sexta-feira, janeiro 16, 2009

Observação entomológica número 1


Duas fotos que tirei lá em casa num dia de bobeira me fizeram pensar (num momento de mais bobeira ainda, é claro) sobre quem teria a existência mais dramática: os insetos que voam em volta das lâmpadas ou a cigarra da fábula de La Fontaine. Não sei de quem sinto mais pena.
A cigarra, como o autor faz questão de deixar claro, é uma louca irresponsável que, depois de não guardar comida para o inverno, ainda se humilha diante da formiga e definha aos poucos, até morrer. Já os bichinhos não precisam pensar em estoque. Devem se abastecer com micróbios coletados em qualquer lugar.

Os insetos da luz passam por um processo de auto-destruição que me faz lembrar de todos os casos de pessoas que já se acabaram em raves porque o ecstasy não bateu bem. Pelo menos na minha casa, eles vivem uma noite só. Chegam, voam, voam e voam desesperadamente, da mesma forma que alguém tomado pela droga dança, dança, dança e surta de calor. Na manhã seguinte, os insetos (assim como os que sucumbem aos comprimidinhos) estão estatelados no chão, murchos da silva, completamente ferrados, com as asas ressecadas pelo sol. Ao menos, morreram fazendo o que sabiam, e não pedindo clemência — é o que gosto de pensar.

Esteticamente falando, os voadores da lâmpada não só não causam nenhum asco como são muito mais legais. Eu não tinha a menor noção disso até o dia em que encontrei o espécime da foto, com umas manchas brancas incríveis na parte de baixo. Aproveitei que ele já estava morto mesmo e fiquei horas reparando nele. Só senti falta de um microscópio.

Depois dessa observação, pensei, medi, pesei. Contra si, os insetos da lâmpada apresentam apenas o fato de não terem um nome específico para eles. Naveguei no Google usando todas as palavras-chave que pude e não encontrei um link sequer capaz de me dizer que espécie é essa. Várias pessoas que conheço chamam-nas de bruxinhas, mas eu quero um nome apropriado, científico, pô. A cigarra da ficção até tem nome, mas sua feiúra e seu lento fim são incomparavelmente trágicos. Ô, vidinha mais fdp.

Um comentário:

Anônimo disse...

Hehehe...Nesta fábula nunca consegui acompanhar a moral da história. Muito pelo contrário, a formiga sempre me pareceu muito vilã. Tudo bem, não exigiria que a formiga promovesse a reforma agrária em suas terrras só para dar abrigo à cigarra, mas precisava ser tão egoísta, mesquinha e avarenta?