terça-feira, julho 07, 2009

Da materialidade - atualizado

O que faz uma pessoa, num dia de sol e milhões de possibilidades, pegar um metrô para ir visitar tumbas de gente famosa?

Essa pergunta me ocorreu antes, durante e depois da visita a um dos cemitérios mais famosos do
mundo: o Père Lachaise, em Paris.

Ao SMM (senhor-meu-marido) e aos amigos, disse, convicta:
- Vou ver o Jim Morrison e o Oscar Wilde.

Como se fosse possível, né? Porque a essa altura do campeonato os dois já adubaram e readubaram a terra incontáveis vezes.

Na verdade, eu queria ver a muvuca feita em torno da tumba do vocalista do The Doors. Li na adolescência que os fãs dele faziam a maior festa, cantavam as músicas da banda, etc., e fiquei achando que aquilo devia ser um superespetáculo de luxo antropológico.

Quando cheguei ao túmulo, rolou uma certa decepção. Seguranças estrategicamente posicionados cuidavam do silêncio e da ordem no lugar. Nada de violões, nada de gente cantando, nada de desconhecidos bêbados se abraçando ao som de Light My Fire, etc.

O máximo permitido ali era chegar, bater uma ou outra foto e ir embora. Dá para compreender, principalmente depois que a gente vê o resultado dos arroubos dos fãs na sepultura do roqueiro.

Morrison disputa com Oscar Wilde (enterrado sob essa figura meio egípcia) não só o título de habitante da tumba mais concorrida do Père Lachaise, mas também o de jazigo com mais marcas de batom.


É engraçado que alguém queira manifestar assim o seu amor. Afinal, teoricamente, o que se beija não é a boca de Morrison, nem a mão de Wilde, mas uma parede de mármore, né não?

Bom, não. De alguma forma bizarra, os ídolos mortos acabam se materializando nas pedras dos sepulcros. Não tivessem as coisas essa carga simbólica, ninguém ia sair por aí metendo a boca naqueles túmulos cheios de bactérias. Também ninguém se ofenderia com aquele chute que o bispo deu na santa (mas isso é outra história).

Ok, vi o roqueiro e o escritor (ops). Da sepultura do Wilde até a entrada do cemitério, é necessário fazer uma caminhadinha. Perguntei-me por que não dar um alô a outras pessoas: Chopin, Edith Piaf, Sarah Bernhardt, Gertrude Stein, Maria Callas (a tumba é só para constar, já que as cinzas da cantora foram jogadas no Mar Egeu), Abelardo & Heloísa (pense novamente no ciclo de adubação-readubação repetido através dos anos) e por aí vai.


Tirei mais um milhão de fotos, da mesma forma que faria se essas pessoas estivessem na minha frente. É para isso que os turistas vão lá. A gente pode até assistir a um vídeo do Morrison no Youtube ou ouvir um disco inteiro de músicas da Piaf. Mas chegar perto do ídolo (ou o que foi feito dele) em sua versão material, carnal, dá uma emoção ao mesmo tempo estranha e intensa. Fora que ali nenhum astro ou estrela vai dar piti porque você, fã, está perto demais ou fotografando demais ou emocionando-se demais.

Essa história toda volta à cabeça nesses dias em que se conjectura sobre o funeral de Michael Jackson -- da mesma forma como se especulou sobre o artista enquanto ele viveu. Interessante ver como será essa despedida pública sem corpo (já que este será visto apenas no funeral reservado à família). O que ou quem os fãs tocarão e beijarão na falta de uma parede de mármore?

Update às 14h37: mudou tudo, minha gente. A cerimônia começou... e com MJ no meio do povo.

5 comentários:

Gui Scheinpflug disse...

Eu também paguei esse mico de visitar o Père Lachaise, e como voce, me decepcionei muuuuito. O tumulo do Jim eu nem sequer tive vontade de fotografar. O cemitério da Consolação, em São Paulo, deixa o Père Lachaise "no chinelo" com a quantidade e qualidade de esculturas maravilhosas e túmulos fantásticos, de pessoas que fizeram a história no nosso Brasil. bjs!

Mari Ceratti disse...

Oi, Gui,
Eu não diria que a experiência foi um mico. Só fiquei, sei lá, meio perplexa. ;-) Acho que com isso dá para excluir os cemitérios chiques da lista de programas a fazer nas viagens... da mesma forma que já fiz com os zoológicos. Depois que me decepcionei com o de Berlim, ano passado, não vejo grandes razões para insistir nesse tipo de atração. Beijo!

Anônimo disse...

Nossa vocês acreditaram nessa florzinha preta, olha quem tá desapontado aqui sou eu. Meu deus, essa flor não existe é montagem, isso ai é tudo photoshop cs2.
entenderam.
Não façam isso, não tem ninguém morto ali.

Anônimo disse...

Aliás, o que a flor tem a ver com o michael jackson? Não entendi.

Mari Ceratti disse...

Acho muita graça em quem faz uma acusação tão grave -- a de que eu adulterei uma imagem para enganar os outros --, mas se mantém anônimo.

A flor estava lá, no Cemitério Père Lachaise, em Paris, eu vi e fotografei. Não tem lente especial nem Photoshop.

Se não entendeu o post, se não gostou do blog, a solução é: não volte.

Simples assim.