quinta-feira, dezembro 29, 2005

Antimanual de redação

Estou de recesso de fim de ano, nem deveria pensar em trabalho, em pauta, em nada disso. Mas só em dias assim, de folga, dá para pensar em atualizar o blog a essa hora, com um texto grande como este que planejo há semanas.

Ninguém precisa ser editor, nem revisor, para ter uma picuinha com certas palavras. É só ver nos textos dos outros que a gente fica se coçando para cortar, ou riscar com a caneta mesmo. Eu não poderia ser diferente. Assim como tenho meus vícios de linguagem, não nego a preguiça que tenho com um monte de termos e expressões. Preciso riscá-los, eliminá-los, tampar meus ouvidos quando os ouço no rádio ou na TV. Algumas dessas implicâncias eu adquiri na lida com gente mais experiente, outras brotaram na convivência diária com as letras. É com elas que construo meu antimanual de redação.

Possuir - Eu não era nem formada, e a Fernanda Lambach, já me dizia o que Noblat havia ensinado: "Um espírito possui um corpo. Um homem possui uma mulher. E só". Pronto. Nascia aí minha repugnância ao verbo possuir. E até hoje eu digo isso aos estagiários. E quando alguém escreve o verbo na forma errada, possue? Urghhhh.

Disponibilizar - Quem foi que inventou essa coisa? É tão mais fácil escrever o certo. Dispor. Eu disponho de. Eles dispõem de. E por aí vai. Aí, um belo dia, eu recebo um material informativo (não vou lembrar o assunto) com uma mensagem em CAPS: Disponibilizamos de foto em alta resolução. Pronto. Alguém criou um monstro.

Customizar - Do inglês custom, personalizar. Isso deve ter vindo de algum manual de telemarketing. Só pode. Como disseram as meninas da revista TPM (que também odeiam o verbo) em um artigo: Customize o c*******!!!!

Estado da arte - Do inglês state of the art, aquilo que há de mais moderno. Já é curioso pensar de onde o cidadão angloparlante tirou inspiração para criar algo tão... original. É algo que certos executivos de tecnologia adoram falar para mostrar alguma coisa (conhecimento? empáfia?). Ainda vou sair correndo quando alguém disser isso.

"Essa coisa de" - Obrigada, Ricardo, por me lembrar que essa também merece estar no antimanual. Reconheço que de vez em quando eu solto isso, mas é promessa de 2006 parar. Afinal, "essa coisa de" é o que mesmo? É uma coisa de encheção de lingüiça básica, hehe. Me dei conta de que a expressão é horrorosa quando assisti a uma entrevista da Gabriela Duarte na Gabi. O horror lingüístico, é bom lembrar, vinha da atriz, não da jornalista.

Lição de solidariedade / cidadania/ vida / qualquer outra coisa - Aaaaaaaaaargh!!!!!!!!! Usado em profusão em qualquer texto de final de ano, Natal, páscoa, histórias de superação humana e por aí vai. Tudo bem, a gente aprendeu na faculdade que nosso trabalho deve ser um serviço público, educar na medida do possível, etc., etc. O cidadão já ganha pouco, toma esporro do chefe, é obrigado a andar de ônibus e se molhar quando chove e os carros passam por cima das poças... ainda vai ter de tomar lição de solidariedade / cidadania/ vida/ moral / o c******? Ah, não. Quem dá lição é a tia chata da escola.

8 comentários:

Anônimo disse...

Amiga,

Não interessa está de férias. Não interessa se eu nunca fui de verdade uma jornalista. Mas pra quem gosta de escrever, não há hora pra achar e falar dessas coisinhas repugnantes que aparecem por aí, na boca e no texto de todo mundo...
Boa sorte e não deixe que isso tire você do sério...
Beijo e saudades!

Anônimo disse...

Amiga,

Não interessa se você está de férias. Não interessa se eu nunca fui de verdade uma jornalista. Mas pra quem gosta de escrever, não há hora pra achar e falar dessas coisinhas repugnantes que aparecem por aí, na boca e no texto de todo mundo...
Boa sorte e não deixe que isso tire você do sério...
Beijo e saudades!

Felipe disse...

Concordo com algumas coisas. Mas outras são caprichos sem explicação. Por exemplo, essa de "possuir" (que eu também herdei da Tânia Fusco, antecessora do Kido Guerra na editoria de Suplementos). Qual o problema com a palavra? Não vejo mais assim. Outra coisa é não poder usar "esposa" no jornal. Todo mundo fala assim também. Qual o problema, sabe? Disponibilizar é horrível!!! E customizar nada mais é do que personalizar.

Mas a melhor de todas é escrever poçante com cedilha.

Beijocas

Anônimo disse...

Olá, Mariana!
Nós não nos conhecemos ainda, mas eu trabalho no CorreioWeb. Caí aqui no seu blog por um acaso e achei um barato esse último post. Muito útil, aliás.
Eu, particularmente (na verdade não tão particularmente assim) tenho ÓDIO MORTAL de gerundismo. Hoje mesmo precisei cancelar um serviço da Brasil Telecom... aumentou-se profundamente a minha carga de ódio... acho que você pode imaginar. É angustiante...

Carolina Pinheiro disse...

Mari,
ainda bem que vc não entrevistou meu ex-chefe ainda!

Anônimo disse...

Já me haviam usado essa es~´oria do possuir. Mas eu uso e gosto do verbo. Ainda mais que ninguém possui mulher hoje em dia (coisa mais machista) e possessão por espíritos não é apropriado para minha mente cética.

Anônimo disse...

Disponibilizar está certo sim, senhora! Disponibilizar tem o sentido específico de dispor de algo para o público em geral.
(Eu defendo com força as minhas idiosincrasias verbais). :-)

Anônimo disse...

Nesse ritmo vai substituir o professor Pasquale...