quinta-feira, abril 02, 2009

Classificados - 2

Essa é a segunda parte do texto de ficção Classificados, que começou ali embaixo. Voltem lá para ler do começo, ou este blog se autodestruirá em 10 segundos! hehe

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Mais tarde naquele dia, quando o expediente estava quase no fim, Alessandra abriu duas janelas no Gtalk. Uma para tentar falar com Hugo.


— Querido, vi uma camiseta do Pixies no Conic sábado e me lembrei de você. Beijo — escreveu.

A outra janela era para conversar com Lu, amiga que trabalhava na seção de classificados do jornal onde viu o anúncio do ex-colega.

— Miguxaaaaaaaaaaaaaa — escreveu Alessandra.
— Quem vê vc de terninho de alfaiataria até pensa q vc é séria… hauhauhauahuahuahuauaua — respondeu Lu.
— Amiga, deixa eu te perguntar um negócio. Tem como eu botar um anúncio nos classificados como forma de sacanear outra pessoa?
— Como assim?
Cara, uma história cabulosa. Acho que alguém botou um anúncio no jornal se fazendo passar por um amigo meu. E esse anúncio é daqueles de pessoas que pedem ajuda financeira em troca de um sweet love.
— Shit!!
— Pq?
— Porque é impossível fazer isso nesse tipo de anúncio. A pessoa não pode anunciar sem apresentar um documento de identidade e autorizar pessoalmente a publicação daquele texto.
— Sei…
— A gente faz isso para evitar problemas, processos, sabe?
— Entendi. Tô passada, amiga. O menino não dava a menor pinta de nada.
— Vcs estavam ficando?
— Não… longe disso.
— Ele é gatinho, pelo menos? Me diz que anúncio é para eu ligar pra ele… rsrsrsrsrsrsrs.
Rica de dinheiro, carente de amor. VC é assim? Sou novinho, bonito e preciso de aj. financ. Podemos conversar e ++++++…
— Hauhauhauhauauahuahuahuahuahuahauhauhauahuhauahuahuahuahuaha!!!!
— Que tal????
Sou pobre e auto-suficiente (com hífen ou sem??). Ele não dá para mim. Hahahahaha. Preciso ir, Alê.
— Eu tb. Vamos almoçar no fim de semana??? Bjão. Ah, agora é autossuficiente. Eca.
— Vamos. Sexta eu te ligo para a gente decidir o lugar. + bjo.

A resposta de Hugo na outra janelinha nunca veio.

Levando isso em conta, Alessandra resolveu esquecer a história. Tinha ficado muito, muito, quase patologicamente curiosa (era de sua natureza), mas também não ia perder tempo com futricas. O menino não era amigo nem nada, era colega, companhia de almoço no chinês, só isso. O anúncio rendeu umas risadas, uns papos engraçados e fim de linha.

O sábado chegou, Alessandra almoçou com Lu. Semanas depois, a temporada de chuva acabou e a Páscoa passou voando. Meses depois, quando a grama dos jardins passava do verde para o bege-palha, a moça saiu sozinha do escritório na hora do almoço e viu-se numa espécie de bifurcação imaginária. Podia comer no chinês — sem Hugo, claro — ou no shopping. Preferiu a segunda opção. Estava de botinhas de salto e não queria detoná-las no caminho de terra até o Ni Hao (esse era o nome do restaurante).

Andou devagar entre as lojas da praça de alimentação lotada. Viu sanduíches, saladinhas, massas, sushis e grelhados. Resolveu pedir um risoto com filé e esperar na primeira mesa vazia que encontrou. Quando começou a comer, viu que alguém tinha parado de pé à sua frente.

— Quer dizer que você lembra de mim quando vê o Pixies…

Era o Hugo.

Continua amanhã.

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