sexta-feira, janeiro 30, 2009

Pedaços de apuração

No Pedaços de Apuração, pretendo mostrar as histórias que não saíram na reportagem por total falta de espaço. Hoje, apresento o depoimento de Acácio Costa Calil, mineiro, professor de geografia da rede pública do Distrito Federal e sócio – junto com a irmã, Lucimar – do Pamonhão Kalú (assim mesmo, com acento). O misto de restaurante e lanchonete, que nasceu para ser especializado em produtos de milho, é um dos poucos de Brasília que conseguem se manter há mais de 30 anos. Detalhe para quem não veio aqui ainda: fundada há 48 anos e nove meses, a cidade tem um mercado gastronômico volátil, em que muitos lugares abrem e fecham em pouco tempo.

Descobri a coxinha de milho produzida lá durante a pesquisa para uma reportagem publicada nesta sexta-feira. Custa R$ 2,50 e vem quentinha. Tem recheio farto, com milho comum (e não o de lata, que tem sabor totalmente diferente), um pouco de frango desfiado e cebolinha numa quantidade mínima (nem precisei catá-la, hehe). O sabor surpreende porque o tempero é feito para valorizar o grão. Sei, no entanto, que muita gente vai resistir a experimentar por conta da atmosfera da casa. Digamos que o Kalú não é exatamente um lugar para levar um gato ou uma gata num primeiro encontro. Digo mais: a dupla de irmãos se beneficiaria tremendamente se pusesse tudo abaixo e fizesse um lugar moderninho e descolex especializado em coxinhas de milho.

A história contada pelo Acácio é bacana porque revela um pouco o que era viver em Brasília e no Brasil nos anos 1970, época de fundação do restaurante.
Se o Edilson me mandar fotos do salgado, eu ponho no ar mais tarde.

“A coxinha de milho é uma receita que minha mãe, Luzia - que infelizmente não vive mais - criou em fevereiro de 1973. Naquele tempo, Brasília quase não tinha opções de lazer. Primeiro, havia o Conjunto Nacional, que era exclusivamente para fazer compras. Aliás, o Conjunto, que hoje é enorme, teve três fases de expansão. Além dele, havia o Gilberto Salomão, o Beirute, o Pamonhão, o Food’s - também na 110 Sul – e só.

Nosso cardápio tinha pamonha, curau e milho cozido. Depois, minha mãe pensou em fazer coxinha, um petisco servido em todos os bares. E pensou: ‘Minha especialidade não é milho? Então, vou botar milho na coxinha’. No primeiro dia, ela não vendeu nenhuma. Meu pai, libanês criado em Minas, brigou tanto com ela... Dizia: ‘Desde quando milho tem coxa?’.
Mas dona Luzia, que era goiana e conheceu meu pai em Minas, era persistente. No segundo dia, ela fritou um monte e resolveu que ia distribuir para quem fosse lá comprar outras coisas. As pessoas começaram a achar gostoso e a comprar.

A massa é a tradicional de coxinha, não muito grossa, e o recheio tem milho, frango e cebolinha. Nunca mexemos na receita. Quem comeu há 20, 30 anos, e experimentar hoje vai sentir o mesmo sabor. E o preço sempre variou entre US$ 1 e US$ 1,20. Cotamos assim, em dólar, porque quando meus pais montaram a loja a inflação era muito alta e a moeda mudava a toda hora.

O milho vem de Nerópolis, em Goiás, de uma fazenda de produção irrigada que fornece só para nós durante o ano inteiro, inclusive na entressafra. O curioso é que, quando o Pamonhão começou, era difícil ter milho o ano inteiro, porque a produção irrigada só se popularizou lá pelo fim dos anos 70 e nos anos 80. Antes disso, quando chegava junho, julho ou agosto, a gente tinha de fechar por pura falta de milho e dar férias coletivas. Uma vez, em 1974, ficamos 30 ou 40 dias sem. Foi por isso que resolvemos diversificar o cardápio.

Na época, o Pamonhão ficava na 110 Sul, em frente ao Beirute, e era um point de fim de noite. Só fechava junto com o Beirute – se ele quisesse fechar às seis da manhã, a gente agüentava até lá. E muita gente da música de Brasília passou por aqui. O Digão, dos Raimundos, adorava a coxinha; os meninos do Capital Inicial vinham também, assim como o Oswaldo Montenegro. Aliás, há muitos anos que o Montenegro me deve uma conta”.

PAMONHÃO KALÚ
105 Norte, Bloco D, Loja 3; 3273-7967. De terça a domingo, das 11h30 às 23h.

4 comentários:

Anônimo disse...

Hum...deve ser bom mesmo. Estou adorando essas dicas, Mari.

Mari Ceratti disse...

Lorena,
Passa lá no fim de semana e depois me diz se gostou!
Bjo!

Anônimo disse...

Ihhh... Mari, ainda não pude saborear as delícias do Pamonhão Kalú, por enquanto estou só no desejo mesmo. Mas não faltará oportunidade.

Anônimo disse...

Realmente essa coxinha é fantástica! Só de pensar me da água na boca!