Todos os dias, quando dá 17h45, Taciana e o segurança do prédio público onde ela trabalha como recepcionista fecham a entrada para os visitantes que chegam.
Às 17h50, ela para de atender o telefone.
Às 17h55, desliga o computador.
Às 17h57, vai ao banheiro fazer xixi, lavar as mãos, trocar de roupa e passar batom.
Às 18h, sai do trabalho, pega o ônibus e vai lépida e fagueira para a faculdade.
Hoje, como era sexta-feira de carnaval e quase ninguém trabalhou, também resolveram liberar recepcionistas, seguranças e copeiros mais cedo. Aí, o ritual de Taciana mudou um pouco.
Às 15h30, fecharam a entrada para o público. Ninguém vai lá na sexta-feira de carnaval mesmo.
Às 15h40, ela decidiu que não iria mais atender ao telefone. Nem precisava: ninguém ligou mais.
Às 15h43, ela foi ouvir piadas novas contadas pelos meninos da copa do térreo. Saiu de lá com um Sonho de Valsa que sobrou do lanche dos estagiários.
Às 15h52, voltou para desligar o computador. Demorou tanto para isso acontecer que Taciana chegou a pensar que a máquina estivesse de sabotagem com ela.
Às 15h58, foi ao banheiro trocar de roupa e dar aquela enrolada básica.
Às 16h, pegou a bolsa e saiu caminhando pela calçada feita de pedra portuguesa e cheia de falhas. Os saltinhos faziam toc-toc-toc-toc de tanta felicidade. Tinha saído mais cedo e nem ia precisar ir para a faculdade. Quando o carnaval chega, ninguém quer saber de assistir aula.
Pegou o primeiro ônibus rumo à rodoviária do Plano Piloto.
Quando chegou lá, entrou na fila do ônibus que a levaria para casa, abriu a bolsa e pegou o vale-transporte, o tocador de MP3 e o Sonho de Valsa.
Sentou-se em uma das cadeiras mais altas do ônibus, as suas preferidas. Abriu o bombom, colocou os fones de ouvido, encostou a cabeça na janela e deu uma banana mental para o mundo — afinal, é carnaval. Seguiu sonhando até Taguatinga.
Taciana não pula em blocos. Não é madrinha de bateria. Na verdade, nem gosta da festa em si. Mas adora a doce sensação de inutilidade coletiva que toma conta do país quando o carnaval chega. Ela sabe: até a quarta-feira chegar, a vida vai ser outra história.
Nenhum comentário:
Postar um comentário