terça-feira, outubro 19, 2004

Tarja preta

Então... numa hora em que eu tiver mais tempo, eu conto tintim por tintim as histórias do plantão, especialmente a do incêndio ontem no Cruzeiro.
Uma coisa mais grave, e portanto mais urgente, precisa ser falada.

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Vladmir Herzog, jornalista, diretor de jornalismo da TV Cultura, passou por algumas das piores humilhações a que um ser humano possa estar sujeito. Morreu como ninguém merece e, para completar, ainda tentaram esconder a história como ela realmente aconteceu. Não fosse a intervenção de um rabino (Herzog era judeu), que percebeu marcas de tortura, o jornalista teria tido um enterro muito diferente: o judaísmo condena o suicídio (versão oficial para explicar a morte de Herzog) e, por isso, quem se mata é enterrado nos cantos dos cemitérios. Felizmente, percebeu-se a injustiça e a cerimônia aconteceu de modo bem diferente.

Todas essa história começou a ser recontada na edição de ontem do jornal, inclusive com novas fotos, que chocaram a viúva de Vlado, Clarice.

Em todas elas, o jornalista aparece nu, sentado no estrado de uma cama, com as mãos na cabeça. O cenário é o "aparelho" de repressão (em São Paulo) para onde Herzog foi enviado antes de ser torturado e morto. Uma delas, que mostra Herzog de frente, foi para a capa do Correio.

Resultado: uns e outros ligaram e escreveram e-mails para dizer que a foto com a nudez era uma coisa indigna, apelativa, imoral e por aí vai. Talvez essas pessoas tivessem sentido falta de uma simples tarja preta, daquelas que servem para esconder "as vergonhas".

Tem gente que não tem mais o que fazer da vida, né?

Vamos combinar: nas fotos do jornal de ontem, a coisa menos obscena e vergonhosa é, certamente, a genitália de Vladmir Herzog.

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