Eu mal tinha aberto a porta para sair do carro, um cara de camiseta velha, bermuda, chinelos e uma enorme cicatriz de faca na mão (ainda com as marcas da sutura) veio correndo na minha direção. Quatro alternativas se abriram à minha frente:
a) Um flanelinha já querendo garantir o dele
b) Assalto
c) Seqüestro-relâmpago, em plena luz do dia, em uma das quadras comerciais mais movimentadas de Brasília
d) Uma pessoa querendo pedir dinheiro
(Gente, desculpem o preconceito, mas vou fazer o quê, acontece, ué)
Quem pensou na alternativa "d" acertou.
- Oi, dona.
- Oi. Dá licença que eu quero sair do carro, faz favor.
- Olha só. Eu sou dependente químico e queria pedir uma ajuda, qualquer dinheirinho que você puder me dar. Se eu disser que vou usar isso para comprar um pão, eu vou estar mentindo, mas...
- Vai dar não, cara. Tô a zero.
- A gente tá sem dinheiro hoje - interveio o Erasmo
- Beleza, beleza, falou, brigado - e o cara, mais um outro, saiu descendo a rua
O Erasmo estranhou o tanto que eu fiquei travadaça diante da abordagem do pobre homem, mas isso porque ele não tinha ouvido o que eu ouvi: o cara estava contando com a minha compaixão pra ir ali comprar um fuminho (ou uma pedrinha, ou um pozinho, ou um gorozinho, ou qualquer coisa que o valha) e estava dizendo aquilo com todas as letras.
Eu me fiz e continuo fazendo uma pergunta que tenho feito com freqüência nos últimos tempos: É normal isso, essa sinceridade cortante? Ou é caso de óleo de peroba? Ou eu vivi em uma bolha até hoje e não havia me dado conta?
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