segunda-feira, março 23, 2009

Vieram para confundir



De todas as imagens que dão sobrevida ao visual do concreto aparente de Brasília, esta (na 107 Norte) é uma das mais intrigantes. Não sei se é falta de referência da minha parte ou se a pintura é feita para confundir mesmo, mas não consigo dizer com clareza quem é quem. Pela posição e pelas cores, a personagem da esquerda pode ser budista ou hindu. O da direita me fez lembrar de João Cabral de Melo Neto e de João Guimarães Rosa. Me lembrei que o segundo aparece em mil fotos (tipo essa) de terno e chapeuzinho. Mas ele não é exatamente igual ao usado pelo indivíduo da direita.

Supondo que o cidadão seja de fato o Rosa, podemos passar para a segunda parte do mistério: o que os dois estão fazendo lado a lado?

Pensar que trata-se do autor de Grande Sertão: Veredas é melhor para mim, porque me permite especular com um pouco mais de propriedade (haha). O encontro de dois personagens tão diferentes levitando tão perto um do outro faz pensar em transcendência. Em misticismo, coisa que o velho Rosa levava a sério. E na frase "As pessoas não morrem, ficam encantadas", que o escritor tornou célebre ao tomar posse na Academia Brasileira de Letras, em 1967. Encantamento é uma boa definição para o que se passa entre a figura de amarelo e o homem de terno. Dá para pensar que cada um deles vive a experiência a seu modo. Como, no mais, todos nós fazemos.

Se tivesse que optar por só um modo de transcender, ficaria mil vezes ao lado do Rosa e das letras. Descobri cedo que meditação e yoga -- seja lá o que a personagem de amarelo está fazendo -- não são e nunca serão algo para mim. Não me peça para visualizar um feixe de luz azul voando sabe-se lá por onde, ou para executar qualquer sequência além da saudação ao sol. Tentei muito, tentei até demais, e me dei conta de que quanto mais meu espírito busca a luz, mais me agarro às coisas terrenas. Ao dever de casa que preciso terminar. À informação que preciso checar para uma matéria. À droga que é não conseguir jogar o ar lá para o diafragma enquanto o corpo faz 78 coisas ao mesmo tempo e treme para se segurar na posição.

Agora, sentir as portas da mente se abrirem diante de um texto fantástico é outra experiência. Troco mil aulas de yoga por um livro de Rubem Braga ou qualquer outro escritor bom. Quem faz negócio comigo?

Quero saber quem mais arrisca uma interpretação. Consigo pensar em mais uma, mas o tempo está curto para desenvolvê-la. Vou tentar mais tarde. Enquanto isso, aguardo (sentada, haha) os comentários.

2 comentários:

Anônimo disse...

Interpretação para a figura? Simples. As drogas fazem mal ao cerebro.
:)

Anônimo disse...

"nem tudo o que reluz é ouro"

um ser tão humano pode isntruir mente, espirito bem mais que aquele q se diz santo.

o santo leu um livro de, supostamente, Guimarães Rosa e foi contagiado pela luz literária instrutiva.

adoro.

vou pensar mais!