terça-feira, janeiro 06, 2009

Fado de jeans e blusinha



Eu tanto li sobre a fadista Carmo Rebelo de Andrade antes de ir a Lisboa que, quando vi uma notinha sobre uma apresentação marcada naquele dia (uma quarta-feira) no restaurante Mesa de Frades, nem tive dúvidas: decidi que aquele seria o meu programa daquela noite. Peguei o maridão pela mão e fui para a Alfama, o bairro mais conhecido pelas casas de fado. O lugar era pequenino, uma graça, e cobrava couvert artístico dentro da média dos bares da região (normalmente, entre 15 e 20 euros; é meio caro para nós, brazucas, mas eu prefiro gastar nisso a comprar souvenirs bobos, por exemplo). Minha pergunta era só a seguinte: sendo chiquito daquele jeito, onde o Mesa ia acomodar a cantora e o grupo instrumental que ia dividir a apresentação com ela?

A gente demorou um pouco a saber a resposta. Deu o horário marcado para a apresentação, 22h. Passaram-se um, dois, cinco, 10, 15, 20, 25 minutos, e nada do negócio começar. Meia hora depois, as portas do lugar foram fechadas e a artista saiu do fundo do restaurante — onde estava com uma galera — para cantar sem microfone em meio às mesas. Nada de coque nem do xale tradicional das fadistas das outras casas. Carminho, como é mais conhecida, chegou de cabelos soltos, calça jeans e blusinha branca. Ela me conquistou mais ou menos pelo mesmo motivo pelo qual acho que vem encantando os que prestam atenção nesse gênero musical. Apesar de nova pra caramba (tem 23 anos, acho), canta intensamente um repertório com letras que falam em paixões dramáticas, abandonos idem e muuuuuuitas lágrimas. É algo que não combina muito com essa nossa geração de afetos cada vez mais fugazes. E, ao mesmo tempo, um descompasso muito legal. :-)

Não sei se o show era meio que para amigos dos músicos (apesar de estar anunciado em jornais, revistas e tal), porque o clima de brodagem era forte. E não necessariamente isso é uma coisa boa. A fadista cantou umas três músicas, voltou para o fundo do restaurante para ficar com a galera e, aí, começou a tocar o grupo instrumental também anunciado para a noite. Desculpem, esqueci o nome. A banda tocou, tocou, tocou e nada da menina voltar. E, quando voltou, apresentou mais umas três composições e não saiu mais da mesa dos brothers! A idéia de pagar 20 euros de couvert por um show assim começou a me dar comichão.

Os instrumentistas encerraram o show. Seria injusta se não dissesse que eles também foram muito bons — mas, pelo que entendi, a atração principal era a cantora.

Acabou a apresentação, aplaudimos, terminamos o vinho (também não me lembro o nome), etc. Chega a hora de pedir a factura. :-) Abrimos a carteirinha de couro cheiroso lentamente, como que para adiar o momento de pagar por aquela mistura de momentos legais com roubadas. Ai, caceta. 20 euros por cabeça.

E… surpresa! Não sei se alguém leu o meu pensamento, se o lugar é uma bagunça, se fomos automaticamente incorporados à ação brodagem de Carminho ou o quê, mas o facto (ops, fato, hehe) é que só foi cobrado o vinho. O melhor é que nem foram muitos euros. Yes!

Deu até para me apaixonar de novo pelo Mesa, pela Carmo e pelo fado.


MESA DE FRADES
Rua dos Remédios, 139-A, Alfama. Reservas: 91-702-94-36. Como o site do lugar ainda é meio capenga (só tem endereço e telefone), recomendo conferir na Time Out Lisboa se Carminho & cia. ainda cantam por lá às segundas e quartas-feiras.

CARMINHO
Esta fã de música brasileira ainda não tem nenhum disco gravado. Mas há um monte de vídeos no YouTube para quem quiser conhecê-la melhor.

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