sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Grace

Inspirado em uma história de verdade. Na falta de uma imagem melhor, fico com essa, do Museu do Azulejo, em Portugal.


Dizem que o reloginho que avisa à mulher sobre o momento ideal de engravidar toca três vezes. A primeira, aos 25. A segunda, aos 30. A última, aos 35. O meu tocou bem forte nas três vezes, mas em nenhuma delas eu estava com alguém legal o suficiente para ser pai do meu filho, o que é uma pena. E aí eu me vi aos 47 anos ainda menstruando, o corpo avisando que o tempo estava para chegar ao fim e fiquei numa dúvida grande sobre o que fazer. Eu não queria passar por essa vida sem saber que tipo de mãe eu seria, mas também achava deprimente demais fazer uma inseminação artificial ou algo do tipo. Foi aí que resolvi tentar a adoção.


Fui de coração aberto, disposta a ficar com quem aparecesse. Não precisava ser bebê, nem menina, nem branca. Para parecer mais comigo, achei até melhor informar na ficha que preferia uma criança morena ou negra. E foi aí que começaram as minhas dificuldades. Passei a ouvir demais que a minha vontade era muito complicada, que a burocracia era isso, aquilo e aquilo outro, que era impossível entender por que diabos eu não queria uma bebê, menina e branca. Foi uma época de muita angústia. Várias pessoas acompanharam essa história porque eu, indignada, contava para todo o mundo. Você já percebeu que eu falo muito e ainda gosto de fazer um drama, né?


Até que um dia a minha mãe me avisou: um amigo havia dito para ela que conhecia uma moça que estava grávida, mas não queria ficar com o filho. Pensei: é agora. Assim que pude, fui conhecer a tal mulher – praticamente uma menina. Vivia em Taguatinga, numa área próxima ao Chaparral e era viúva de um rapaz morto por traficantes. Estava muito a fim de ir embora de Brasília com os pais e abriu mão totalmente da criança. Me avisou que não precisava de fotos, de cartinhas, de nada. Só de alguém que pudesse dar esse alívio para ela. Estranhamente, fiquei aliviada também.

Quando o Bernardo nasceu, dia 16 de maio de 2002, a mãe não quis nem saber de amamentação nem de banho. Fui eu que dei o primeiro banho nele. Botei a primeira roupa, um macacão vermelho que comprei em Goiânia. Meu bebê era a coisa mais gostosa do mundo. Mas, no que fui levá-lo para fazer a certidão de nascimento, meus problemas começaram de novo. Não queriam que ele ficasse comigo, sabe? Disseram que o certo, já que a mãe não o quis, era entregá-lo para o Estado e aí esperar para saber se eu realmente o adotaria de vez. Bati tanta boca, me estressei tanto, chorei igual a uma louca, tive gastrite, foi uma merda.

Aí, pensei: trabalho com o deputado há quatro mandatos seguidos e nunca pedi um alfinete sequer para o homem. Não é possível que ele não soubesse de uma forma para me ajudar.


Continua amanhã, galera.

4 comentários:

Mayra disse...

aaaaaaaaaaaaaaaahhhhh!
sacanagem, é o nome disso. sacanagem.

Anônimo disse...

Esperar até amanhã para saber o final da história? E o pior é que eu não sou muito boa nisso...

Mari Ceratti disse...

Gente, a continuação da história já está programada para ir ao ar amanhã, às 10h.
Aguardemmmmmmmmmmmmmmm! :-D

Anônimo disse...

no começo, lembrei do filme Juno.

ah, o blog da colega: www.entretantas-eu.blogspot.com