sexta-feira, julho 03, 2009

Raquel

Os homens sonham com mulheres lindas, mas se casam mesmo é com as normais. E antes que qualquer pessoa ache que estou começando um manifesto piegas em defesa das pessoas normais -- porque afinal, são elas que vivem de fato uma vida real, namoram, se casam, engravidam, etc. --, eu digo: não é nada disso.

A mulher normal, sinto informar, é aquela "que deu para arranjar".

Nessa mesa bagunçada de almoço de domingo, rodeada por outras mesas bagunçadas, cheias de mulheres, maridos e filhos, fico me perguntando se sou apenas o que deu para ele conseguir. Acho que sim. Ele também foi o que eu consegui. E sinto que não há muita diferença naqueles que vejo no resto do restaurante.

Enquanto luto para dar conta dos espetos que se revezam e as crianças, ainda consigo observar ao redor. Administrar o marido é fácil: basta que ele não abra a boca para falar.

Minha Nossa Senhora da Pipa, quanta gente feia. Não consigo imaginar como pode ter existido o dia em que essas pessoas se olharam, gostaram umas das outras, sentiram tesão, transaram e acharam legal a ideia de botar mais gente feia no mundo.

Eu não me lembro bem como tudo isso aconteceu comigo. Achei que fosse a sequência natural das coisas, sabe? Encontrar alguém que tenha um interesse razoável por você, namorar, casar, financiar um apartamento em 30 anos, fazer um casal de filhos antes dos 40... não sei se li isso em algum lugar ou se alguém me disse que era assim que pessoas normais viviam.

Pois bem: tenho uma aliança, um casal de filhos, um apê financiado, uma vaguinha no governo e acho tudo isso... ah, deixa pra lá.

Preciso que alguém leve os meninos pra brincar no playground. Preciso que esse cara ao meu lado vá embora. Preciso de atrativos físicos. Preciso poder usar as roupas que vejo na revista. Preciso do tempo que perdi conseguindo todas as coisas que consegui.

Quero outras coisas. Outra vida. Voltar para esse mundo de outro jeito. Ah... também acho que quero mais um pão de alho antes de tudo isso.

2 comentários:

Alexandre Correia disse...

Olá Mari!

Engraçado, mas já vivi tantas vezes essa experiência de estar algures num local público, olhar em volta e sentir que estou rodeado de gente feia (literalmente, mas também muitas vezes ainda pior por dentro...) e dar comigo a pensar que talvez não tivessem conseguido arranjar melhor. Concordo quando diz que essas uniões só aumentam a população de gente feia no mundo (e aqui volto a considerar as duas classificações acima) e confesso que eu próprio já me interroguei algumas vezes, como conta no seu texto, sobre quem está ao meu lado. É nessas alturas que somos levados a admitir que não faz sentido e que só há uma solução: ficar por ali. Por isso já me separei algumas vezes. Não direi que me tenha juntado outras tantas com alguém que "foi o que se arranjou", mas reconheço que por vezes vi cedo demais que não devia ter arranjado nada. Parabéns pelo texto. Está muito divertido e é incrivelmente verdadeiro. Contudo, nunca somos donos de toda a verdade!...

Alexandre Correia

bceratti disse...

show!