segunda-feira, abril 11, 2005

Educação pelo medo

Durante a semana passada, recebi a seguinte mensagem umas três vezes... Deixei-a igual à original, retirando somente os >>>, que ninguém merece:

Favor divulguem,
Aconteceu com a amiga de um colega daqui do Tribunal.....
Colegas, ontem uma amiga professora (direito economico da FGV e do IESB, advogada) foi à academia de tenis e, na volta (+ - 23:30), naquele retão que liga o setor de clubes à L4, havia um tronco impedindo a passagem dos carros.
Quando o marido dela parou o carro, a filha - no banco de trás - notou a chegada de dois bandidos com facões e gritou; o pai deu ré e conseguiu fugir (voltou à academia de tenis). Na academia, não havia a quem avisar (só tem o porteiro, que não tem telefone) e a PM demorou 30 min. para chegar.
A PM informou que no minimo três carros foram assaltados (com bandidos armados de pistolas e revolveres) e não havia muito o que fazer, pois a bandidagem corre para a favela que se criou ali do lado (notem ao lado da academia) e abordam carros naquele retão.

Fiquei intrigada com a informação. Dei uma procurada no Correioweb, no Google, nas edições de cidades e... nada. Ninguém confirmou. Nem a polícia.

Na prática, a história cheira a lenda urbana daquelas que prosperam. A começar pela data (superprecisa) em que o crime teria acontecido: "ontem". Nem 31 de fevereiro, nem 1º de abril. Nem sábado, nem domingo, os dias mais cheios de movimento no local. Simplesmente "ontem".

Além disso, COMO ASSIM não tinha ninguém para avisar na Academia de Tênis? O lugar é cheio de restaurantes, de cinemas (quase sempre com muita gente, independentemente do dia), de orelhões e de celulares das gentes que circulam por lá.

Diante de circunstâncias tão estapafúrdias, resta perguntar: a quem interessa divulgar esse tipo de história? Do jeito que a coisa está, mais parece um libelo para que o Marco Farani (ou o Roriz, ou o bispo, sei lá) mande detonar logo aquela invasão que efetivamente se formou ao lado da academia.

Aliás, prefiro não me manifestar a respeito sobre derrubada ou não derrubada de invasões, mas bem que seria ótimo se os flanelinhas dali (e os de todo o universo) desaparecessem com a ajuda de um pó de pirlimpimpim.

Na falta de alguém que assuma mais claramente a intenção de derrubar a minifavela, inventa-se uma historinha dessas que metem, na classe média e na elite, muito mais medo e ódio do que o que já existe. Afinal, é muito mais fácil, não?

E é assim, e com a preciosa ajuda da inocência de alguns, que as lendas da internet continuam correndo, firmes e fortes.

Um comentário:

Felipe disse...

Acho que não é mentira não. Pelo menos me falaram que conheciam a mulher. E o e-mail que eu recebi era beeeeeeem mais detalhado. Sei lá, eu não sou de acreditar em bobagem de internet. Mas é teoria da conspiração demais acreditar que inventariam isso pra justificar a derrubada da favela. Até porque não precisa de justificativa nenhuma pra tirar o povo de lá. Tecnicamente, eles tão ilegais e tirá-los sem precisar de uma história como essa não seria nenhuma atitude impopular. Acho isso. Beijos