segunda-feira, julho 18, 2005

Fru-fru

Que entrevistinha bem ruim essa do Lula ontem, no Fantástico.

Eu nem sei quanto tempo durou o papo de uma jornalista brasileira – cujo nome é desconhecido, e a única coisa que se sabe é que ela é de uma TV francesa. Mas em TV, cada segundo é precioso (uma matéria de jornal dura, no máximo, 1 minuto e meio). E foram muuuuuuitos os minutos gastos para que Lula finalmente abrisse a boca para um jornalista, coisa que há tempos ele não fazia. Minutos intermináveis.

Francamente: para ver o que eu vi, preferiria mil vezes ter assistido a uma propaganda partidária qualquer. Duda Mendonça não faria melhor.

Em meio à denúncias de mensalão, CPIs, parlamentares sem-noção (leia-se Roberto Jefferson, Rodrigo Maia et al), o que se esperava era que o presidente esclarecesse um pouquinho que fosse disso tudo. Mas não. A menina até perguntou de corrupção, mas a resposta teve um viés (claro) favorável ao governo. E parou por aí. Soltou vários "infelizmentes" ao falar dos problemas do PT, perguntou onde Lula se via em 2006, etc., etc. E as respostas não traziam nada que fosse realmente novo.

Lula somente chamou a atenção quando disse que "o PT é muito independente do governo e o governo federal é mais independente ainda do partido". Como se ninguém se lembrasse da enorme estrela vermelha "plantada" nos jardins do Palácio da Alvorada, do broche de estrela presente no terno de Lula no começo de sua administração (com ele, o presidente fez suas primeiras audiências internacionais)... como se ninguém lembrasse das críticas a respeito da mistura excessiva entre partido e governo. Ora, ora.

O que já ouvi hoje de manhã, e que outras pessoas devem comentar ao longo do dia, é o quanto essa jornalista desconhecida se revelou despreparada para entrevistar um presidente da república. Eu não sei se "despreparada" é uma boa definição, mas certamente ela estava deslumbrada com (oh!) conversar com o presidente do Brasil, com (oh!) fazer uma entrevista exclusiva com Lula, com (oh!) a possibilidade de exibir seu material na Rede Globo. Todo esse deslumbramento, por si só, já foi o suficiente para queimar o próprio nome diante de vários (não todos) os coleguinhas e de milhares de telespectadores.

Eu ainda estou incerta quanto ao "despreparo" (para usar uma palavra que ouvi no rádio agora cedo) da moça pelo seguinte: vamos imaginar que a orientação do chefe francês dela era a de fazer uma entrevista favorável, já que os franceses ovacionaram mesmo o Lula durante o período em que ele esteve lá. Hum... hipótese absurda... melhor descartar.

Melhor assim: vamos supor que ela até tinha umas perguntinhas decentes para fazer ao Lula, mas obviamente o partido (com a vocação autoritária que tem mostrado nos últimos tempos) tratou de censurá-las. Quer ter o privilégio de falar com o presidente? Então vai ter de conduzir o papo para o que o presidente quer dizer. E assim a história aconteceu.

Quando Glória Maria anunciou que "a Globo não teve nenhuma interferência na formulação das perguntas", estranhei. Mas depois aquilo me soou como um pedido de desculpas da emissora.

*suspiro*

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