforma coletiva, claro. Milhões de reais gastos na loja de materiais de construção. Pedreiros em tempo integral. Barulho de obra no sábado de manhã... Entre outras coisas que todos nós adoramos.

A outra história é a do prédio onde esta blogueira mora. Inaugurado há ainda menos tempo, já teve os halls de entrada de todas as portarias (uns 10, no total) postos abaixo, praticamente demolidos. Um nojo. Fios aparentes, tapumes (sem nenhum grafite legal, snif), concreto para tudo quanto é canto. Tudo totalmente desnecessário, acho. Os halls antigos eram tão legais...

Daí que tive o seguinte diálogo dia desses:

- As obras da primeira prumada já terminaram. Você viu como ficou bonito? - quis saber um gentil mancebo.
- Não, não vi.
- Nossa, tudo direitinho. Caixa de correspondência assim. Piso assado. Portas de tal e tal jeito. Como deveria ter ficado de verdade antes, sabe?
- Ah, tá.

Ou seja: alguém lá atrás construiu as portarias de qualquer jeito, já ansiando pelo momento de botar tudo abaixo. Só pode ter sido, porque esse papo de "faltou grana para fazer as coisas direito" não vai estar dando para estar colando.

O que me consola, além da esperança de que as coisas finalmente sairão direito depois da reforma (será???), é saber que a grana para a ultrarreforma não vem do meu bolso. E sim daqueles que ainda insistem em comprar apê no coração do cerrado -- e ganham de brinde o boleto de taxa extra para bancar essas brincadeirinhas.

PS.: A foto, claro, é do incrível banco da Life/Google Images.

3 comentários:

RC disse...

Não sei se é o prédio da sua amiga, mas tem um prédio, se não me engano, na quadra 7, que teve de ser todo arrebentado para reforma (os moradores tiveram de sair dos apartamentos). Muitos outros prédios têm problemas de infiltração, revestimento caindo e falhas "menores". Imagina como a fiscalização na época deve ter sido BOA. Mas podia ser pior. Brasília podia ser um lugar em que o vice-governador, dono de hotéis, participasse diretamente de projetos públicos voltados para a área hoteleira e de turismo... ou, dono de construtora, participasse diretamente de decisões em projetos públicos ligados a zoneamento, melhorias viárias, políticas de transporte, etc. Ainda bem que não é assim.

Gui Scheinpflug disse...

É o Teatro dos Vampiros.

Quando morei em Brasília também teve reforma no prédio. Eu, que recém chegara na cidade e passava o dia em casa estudando, além de ter de conviver por mais de um ano com a barulheira diária de reforma no prédio assisti de lambuja a uma verdadeira "CPI" no prédio, acusações de robalheiras, suspende obra, retoma obra, foi praticamente uma comédia e eu poderia té mesmo rir, se aquilo não espelhasse o comportamento dessas mesmas pessoas dentro dos seus ambientes de trabalho público.

Welcome back!

Mari Ceratti disse...

RC: também fico aliviada por tudo isso, companheiro.

Gui: seu comentário superprocede. Me fez da frase de uma moradora do prédio de uma outra amiga: "Vamos botar blindex na portaria, para ficar igual à do meu ministro". É mole??? Beijo!