terça-feira, fevereiro 08, 2005

Descompasso

Nas minhas últimas idas ao cinema, uma coisa tem me chamado a atenção, em meio aos milhões de anúncios insuportáveis que são exibidos antes do trailers. (Vejam: antes do filme, a gente só assistia aos trailers, uma forma legal de avaliar os filmes que estão para chegar. Agora, temos que agüentar umas coisas tipo IGRaiders e outras merdas).

É o anúncio patrocinado por representantes da indústria do entretenimento (se estivéssemos nos EUA, seriam a RIAA e a MPAA. Mas, aqui, confesso que não sei os nomes). Nele, vemos uma seqüência de imagens tremelicantes, com uns textinhos em maiúsculas intimidantes:

VOCÊ ROUBARIA UMA CARTEIRA??????
VOCÊ ROUBARIA UMA BOLSA?????
VOCÊ ROUBARIA UM CELULAR???
...
BAIXAR MÚSICAS E FILMES PELA INTERNET É ROUBO
VOCÊ FARIA ISSO???

Não sei se o texto é exatamente esse, mas a idéia é bem essa. Em meio a tudo isso, só falta surgir um senhor de túnica e barbas brancas, condenando ao inferno aqueles que fazem download de músicas e filmes pela web. Assim, bem exagerado.

Pois é: nas primeiras aulas da faculdade de comunicação, a gente já aprende que não adianta tentar se comunicar se a gente não sabe direito quem é nosso público-alvo. E, creio eu, o problema acometeu os nobres mocinhos que criaram o comercial para ser exibido no cinema.

Aquela mensagem não deveria ser exibida para as pessoas que estão comodamente sentadas em suas poltronas. Afinal, elas estão ali justamente porque simplesmente não estavam a fim, ou não tinham os meios apropriados para baixar filmes na web. Nessa condição, eu é que me sinto roubada de ter de pagar um ingresso caríssimo (eu ainda tenho carteirinha de estudante de jornalismo econômico. Mas e quando março chegar e a carteirinha vencer? Lascou) toda vez que quero ver algo. Só que eu não estou a fim de ver filmes no monitor do micro! E o custo daquelas famílias enormes que, além de ingresso, pagam estacionamento de shopping ou flanelinha, pipoca, refrigerante para a molecada, etc., etc.? É ou não é roubo?

Definitivamente, esse não é o público no qual o anúncio deveria estar focado. Não tenho pesquisas comprovando, mas acho que dá para inferir que, quem gasta os tubos para sair de casa e ir ao cinema não apela para a internet assim tão fácil. E os nobres mocinhos, com sua nobre causa, pelo jeito ainda não se deram conta disso.

Eles também poderiam parar para pensar: se há gente baixando vídeos e músicas de graça pela internet, é porque alguma coisa está muito errada e ultrapassada com os atuais modelos de negócio da indústria do entretenimento. E, em vez de ficar torrando a paciência da pobre audiência do cinema, os nobres mocinhos bem que poderiam voltar seu tempo e massa cinzenta para adaptar a indústria à nova era dos bits.

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