Dentista, viúvo e carinhoso, 55a., 1,75, 70kg, Lago Sul, procura mulh 30-50a p namoro soss. XXXX-XXXX.
SOU morena, olh. verdes, magrinha, mãe solt. e prec. de aj. para pag escolinha. YYYY-YYYY.
Pai Luís. Traga a pessoa am. de volta, derrube os inimigos, conquiste o $$$ que sempre sonhou! LIGAR som. interessados. Tenho FEITIÇO contra pessoas baixas, mal iluminadas espiritualmente, que insistem em passar trote. WWWW-WWWW.
Rica de dinheiro, carente de amor. VC é assim? Sou novinho, bonito e preciso de aj. financ. Podemos conversar e ++++++… Hugo. %%%%-%%%%.
Alessandra passou pelo anúncio de Hugo uma vez. Duas vezes. Três vezes. Comparou o número que havia nos classificados com o que estava armazenado no celular. O nome e o telefone eram os mesmos do jornal. E afundou ainda mais os dedos nos cabelos quando se lembrou do ex-estagiário com quem trabalhava lado a lado no marketing de uma multinacional com escritório de andar inteiro em Brasília.
Ficou entre o riso — pela cafonice óbvia do texto, coisa que adorava ver nos classificados — e um certo desconforto de saber que aquele menino bonitinho e discreto, que gostava de roupas descolex, tinha vindo do interior de São Paulo e lutava contra o próprio sotaque era dado a… um pedido de ajuda financeira via jornal. Entre os dois, havia rolado um ano de convivência sem grandes estresses. O guri era prestativo, mas longe de ser brilhante. Razoável. Bem relacionado. Tanto que ganhou uma festinha com torta Suflair e tudo — o que jamais era dado aos estagiários — quando anunciou que se desligaria da empresa em busca de novas oportunidades.
A moça olhou para a tela do celular e começou a mover o polegar de modo inquieto sobre o teclado. Queria ligar para Hugo, mas não tinha coragem. Para dizer o quê? Oi, Hugo, vi seu anúncio no jornal hoje, que legal, e tal? Nããããããão. Ela queria saber um monte de coisas, mas sem que isso significasse fazer perguntas diretas ao menino que, de vez em quando, topava andar na terra vermelha com ela, tomar o sol do meio-dia e encarar o bufê chinês do prédio de escritórios do outro lado da rua.
Interessava-lhe saber: ele saiu do escritório para tentar outra oportunidade na área e deu tudo errado? A vida de estagiário de marketing tinha ficado tão difícil assim? Ou a nova oportunidade já estava riscada nos classificados, entre um anúncio de pai-de-santo e outro de casal liberal?
Fechou o celular. Decidiu esperar até o dia seguinte e ligar do serviço. O telefone de lá era exibido como “particular” nas binas dos celulares.
Quando a segunda chegou e a reunião das 9h acabou, Alessandra ligou, tentando disfarçar a voz.
— Bom dia, esse é o celular do Ambrósio?
— Não.
— %%%%-%%%%?
— Não mesmo.
— Mas o Ambrósio me deu esse número.
— Deu errado. Esse é o celular do Hugo.
— Ambrósio fdp! Desculpe.
E desligou. Tirou o lenço que segurava os cabelos crespos e passou os dedos das duas mãos na cabeça.
— O Hugo é louco — pensou.
Continua amanhã.
3 comentários:
Esses Hugos com agá geralmente não prestam mesmo...
KKKKK Cada um que aparece nesses anúncios de jornais! hehehehe! Amanhã verei o desfecho deste caso!
hehehe
Visite o meu blog:
edelsonlopes-viverbrasilia.blogspot.com
Achei que eu era o único a acompanhar esses classificados. Adoro!
Um dia isso vai render um post, pois eu já fui fazer inclusive pesquisa de campo. ;)
bjo!
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