quinta-feira, agosto 06, 2009

Festinha americana - 2



Existe uma fase na vida em que meninos e meninas se odeiam. Depois, outra em que um corre atrás do outro -- e aí eles passam o resto da existência brincando de "menina pega menino" (e vice-versa).

Entre essas duas, existe uma outra em que ambos os lados ensaiam uma tolerância, mas ainda não sabem como lidar com as coisas do amor (isso foi brega). Quando eu era mais nova, essa era a fase em que as festinhas americanas incorporavam música lenta ao repertório.

Tinha, por exemplo, Oceano, do Djavan, da trilha sonora de Top Model. Não, não se tocava a música do Placa Luminosa que fez parte da seleção musical da mesma novela.

O momento em que o DJ botava Oceano na vitrola era crucial. Os primeiros acordes criavam no mesmo minuto uma atmosfera meio tensa no salão.

Quem, afinal, teria cara de pau suficiente para chamar as meninas para dançar? E quem teria coragem de aceitar o convite dos meninos?

Então, meninos e meninas -- que até então dançavam juntos numa boa os passinhos dos sucessos do pop, numa prova total de boa convivência -- se dividiam. Cada grupo escolhia uma parede do salão e ficava ali, encarando o outro lado, como se um pelotão de fuzilamento estivesse à frente.

Isso quando um grupinho de meninas não ia se esconder dos meninos.

A dança lenta das festinhas tinha um código de regras informal, mas amplamente aceito pelo grupo de baladeiros mirins (hehe).

Primeiro de tudo: garotos tiravam garotas para dançar, salvo decisão em contrário por parte das chicas.

Segundo: moleque que era moleque chamava menina por menina, ainda que por dentro torcesse para ela não aceitar o convite. Pular alguém do paredão de fuzilamento grupo da parede em frente era de uma tosquice só comparável a bater na mãe em noite de Natal.
Alguns meninos paravam de chamar as colegas depois que elas recusavam da primeira vez -- mas nem todos faziam isso.

Terceiro: se você dançasse a noite inteira com determinado colega, isso não queria dizer nada. Não significava beijo nem namoro (uma leve quedinha, talvez). Afinal, eram todos pós-crianças e pré-adolescentes desengonçados, cuja balada ia das 20h às 23h.

A questão da distância entre o par dançante também é digna de observação. No início, o tamanho da separação entre os corpos era mais ou menos o de um braço. Basta dizer que ela ia diminuindo à medida que os pré-adolescentes tronchos davam lugar a teenagers loucos e hormonais.

Até que chegasse o ponto, é claro, de não ser mais necessária essa desculpa besta de música lenta para quem quer que fosse se aproximar de quem estivesse a fim.

5 comentários:

I Am Evil disse...

Argh, Djavan e onda saudosista...
Ainda bem que eu fui no hipnotizador para apagar toda e qualquer lembrança da minha adolescência.

Mari Ceratti disse...

Confessa aí, companheiro: você dançou muuuuuuuuuuuito essa música.
;-)
PS.: eu sei que não, tá? Hehe. Bjo

Alexandre Correia disse...

Olá Mari!

Confesso que era muito, muito tímido quando adolescente e na hora destas músicas achava sempre que ninguém ia querer dançar comigo, portanto o melhor era nem tentar. Talvez por essa timidez, ou vergonha, nunca fui capaz de dançar; salvo algumas excepções, mesmo raras, em que admito ter perdido o controlo sobre o que bebi e acabei fazendo o que não pensei. Felizmente, nada de errado. A última dessas ocasiões foi há cerca de 20 anos e claro que já não era adolescente (nem assim tão tímido...), mas não resisti a entrar no salão de festas de uma pequena povoação 100 km a norte de Lisboa, onde estava a decorrer uma dessas festas; aí vinguei-me e começei numa ponta e só acabei na outra. Convidei todas as mulheres para dançar, fossem novas ou velhas. Cada uma que abordava, perguntava: "A menina dança, tem par ou descansa?" Havia muitas com as mães e até as avós! E como ninguém aceitou, também não me ralei: dançei com o meu amigo e foi um escândalo. Todo o mundo parou e ficou a olhar como se fossemos bicho raro. Enfim, não éramos um casal gay (uma foto desse momento arruinava-me a reputação hoje...) mas acho que fomos convincentes quanto a isso e se hoje ainda há muito preconceito, imagine nessa época. Mas gostaram do espectáculo, porque dançámos alguns grandes clássicos e só de lembrar-me, enquanto escrevo, fico aqui a rir-me sozinho. Obrigado por me ter lembrado!

Um beijo,

Alexandre Correia

Mari Ceratti disse...

Alexandre, essa história é boa demais! Beijo!

Anônimo disse...

Good