terça-feira, julho 12, 2005

Minha mãe tinha uma incrível máquina de escrever Remington, que eu nunca perguntei de quem ela tinha herdado, ou se era dela mesma. Era uma máquina antiga, cujas teclas ainda não apresentavam aspecto parecido com os atuais teclados de computador.

Elas eram meio duras, planas (a ponta do dedo cabia direitinho naquele formato redondo delas) e eram ligadas por uns cabos metálicos muito duros ao local onde ficavam o que eu chamo de tipos (aqueles bloquinhos de metal com a letra moldada). Funcionava assim: você digitava, a fita de cor (vermelha, preta ou azul, conforme a tonalidade desejada para o texto) ficava perto do metal e recebia o toque dos tipos das letras. Assim, letras, palavras e frases ficavam definitivamente impressas no papel.

Essa máquina ficou guardada durante muito tempo dentro de um dos armários lá de casa, em uma igualmente maravilhosa mala dura, meio arredondada, com fechos metálicos. Isso até o dia em que a descobri. Abri os fechos, coloquei a máquina em cima de uma mesa baixinha e fui ver se a coisa ainda funcionava. A resposta era sim.

E era divertido não só porque a gente podia fazer as letras coloridas, mas também porque com uma mesa baixinha, uma cadeira idem e uma máquina de escrever velha, dava para brincar de redação de jornal (hum...). De escritora. Do que viesse à mente, com direito à crises de tormento: se o texto estivesse uma droga, era só pegar o papel, teatralmente fazer uma bolinha e jogar no lixo ao lado. Não me lembro de algum dia a lixeira ter ficado cheia. E, claro, por causa da minha idade reduzida, nunca consegui reproduzir o ambiente típico das redações de ambiente (com seus cinzeiros cheios de tocos de cigarro).

Eu me lembrei disso tudo hoje porque a Fernanda (http://heteronima.blogspot.com) me perguntou quando foi mesmo que eu tinha decidido abraçar essa profissão maluca. Acho que foi nesse momento, embora a idéia de criar uma publicação inteira me desse um bocado de preguiça. E foi também nessa conversa que ela resgatou do fundo do baú uma invenção tão preciosa quanto as máquinas de escrever Remington:

***** os gravadores Meu Primeiro Gradiente! ******

"Minha mãe me deu um desses e achou que eu fosse fazer de conta que era uma cantora, uma Xuxa, sei lá. Mas o brinquedo só tinha três músicas - uma do Trem da Alegria, eu me lembro - e eu enjoei delas no segundo dia!", contou. Foi aí que a pequenina Fernanda se deu conta de que poderia haver uma utilidade muito mais divertida para o novo presente - para quem não se lembra, ele era um gravador enorme, de plástico vermelho e amarelo, com um vistoso microfone de fio (wireless é que não podia ser) acoplado a ele.

Claro, essa utilidade era sair futucando a vida dos outros, e ainda por cima deixar tudo gravado. Era fazer perguntas do tipo: quem é você? Onde você mora? Me conta da sua vida... e por aí vai. Já naquela época, dá para notar o quanto a gente já achava o máximo ficar apontando gravador e microfone para as caras alheias.

Quer dizer, a Fernanda efetivamente fez isso. Depois que ela me contou essa história, fiquei babando, porque em algum momento tive uma vontadinha de ter um Meu Primeiro Gradiente, mas acho também que devo ter tido necessidades mais urgentes. Sei lá, naquela época devo ter encontrado uma boneca, livro ou roupa que me fizesse mais feliz (ou temporariamente aplacasse a minha vontade) do que um Meu Primeiro Gradiente. Ou simplesmente chegou um momento em que me esqueci da existência do tal brinquedo. Ou não...

... Talvez isso explique o porquê de eu, rapidamente, ter descoberto e me apossado dos poderes dos gravadores (de verdade) dos meus pais.

(A Remington provavelmente foi jogada fora na mudança para Brasília, porque nunca mais a vi nos nossos armários)

4 comentários:

Felipe disse...

Minha avó tinha uma máquina dessas também - eu lembrei direitinho quando você falou das fitas preta e vermelha - e eu também passava horas brincando lá. Achava o máximo aqueles impressos no papel, todos ajeitadinhos.

Jim disse...

Finalmente atualizei o meu blog :P
o seu está muito legal hehehe
abs

Alexandre disse...

Putz, meu pai também tinha uma dessas! Se bobear, tá em algum canto obscuro lá de casa até hoje...

Fe Velloso disse...

eu quero meu gradiente de voltaaa
obrigada pelo espaço livre de mershandising hehehe!