Eu sempre defendi que caqui é coisa que se compra no sinal de trânsito, não no supermercado. Ainda mais aqui em Brasília, onde os vendedores estão por toda parte entre fevereiro e abril. Perto da quadra da minha mãe. No caminho para o trabalho. No semáforo perto da academia.
Um colega perguntou há pouco tempo, em tom de brincadeira, se esse gosto teria a ver com os micróbios que fatalmente parariam na casca da fruta depois dela ficar tanto tempo exposta na rua. "Da mesma forma que a salmonella dá gosto ao churrasquinho de gato", ele comparou. A gente riu, e eu disse que a história era outra.
Caqui de supermercado normalmente fica naquelas geladeirinhas de frutas. Provavelmente vai para lá ainda verde. Quando sai da caixa, está duro como pedra. Demora um milhão de anos para amadurecer, o que frustra qualquer vontade. E, mesmo quando isso acontece, a fruta não mostra tudo o que tem de bom. Algumas partes não perdem a rigidez. Outras são adstringentes. Em síntese, uma droga. Os R$ 5,50 (contra R$ 5 do vendedor de rua) mais mal gastos do mundo.
O do sinal é diferente. Amadurece sob o misto de sol e névoa do cerrado e se transforma rapidamente numa coisa brilhante, quase sedosa. Se pega chuva, é mais bonito ainda. Quando a gente pega a caixa do vendedor, as frutas estão todas salpicadas de gotinhas. Uma coisa quase cênica, eu diria. Há bichinhos microscópicos na casca? É bem possível que sim. Mas nada que um litro de água com algumas gotinhas de cloro (e bastante água corrente depois) não resolvam.
Quando se parte a fruta ao meio, é melhor ainda. O recheio cede facinho à colher. É quase como degustar um doce incrível, só que sem as calorias e sem o peso na consciência. Eu poderia comer uns dois ou três de uma vez se isso não fosse causar uma festa do caqui na barriga (amo trocadilhos infames). Agora, comer dois por dia pode. Faço isso muito até a temporada acabar, porque sei que ela é curta. Depois de abril, só no ano seguinte, quando tudo começa de novo: a busca pela fruta mais perfeita, a vontade de se afogar nela e a saudade quando a colheita acaba.
Eu só não defendo mais os vendedores de rua porque fiz ontem a melhor das descobertas: caqui de mercadinho a R$ 1,99 (seis unidades), maduro e ainda embalado nessa bandeja superfotografável. O primeiro dela já era.
9 comentários:
Pior que caqui,só pequi!
Rodrigo, não apela.
Comparar caqui com pequi dá no mesmo que botar lado a lado céu e inferno, CK One com leite de rosas, Claude Troisgros com Mc Donalds. Beijomeliga.
Se bem que talco é 10 vezes pior que leite de rosas...
Que sacanagem com o Pequi! Uma coisa tão gostosa, tão maltratada neste blog.
Oba! Quero ver os adoradores (e os detratores) de caqui e pequi se revelando aqui (rimou, rsrsrsrs).
M.Jo, meu problema com o pequi é o cheiro...
bjo e bem-vinda!
Também gosto de caqui e concordo que os da rua são melhores que os do supermercado.
Mas quero estar viva quando a humanidade despertar para as fantásticas possibilidades gastronômicas do pequi e ele estiver à venda nas grandes delicatessens e
redes de supermercados. Se demorar, eu espero.
Sua descrição me deu desejo!
Vou para algum sinal aqui perto de casa atrás deles. A pé, pq não estou dirigindo...
bj, com saudade!
Marie-Jo: seu amor pelo pequi rende um post! :-)
Sílvio: o bom do caqui é que dá para comer com um braço/mão só... bjo e saudade, vê se não saracoteia demais no seu período de recuperação, hein? rsrsrsrsrsrs
pequi é muito bom!
ele não tem cheiro, tem fragrância!
descobri q muitos dos comentários sobre o pequi são preconceito puro.
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