Queridos leitores, segue abaixo a continuação de Sete semanas, que comecei a escrever no post abaixo. Beijos.
Nas semanas seguintes, o mau humor fez menção de ir embora. Primeiro, a carta que Julinho mandou de Belo Horizonte apareceu na caixa de correspondência. Falava dos bailes aonde Maria Rosa teria adorado ir, das primeiras aulas no curso de farmácia e, mais importante, das condições de saúde da tia, que haviam se tornado ruins nos últimos tempos. A garota sorriu e mordeu os lábios de satisfação ao imaginar que poderia retomar os sonhos de casamento e fuga com o jovem tão logo a velha batesse as botas.
Depois, surgiram as primeiras flores das roseiras do jardim.
Finalmente, a mãe e a avó apareceram na casa, junto com o motorista e o médico da família — que veio saber da evolução da gravidez e descansar por uns dias. Pelo menos agora, Maria Rosa teria mais gente com quem conversar sobre assuntos que não fossem somente o tempo e as coisas da casa. Também teria renovado o estoque de revistas, livros e discos.
Por meio de vó Constança, a garota soube que o pai continuava raivoso. E que os irmãos menores perguntavam por ela um dia sim e o outro também. Queriam saber por que eles, que também estavam na escola, não podiam tirar férias grandes como as da irmã.
Algumas noites depois, a casa foi acordada com um grito. Mãe, avó, médico e empregada se levantaram correndo para ver o que tinha acontecido no quarto da moça. Encontraram-na se debatendo na cama, parecendo ter um começo de convulsão e uma dor ancestral.
O doutor fez exames para saber se seria necessário, àquela hora da madrugada, pegar o carro e seguir para o hospital mais próximo dali — ideia que assustava dona Carolina. O estranho é que, aparentemente, nada de errado havia acontecido. O feto estava onde deveria estar. Tampouco havia sangue nas roupas e nos lençóis. O jeito foi administrar alguns analgésicos.
Dois dias depois, dona Carolina quis saber se o ataque da filha havia sido uma invenção.
— A dor que eu senti foi real. Não teria por que criar algo tão grave — retrucou a moça.
Por via das dúvidas, o médico receitou repouso durante o máximo de tempo possível nos meses finais da gravidez. E foi aí que jovem nunca mais teve paz.
Deitada durante quase todo o tempo, Maria Rosa desenvolveu olheiras. De tão irritada, passou a comer por pura questão de sobrevivência. Parou de conversar também: lia e relia revistas e livros até que as bordas do papel começassem a desgastar. Escrevia cartas incompletas de amor, que eram enviadas a Julinho do jeito que estivessem.
Dalva, a empregada, achou prudente afastar da moça as agulhas de costura.
Quando a mãe, a avó e o médico voltavam a Corumbá para ver como a saúde estava e trazer-lhe o enxoval da futura criança, as coisas melhoravam um pouco. Mas a falta de apetite e a solidão acompanharam Maria Rosa até a data do nascimento do bebê.
Paulo nasceu num fim de tarde de um dia quente e abafado. O parto foi rápido, sem muito choro por parte de mãe e filho. Na superfície, o bebê parecia bem. Sinais vitais normais, pele sem manchas. O cabelo era espesso para um recém-nascido.
Paulo foi entregue a Maria Rosa. Ela tomou-o nos braços e começou a acariciar seus cabelos com os dedos. Mexia nos fios como se quisesse achar entre eles o amor que deveria sentir pelo filho.
Ao invés disso, encontrou duas pequenas protuberâncias pontudas. Mas não quis dizer a ninguém.
Naquela noite, depois que todos já haviam ido dormir, pegou uma tesoura e delicadamente cortou os cabelos do bebê. E verificou o que já desconfiara: eram chifres.
Continua: parte 1, parte 3.
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