segunda-feira, janeiro 11, 2010

Balada incerta


Sabe uma época em que não havia nada para fazer em Brasília, a não ser xingar essa cidade de terra vermelha e efervescer de tédio nas festinhas dos amigos?

Sei que já escrevi um texto falando disso, mas acontece que fui numa balada estranha no sábado e me senti voltando de novo àquele tempo.

Foi mais ou menos assim: quando um amigo falou que alguém faria uma festa para ocupar os dois apartamentos (antigos, enormes) do andar de um prédio, fiquei mais ou menos como Bart e Lisa pedindo a Homer Simpson que os levasse ao Monte Salpicante.

Tinha certeza de que iria ver metade da população de Brasília com idades entre os 18 e os 39 anos, todos se espremendo para fazer algo incerto.

Por algo incerto, entenda-se tentar beber, tentar conversar, tentar ver gente, tentar fumar, tentar fazer carão e, dependendo do caso, tentar pegar geral e dançar até o chão.

Por que tanta gente faz isso? Ora, porque quer experimentar algum programa noturno que vá além das 2h, quando os bares que sobraram nesta cidade expulsam todo mundo.

Minha certeza começou a se estabelecer no momento em que cheguei lá e vi uma galera simplesmente fazendo nada, sentada no pilotis batendo papo, bebendo, fumando e esperando algo acontecer. Nessas festinhas, o vão livre do bloco vira espaço público por algumas horas, algo muito raro por aqui.

Quando decidi seguir para o apê-balada, tive a impressão de estar no Elevador Lacerda (de Salvador) ou naquele elevador perto do centro de Lisboa, pois havia fila para pegar tanto o social quanto o de serviço.

Depois de subir uns andares, abri a porta do elevador, escolhi o apartamento da esquerda, achei um lugar onde ainda havia espaço para dois seres humanos e ali fiquei. Minha festa, dali pra frente, ia consistir em ficar observando as pessoas (o que, para mim, já é um programão). E muita gente ali estava de pé, fazendo o mesmo. É a única alternativa viável quando não cabe mais ninguém no recinto.

No da direita, as coisas não eram muito diferentes, a não ser pela música. Podia-se tentar dançar ou pegar uma bebida na cozinha. Aliás, foi na cozinha que me senti no meio de uma boiada, fiquei com medo que alguém começasse um incêndio (e todo mundo morresse) e ouvi a frase "Cara, isso aqui está igual a uma suruba" ser dita no meio da manada.

E foi assim que, com 10 minutos de festa, resolvi ir embora. Não sem antes encontrar uma amiga querida da escola, ouvir a frase "Nossa, olha a machaiada!" ser dita por um menino novinho e ver a multidão que tentava subir para fazer nada -- só porque ela precisa urgentemente tentar se divertir.

Eu não me diverti muito, mas pelo menos voltei com uma crônica para casa.

6 comentários:

Felipe disse...

Caracas, eu QUASE fui nessa festa. Tava no Beira Norte (meu bar preferido) com um amigo meu, colega seu aí do jornal, e chegou um outro conhecido e disse: "Tá rolando uma festa num apê por aqui. Vou pegar mais informações e se tiver boa, eu te ligo". Não ligou.

Mas eu discordo de você no ponto "não tem nada pra fazer". Tinha uma festa bem legal na landscape e se você procurar, para uma cidade do tamanho de brasília, tem um monte de alternativas, que passeiam do rock ao samba, balada de playboy, pub com banda ao vivo, eletrônica, forró e esses outros lixos.

Seu problema é o mesmo meu: tem bom gosto e é um pouco exigente. Como eu lamento ter recebido muita informação na infância. Melhor seria ter permanecido na ignorância.

Beijocas, querida!!

Mari Ceratti disse...

Beira Norte = Beirute da Asa Norte?

Então, eu não disse exatamente que BSB não tem nada para fazer... na verdade, por algum motivo, essas festinhas lotadas em prédios antigos por algum motivo me remetem ao tempo em que a cidade era completamente morta, é isso. ;-)

Minha revolta mesmo é com esse horário de fechamento dos bares. O relógio dá 1h e a galera já começa a limpar e a levantar as cadeiras para mandar os frequentadores irem embora. Isso é bem chato, vc há de concordar comigo...

Beijão!

Arthur H. Herdy disse...

Eu super ouvi rumores dessa festinha, mas os comentários de quem foi eram semelhantes aos seus. Mas, poxa, a ideia é até boa, vai. =P

Com relação a eterna discussão sobre a noite brasiliense, eu já me conformei. O futuro é sem fígado: o negócio aqui em Brasília é BEBER. Só.

Pelo menos, em minhas raras incursões em outras metrópoles, descobri que as coisas não são tãooooooo diferentes assim. Segunda, por exemplo, é um dia praticamente morto. Até no Rio e em São Paulo, veja só! Ou eu não soube procurar. Enfim. Encerro por aqui esse fluxo de consciência. Daqui a pouco nem eu entendo mais nada. HAHAHAHAHAHA.

Um beijão! Miss ya!

=)

Felipe disse...

Sim, sim, eu concordo com você. É nefasta essa lei do silêncio. Aqui é o unico lugar do mundo onde o direto privado prevalece sobre o direito público.

Marcelo Saboia disse...

Pra quem escreve, voltar com 'uma Crônica para casa' é melhor que nada...

Mari Ceratti disse...

Arthur: seu comentário confirma o que eu desconfiei. Brasília inteira sabia dessa festa, mas "só" metade foi.

Marcelo: é isso mesmo!